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Sinopse

A chegada da TV no interior do Ceará, na década de 1970, colocou em xeque as salas de cinema das pequenas cidades. Mas um herói, chamado Francisgleydisson, resolveu lutar para manter viva sua paixão pela 7ª arte. Suas armas: criatividade e o bom humor cearense.

Crítica

Francisgleydisson tem um sonho: trabalhar com cinema. Mas ele não quer ser ator, produtor, diretor ou qualquer função do gênero. Ele quer ter um cinema, uma sala de exibição, daquelas com bilheteiro, carrinho de pipoca na entrada e fila de gente para entrar. O filme em si pouco importa, desde que tenha muita ação, aventura, um pouco de romance, suspense e boas risadas. Ou seja, um programa completo. E é essa paixão que o move em Cine Holliúdy, a resposta nacional para títulos obrigatórios como o italiano Cinema Paradiso (1988) ou o americano Cine Majestic (2001). A diferença da versão verde e amarela em relação aos seus similares estrangeiros é o tom, assumidamente ingênuo. A comicidade, aqui, tanto pode apelar para o onirismo como para a falsa realidade.

Nascido primeiro no formado de curta-metragem de 15 minutos, Cine Holliúdy somente se tornou realidade devido a dedicação do diretor e roteirista Halder Gomes, que, por acreditar na história que tinha em mãos, decidiu estendê-la de forma inteligente e consciente de suas capacidades. Tal qual os tímidos proprietários de pequenas salas de cidades do interior do Brasil, que permanecem abertas somente por muita persistência e dedicação, Gomes conseguiu dar consistência a uma trama que, se por um lado não é revolucionária, por outro conquista a audiência justamente por sua franqueza e sinceridade com que assume não somente seus méritos, mas também carências.

Estamos diante de um filme de orçamento limitado, realizado com muito esforço e paciência. O protagonista é um arquétipo nacional, aquele tipo que, mesmo diante às situações mais adversas, segue sonhando e acreditando no seu potencial. É ele que convence a mulher e o filho a investirem suas economias num negócio que prometia muito: um cinema. Estamos nos anos 1970, e a televisão está cada vez mais popular e acessível. No entanto, o charme das estrelas, a sétima arte enquanto programa especial e todo o glamour que cerca a atração acaba comovendo a comunidade de uma pequena cidade. Ainda que alguns estejam empenhados para que a ideia não funcione, em última instância irão perceber que, de uma forma ou de outra, o show não pode parar!

Cine Holliúdy: O Artista contra o Cabra do Mal, curta-metragem lançado em 2004, viajou por mais de 20 países, foi exibido em 80 festivais e ganhou mais de 40 prêmios. Tudo isso indica que Cine Holliúdy, o filme, não seria uma obra tão efêmera. E, de fato, não é. Sua estrutura absolutamente genuína – e isso se reflete desde os diálogos, falados em “cearensês”, como a própria direção de arte e os figurinos – revelam uma sinceridade cada vez mais rara no cinema dito comercial. Com uma estrutura narrativa que remete o espectador aos melhores momentos de Mazzaropi e Teixeirinha e resgatando uma empatia nostálgica vista poucas vezes nas produções atuais (Tapete Vermelho, 2005, de Luís Alberto Pereira, é uma exceção apropriada), este filme não só merece o sucesso e os aplausos que tem recebido por onde é exibido, como também deve superar os limites auto-impostos pelo mercado e visar uma audiência mais ampla, pois a mensagem que prega, ainda que travestida de um regionalismo, é absolutamente universal.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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