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Sinopse

Quentin e sua vizinha Margo passam uma noite de aventuras pela cidade. Ela desaparece e deixa pistas a serem desvendadas por ele. Para ter sucesso em sua missão, Quentin vai ter de encontrar o significado do amor.

Crítica

Segundo o escritor John Green, uma cidade de papel é uma definição geográfica de um lugar que existe apenas no mapa, mas não na realidade. Tal elemento é utilizado como recurso por cartógrafos ou geógrafos quando querem delimitar um espaço para evitar invasões ou luta por direitos autorais. Mas essa mesma expressão pode ser usada para algo falso, inexistente, que até parece ser concreto, mas é nada mais do que uma ilusão. Esse sentimento tanto está no interior dos protagonistas de Cidades de Papel, segundo romance do autor a ganhar as telas, como também em sua própria obra, que parece estar repleta de significados e profundidade, mas não consegue resistir a qualquer análise mais rígida e detalhada.

Cidades de Papel é o tipo de filme em que, quando a garota diz para o rapaz “vamos ali que lhe pago um drink”, os dois se encaminham a uma lanchonete para tomar um milk-shake. Ou quando os heróis decidem cantar uma canção para recuperar suas forças e energias, a primeira que lhes vem à mente é a trilha sonora de Pokémon. Estes dois exemplos – retirados do próprio longa – falam com um público bastante específico, muito próximo da própria faixa etária dos personagens em cena – ou seja, adolescentes sem experiência de vida. Todos nós – aqueles que já passaram por essa idade, ao menos – sabemos que este é um período em que cada decisão, novidade ou mudança parece ser radical, extrema ou inevitável. Com o passar dos anos, no entanto, aprendemos que nem sempre as coisas são como se apresentam num primeiro instante. E esse alarmismo, tão característico da adolescência, está presente por quase todo o filme.

Quentin (Nat Wolff, que de coadjuvante em A Culpa é das Estrelas, 2014 – primeiro romance do autor adaptado para o cinema – assume agora a posição de protagonista com razoável desenvoltura) é o menino da casa ao lado (ou da frente) a quem ninguém percebe, mas que está sempre lá a espera de ser notado. É o que acontece quando Margo (Cara Delevingne, que como atriz continua sendo uma ótima top model) se muda para a mesma rua e o escolhe como melhor amigo. Os dois passam o tempo todo juntos quando crianças, até que crescem e, naturalmente, acabam se afastando. A ponto de, ao cruzarem pelos corredores do colégio, nem mais se cumprimentam. Mas tudo muda quando certa noite ela bate em sua janela, o chamando para mais uma aventura. A história, no entanto, começa mesmo é no dia seguinte, quando ela some e ele percebe estar apaixonado. E por isso dará início a uma “caça ao tesouro” para descobrir o paradeiro da garota e ir até o seu encontro.

O citado A Culpa é das Estrelas foi um impressionante sucesso de bilheteria – foi o filme mais visto no Brasil no ano passado, por exemplo, e arrecadou mais de US$ 300 milhões em todo o mundo – e há uma expectativa por algo no mesmo nível com Cidades do Papel. No entanto, o que mais aproxima um filme do outro é a presença de Ansel Elgort – o rapaz que atingiu o estrelato no primeiro, aparece no segundo em uma rápida participação especial. Afinal, naquele tínhamos uma legítima história de amor entre dois jovens doentes, muito próximos da morte, e que realmente precisavam aproveitar cada momento como se fosse o último. Agora só temos um menino que acredita ter encontrado a garota do seus sonhos – até porque foi a primeira a se dar conta da existência dele – e uma moça que não se preocupa com (quase) ninguém além do próprio umbigo, mais interessada na jornada que tem pela frente do que naqueles que deixa para trás.

Menos um romance e mais um conto de amadurecimento, Cidades de Papel ganha pontos quando se concentra na relação entre os amigos que saem juntos em busca da colega desaparecida e menos quando força a ligação amorosa entre os personagens principais, que pouco parecem ter a dizer um ao outro no final das contas. Outros elementos, como a trilha sonora incessante que constantemente tenta orientar as reações da plateia e um texto que volta e meia resvala do melodrama barato, contribuem em apresentar como resultado um filme tão marcante quanto qualquer outro acontecimento do cotidiano de um adolescente típico: parece ser grande coisa, mas na verdade é tão esquecível que não deve permanecer na memória nem até a próxima estação.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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