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Sinopse

Cintia Dorella é uma adolescente que descobre uma traição no casamento dos pais. Descrente no amor, vai morar na casa da tia e passa a trabalhar como DJ, se tornando a Cinderela Pop. Mas não esperava que um príncipe encantado pudesse se apaixonar por ela.

Crítica

Baseado no best-seller homônimo de Paula Pimenta, Cinderela Pop, como o título antecipa, é uma releitura da clássica história da Gata Borralheira. Todavia, ao invés de uma princesa ávida por encontrar o seu príncipe encantado, há Cíntia (Maísa Silva), jovem traumatizada pela infidelidade paterna, então descrente quanto ao amor. Ao contrário das amigas que suspiram pelo cantor romântico Freddy Prince (Filipe Bragança), ela é determinada a estudar e se aperfeiçoar como DJ, ou seja, prioriza a carreira como se qualquer envolvimento afetuoso, inexoravelmente, a levasse a uma perda de rumo. O grande trunfo do longa-metragem dirigido por Bruno Garotti é justamente esse alinhamento com uma dimensão menos idealizada dos romances. Todavia, até essa característica acaba sucumbindo circunstancialmente aos discursos melosos de pares apaixonados, aos exemplos não apenas positivos, mas estruturados a partir de projeções e de uma boa dose de inocência.

Destinado a um público jovem, Cinderela Pop, oferece um espetáculo visual atrativo, com cenários elaborados e figurinos que estabelecem pontes entre a pompa do mundo almejado por Cinderela e o colorido vibrante das pistas em que Cíntia intenta brilhar. Fernanda Paes Leme interpreta Patrícia, a madrasta maldosa que, conforme a original, faz de tudo para garantir sua posição, aqui ao lado do ricaço conquistado com boas doses de ousadia e trapaça. Seus planos incluem atrapalhar possíveis êxitos da protagonista. Embora a pegada deliberadamente caricatural do núcleo formado, ainda, pelas gêmeas Graziele (Letícia Faria Pedro) e Gisele (Kiria Malheiros) seja uma sacada curiosa, ela é inabilmente explorada, a ponto de eclipsar personagens próximos, vide César (Marcelo Valle) – que, em momento nenhum tem substância para ser além de um pau-mandado cheio de dinheiro –, e de “roubar” o filme, assim se encarregando de empalidecer a saga principal.

Em diversos episódios, ao invés de contrapor maleficamente Cíntia, Patrícia assume canhestramente a dianteira da produção, ganhando generoso espaço para expressar seus ardis. Maísa Silva exibe o carisma de sempre, mas acaba presa numa figura limitada, não desenvolvida de acordo com suas várias potencialidades. A aversão por relacionamentos é obliterada quando a menina encontra um amor possível, assim que o príncipe por ela ignorado demonstra interesse. Especificamente, esse enamoramento instantâneo soa um pouco forçado, especialmente dentro de uma trama na qual se discute frequentemente a necessidade da valorização das aspirações individuais. O discurso da protagonista, portanto, ainda que obviamente exagerado em virtude das nódoas ocasionadas pela separação dos genitores, entra em colapso quando ela encontra um pretendente. Essa alteração de comportamento soa desajeitada na telona, perdendo nuances em favor de uma leitura fácil.

Cinderela Pop, no que tange à temática da necessidade feminina por independência, é melhor resolvido em Lara (Bárbara Maia), ostensivamente esnobada pelo crush de outrora. Ela nutre falsas esperanças de namoro. Mesmo periférica, a curva de aprendizado dessa coadjuvante é mais condizente com a mensagem de celebração do amor próprio, central nessa versão contemporânea de uma das histórias românticas mais conhecidas. Filipe Bragança segura a contento a missão de criar um príncipe cunhado no YouTube, sempre auxiliado por sua amiga, Belinha (Giovanna Grigio), que adiante também desempenha papel importante para que certa menina descubra a imprescindibilidade de gostar de si mesma, isso acima de qualquer coisa. No quesito atualização, a produção sai-se relativamente bem, principalmente levando em consideração o público-alvo, mas fica devendo nas filigranas, sucumbindo recorrentemente à tentação de valorizar as caricaturas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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