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Crítica


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Sinopse

Irmãos muito diferentes, Léon e Bruno ficam aliviados com a morte do pai, uma pessoa odiável. Os dois se encontram para acertar os detalhes do funeral. Inesperadamente, surge uma desconhecida que diz ser irmã deles.  

Crítica

À primeira vista, os irmãos Léon (Laurent Lafitte) e Bruno (Vincent Macaigne) não poderiam ser mais distintos. O primeiro, um ex-prodígio do tênis que viu sua carreira encerrada precocemente devido a um problema cardíaco, hoje vive dias inglórios. Desempregado e morando em um hotel, Léon depende do auxílio, a contragosto, da esposa que o abandonou recentemente, levando o filho do casal, com quem mantém uma relação distante. Bruno, por sua vez, ainda que bem-sucedido profissionalmente – dono de uma empresa de internet responsável por um site de relacionamentos – se mostra ironicamente inábil no campo pessoal ligado ao seu trabalho. Tímido e desajeitado, o personagem apresenta uma dificuldade quase crônica para se relacionar com as mulheres. Apesar de tantas diferenças, os dois guardam ao menos um grande sentimento em comum, além daquele particular do fracasso que os torna infelizes: o desprezo pelo pai, Arthur, figura boêmia que os abandonou ainda na juventude para viver com uma de suas várias amantes. E é justamente esse sentimento que acaba motivando a jornada central de Clube Tristeza, do francês Vincent Mariette.

Ao receber a notícia da morte do pai, que a princípio é aceita com contentamento – não apenas pelo rancor que compartilham pelo mesmo, mas também, e especialmente para Léon, pelo vislumbre de uma herança a ser recebida – os dois se reencontram após um longo tempo, partindo numa viagem ao interior para acompanhar o funeral. A situação, contudo, se apresenta mais complexa que o imaginado quando, ao chegarem ao crematório da pequena cidade onde nasceram, são recepcionados por uma convidada solitária, Chloé (Ludivine Sagnier), que afirma ser filha de Arthur e, portanto, meia-irmã da dupla. Para completar, a garota ainda faz outra revelação, a de que o pai não está morto, mas sim desaparecido, e que mentiu para atrair os irmãos e pedir que a acompanhem em sua busca. É a partir deste novo encontro que Mariette, realizando aqui seu primeiro longa-metragem, adentra, de fato, sua narrativa de acerto de contas com o passado.

Dos arquétipos de frustração representados pelos protagonistas, incluindo Chloé – igualmente amargurada com sua vida – aos conflitos expostos, como a ausência da figura paterna, a polaridade entre Léon e Bruno e seus pequenos traumas de infância, Mariette navega por águas bastante familiares na maior parte do tempo. Seu roteiro, porém, reserva boas surpresas, apresentando gradativamente desvios de rumo bem-vindos e que mantêm o interesse da trama até chegar ao destino esperado, é verdade, mas coerente e satisfatório. Tais desvios se dão pela aposta em um humor que flerta com o absurdo, mesclado a doses pontuais de dramas existenciais. As situações insólitas, marcadas pelo comportamento pouco ortodoxo dos personagens, ainda que se excedam levemente em alguns momentos, como no encontro com uma das amantes de Arthur ou na sequência do roubo da gasolina, com o grupo de adolescentes, funcionam bem graças ao timing cômico e à dinâmica do trio principal.

Todos se mostram confortáveis em seus papéis, especialmente Macaigne, que tem em Bruno uma variação do tipo neurótico inseguro e levemente depressivo recorrente em sua carreira, mas também Lafitte, como o bruto que reprime suas desilusões e se esconde sob a tentativa de manter as aparências – a aliança, o carro esportivo – e Sagnier, como a mulher ao mesmo tempo emancipada e dependente, frágil e insinuante. Além da boa condução de atores, Mariette acerta também ao manter oculta a figura do pai, preservando certa aura de mistério. Desta forma, o cineasta oferece ao público apenas as projeções dos outros personagens sobre Arthur, incluindo coadjuvantes, como o vizinho a quem deve dinheiro, o que acaba auxiliando na aproximação e compreensão de seus sentimentos, mesmo que sejam frutos de representações afetadas pelas imprecisões da memória.

Por meio dessa proximidade, Clube Tristeza ganha uma carga de humanidade, mesmo que seus protagonistas, por vezes, se portem de modo pouco natural ou que suas relações sejam desenvolvidas intensamente em um curto espaço tempo – seja o ficcional ou o real, já que a fita tem pouco mais de 80 minutos de duração. Apresentando uma condução convencional num todo, mas segura e com alguns achados formais/estéticos, como a cena dos fogos de artifício, Mariette deixa algumas arestas dispensáveis, como a insinuação de uma relação à la Lolita entre Léon e a filha adolescente do vizinho – não por acaso chamada Lola. No balanço final, porém, o diretor entrega uma divertida jornada de reconciliação e recomeço com personagens tão errantes quanto o bando de cachorros que vaga pela cidade e povoa a narrativa.

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é formado em Publicidade e Propaganda pelo Mackenzie – SP. Escreve sobre cinema no blog Olhares em Película (olharesempelicula.wordpress.com) e para o site Cult Cultura (cultcultura.com.br).
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Grade crítica

CríticoNota
Leonardo Ribeiro
6
Robledo Milani
6
MÉDIA
6

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