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Sinopse
O solitário alemão Johann viaja pelas áridas estradas do nordeste brasileiro vendendo aspirina para moradores de pequenas vilas, usando comerciais de vídeo que falam sobre os remédios. No caminho, conhece o andarilho Ranulpho, que pretende ir até o Rio de Janeiro na procura por uma vida melhor. Quando passam a viajar juntos, os dois desenvolvem uma grande amizade, até que o Brasil entra na Segunda Guerra Mundial, e Johann precisa decidir se volta a seu país ou se permanece em solo brasileiro.
Crítica
Inspirado num relato de viagem verídico de Ranulpho Gomes, que o cineasta Marcelo Gomes descobriu em sua árvore genealógica, Cinema, Aspirinas e Urubus é um dos mais belos e sinceros filmes brasileiros de 2005. Uma obra que vai direto ao ponto, sem rodeios ou ‘soluções geniais’, apostando no que tem de melhor: uma história muito bem construída, uma direção segura e dois atores em excelente forma. Tanto que os reconhecimentos surgiram no Brasil – foi premiado no Festival do Rio e na Mostra de Cinema de São Paulo – e no exterior – homenageado com o troféu do Sistema Educacional Francês durante sua passagem pelo Festival de Cannes!
Nos anos 1940, um alemão foi parar no interior do sertão nordestino. Ao mesmo tempo em que fugia da guerra que assolava seu país, buscava naquele lugar inóspito novos motivos para iniciar uma vida completamente diferente. Estava trabalhando como vendedor de um remédio aparentemente milagroso, a tal aspirina. E, para convencer seus compradores, fazia uso de uma técnica revolucionária: o cinema. Ao exibir filmes publicitários em praças de pequenas cidades, ele não só despertava a curiosidade daqueles que por ali passavam como também incitava a imaginação e a fantasia nestes desesperançados. Um deles – Ranulpho – vê ali a chance de também mudar seu destino. Resolve pedir carona e seguir com aquele forasteiro em busca de melhores chances. Do encontro dos dois irá surgir uma grande amizade, que terá como principal prova afastar os urubus de mau agouro que volta e meia aparecem.
Com roteiro escrito pelo próprio diretor em parceria com Paulo Caldas e Karim Aïnouz, Cinema, Aspirinas e Urubus é uma história de descobertas, de achados entre perdidos. Com produção da gaúcha Sara Silveira (responsável pelo aclamado Bicho de Sete Cabeças, 2001, entre outros), a trama foi inteiramente filmada no interior da Paraíba e se apóia basicamente na precisa química que surge entre os dois protagonistas, interpretados pelos então novatos Peter Ketnath (alemão de verdade) e João Miguel, ambos em seus primeiros papéis de destaque. Os dois estão tão bem que chegam a sumir em seus personagens, sem demonstrar esforço algum em interpretá-los. A insegurança, a ingenuidade, o medo, a angústia, a desconfiança e a felicidade, sentimentos que se contrapõem na tela e em seus rostos com imensa naturalidade e competência, de um modo absolutamente convincente e realista. Um verdadeiro achado.
O filme, felizmente, possui ainda outros méritos. A fotografia de Mauro Pinheiro explora com habilidade a crueza do local para refletir o que se passa no interior destes tipos em cena, enquanto que a trilha composta por Tomás Alves de Souza dá o tom ideal para os dilemas que se apresentam. Sem se estender demasiadamente em seu desenvolvimento e nem se perder em assuntos paralelos, este é um longa sem reviravoltas inesperadas ou grandes soluções: os clichês narrativos são deixados de lado em nome de algo maior, que está impresso na mensagem apresentada através do relacionamento que surge entre dois homens tão diversos e, ao mesmo tempo, tão complementares. Cinema, Aspirinas e Urubus não é uma opção para todos os públicos, mas certamente provocará grande satisfação naqueles que se disporem a apreciar uma amostra do que de melhor tem sido feito em nossas terras.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 8 |
Rodrigo de Oliveira | 10 |
Marcelo Müller | 10 |
Francisco Carbone | 10 |
Bianca Zasso | 10 |
Thomas Boeira | 9 |
Chico Fireman | 8 |
MÉDIA | 9.3 |
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