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Sinopse

Morando com sua madrasta e as duas filhas dela, Cinderela é tratada como empregada. Mas, tudo muda quando ela é visitada pela Fada-Madrinha e recebe a dádiva de se transformar em princesa durante uma noite especial.

Crítica

Todo mundo sabe como funciona a história da gata borralheira. Após a morte do pai, ela é feita de empregada pela madrasta e suas duas meias-irmãs feias. Quando surge a oportunidade de um baile para conhecer o príncipe do reino, ela é surpreendida com o presente de uma fada madrinha. Porém, Cinderela só pode aproveitar a festa até a meia-noite, o príncipe se apaixona por ela, que perde o sapatinho de cristal, e o final feliz não demora a acontecer. Como a maioria das fábulas, há pouco texto no material original e poderia render um simples curta-metragem. Porém, lá em 1950, Walt Disney tomou o conto de fadas em mãos e realizou um dos clássicos mais inesquecíveis do estúdio até hoje.

Para ajudar a contextualizar a história da garota que queria uma vida melhor, foram inseridos diversos elementos mágicos. Sem amigos humanos, a protagonista tem empatia apenas com os bichinhos ao seu redor: pássaros, cavalos, cachorro, gato e, é claro, os ratinhos. São eles que ajudam a confeccionar um vestido rosa quando o tal baile da realeza é anunciado. É claro que a Madrasta não deixa por menos quando descobre que a vestimenta da moça tem tecidos e joias velhas de suas filhas, causando um desastre na hora da partida. Por sinal, há poucas vilãs tão maquiavélicas quanto a Madrasta de Cinderela, o que realmente traz uma conotação negativa para o termo. Ao contrário da Rainha Má e de Malevóla, por exemplo, ela não tem poderes. Ela se apoia em sua ganância, egoísmo e falsidade para conseguir o que quer, seja deixando a gata borralheira em um nível inferior em relação a suas filhas (afinal, como comparar a beleza e bondade dela com dois seres tão desprezíveis quanto Drizella e Anastasia?) ou armando tudo para evitar que a mesma prove o sapatinho de Cristal. Como esquecer (e não temer) seu semblante de ódio quando descobre que Cinderela está esfuziante pelo príncipe e, ainda por cima, tem o restante do par do sapatinho?

A protagonista, por mais boba que possa parecer em sua concepção, é recheada de ironia debaixo de sua beleza e meiguice. De forma delicada, ela sabe como responder à Madrasta e suas chatas e burras meias-irmãs, deixando de lado todo o rancor existente, mas sem ser subserviente a todo e qualquer discurso. Muitos podem criticar que ela “precisa de um homem” para sair de sua miséria, mas na verdade o amor é só um gatilho para a garota, que por cuidar da casa e trabalhar desde pequena já tem uma independência muito maior que a maioria das meninas de sua idade na época. Seriam ecos (ainda que sutis) de um feminismo que viria a explodir anos depois no mundo? Afinal, Cinderela não é Amélia. Outro ponto inesquecível é a trilha sonora do filme. Tanto na versão original quanto na dublagem em português, os momentos musicais de Cinderela são acompanhados da bela voz emprestada à protagonista em clássicos como A Dream is a Wish Your Heart Makes, Oh, Sing Sweet Nightingale e So This Is Love. Os outros personagens também tem seus momentos, especialmente os ratinhos na divertíssima sequência The Work Song, quando confeccionam o vestido, além, é claro, de Bibbidi-Bobbidi-Boo, o ápice do longa com a participação da Fada Madrinha.

Cinderela foi um alívio para a Disney no início daquela década, já que o estúdio andava mal das pernas produzindo apenas filmes para o exército na época da guerra. O sucesso de público veio acompanhado dos louros da crítica. O filme foi indicado a dois Oscar (Melhor Canção por Bibbidi-Bobbidi-Boo e Melhor Trilha Sonora), ao Urso de Ouro no Festival de Berlim em 1960 e, em 1951, no mesmo festival, venceu na categoria de melhor musical e recebeu o Prêmio da Audiência, além de ter ganhado o Prêmio Especial e ter sido indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza. Reconhecimentos merecidos para uma produção que poderia ser apenas um “filme de menina”, como muitos adoram clamar, mas que é um clássico absoluto recheado de magia, diversão e momentos inesquecíveis. É de ver e rever diversas vezes, sem nunca cansar.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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