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Sinopse
De olho no posto de primeira bailarina de uma companhia, prestes a ficar vago por conta da aposentadoria da antiga estrela, Nina força seus próprios limites e começa a mergulhar perigosamente no lado obscuro de sua personalidade.
Crítica
Há muitos anos a seleção de indicados à Melhor Filme no Oscar não era tão impressionante quanto agora em 2011. E de todos os concorrentes, talvez o mais provocador e instigante seja Cisne Negro, uma obra perturbadora que faz justiça ao talento do diretor Darren Aronofsky. Dos 10 indicados, o meu favorito ainda é o revolucionário A Origem, e poucos podem afirmar com tranquilidade não terem se emocionado com o comovente Toy Story 3. Mas este drama sobre a perfeição e os fantasmas internos de cada um, trazido às telas com perfeição pelo mesmo realizador dos assombrosos Réquiem para um Sonho e O Lutador, talvez seja o que mais nos leva a pensar, gerando um incômodo ao mesmo tempo benéfico e recompensador.
A disputa no Oscar 2011 parece estar polarizada entre os ótimos A Rede Social e O Discurso do Rei. Porém, além desses dois, há outros filmes que certamente podem surpreender. E um deles, definitivamente, é Cisne Negro, que recebeu um total de 5 indicações, entre elas Direção e Montagem, além de ser o favorito absoluto na categoria de Melhor Atriz. Sua protagonista, Natalie Portman (que já havia sido indicada antes, em 2004, como Coadjuvante, por Closer: Perto Demais) tem aqui o desempenho mais completo do ano – entre homens e mulheres! O filme nasce e morre nela, e caso não estivesse à altura desse desafio tudo poderia vir água abaixo. Mas, pelo contrário, o que temos é uma atuação que reflete uma completa entrega, virtuosa e visceral. E a intensidade da performance não é algo oferecido pela atriz, e sim uma exigência do papel que ela atende com louvor.
Nina (Portman) é uma bailarina disposta a tudo para ser escolhida para o papel principal de uma nova montagem de Lago dos Cisnes. O diretor da companhia (o francês Vincent Cassel, visto no brasileiro À Deriva e presente dos ótimos Rios Vermelhos e Irreversível, entre outros) acredita que ela seria perfeita na primeira parte da história, como a boa Cisne Branca, mas que lhe falta ousadia e malícia suficiente para viver a transformação, a diabólica Cisne Negra. Mas a garota está determinada a atingir seu objetivo, e não será a interferência constante da mãe (uma Barbara Hershey quase irreconhecível), a concorrência da novata (a leve e sexy Mila Kunis) ou a sombra da antiga diva (Winona Ryder, aos poucos recuperando o espaço que perdeu nos últimos anos) que irá interferir nos seus planos. Sua maior ameaça, no entanto, será ela mesma.
Aronofsky já mostrou os conflitos na vida de um matemático (em“∏”), a solidão levado a um nível extremo e desesperador (em Réquiem para um Sonho), a inquietude do inconsciente quando perante de uma verdade muito maior e absoluta (em Fonte da Vida) ou o desespero do antigo campeão em busca de uma nova chance (em O Lutador). Em Cisne Negro ele combina todos esses elementos, criando algo ainda mais subversivo e instigante. Tudo o que vemos está dentro da mente – dela e dele, do personagem e do criador – ou é algo que só existe a partir do momento em que está sendo compartilhado conosco? O espectador faz parte do processo, e será justamente esse reconhecimento e identificação que torna essa experiência tão poderosa e significativa. Talvez não seja esse o melhor filme do ano, mas certamente é o mais singular. E há um mérito muito maior nisso do que possamos imaginar numa primeira impressão.
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