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Crítica


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Sinopse

Num mundo onde 4% da população nasce com superpoderes, por conta disso sendo discriminada, um jovem utiliza seu dom para cometer crimes e posteriormente é caçado por uma polícia militarizada.

Crítica

A maior galinha dos ovos de ouro da indústria cinematográfica atual é o super-herói. Desde que principalmente a Marvel criou uma esperta estrutura de alimentação da significativa avidez do público por filmes e séries centrados em seres poderosos, sobre-humanos estão por toda parte. E, não raro, é preciso um aporte generoso de verbas para dar conta das técnicas necessárias para tornar críveis as ações fantasiosas. Exatamente por lidar habilmente com um orçamento enxuto, investindo em ideias e na utilização parcimoniosa dos dispositivos que deflagram a excepcionalidade dos nascidos diferentes, Code 8: Renegados apresenta uma alternativa curiosa no terreno dos super. Na linha dos X-Men, uma realidade em que a existência de gente com capacidades diversas gera enorme controvérsia social. Todavia, aqui o preconceito não é bem a linha-mestra. Desde os créditos iniciais, o cineasta Jeff Chan realça as questões socioeconômicas.

Ainda que oscile entre a aventura simples e a reflexão sobre essa coletividade cindida entre os “normais” e os “anormais”, Code 8: Renegados se esforça para manter em foco aquilo que lhe serve de pilar principal. Os Empoderados são as grandes vítimas do sistema que inescrupulosamente troca a mão de obra humana por máquinas habilitadas a fazer seus trabalhos. Enfrentando a hostilidade dos demais, eles precisam se sujeitar a um controle estatal beirando fascismo, aceitar subempregos que remuneram mal, ou seja, são arremessados à base da pirâmide social dessa versão alternativa dos Estados Unidos. O roteiro de Chris Pare oferece subsídios suficientes à construção desse panorama que sustenta a ação encarregada de colocar os personagens em rota de colisão. Sem opções, os perseguidos são levados a agir no submundo para sobreviver e/ou fornecer parte de seus fluídos à confecção da droga ilícita da vez, cujos efeitos vão de viciar usuários a enriquecer traficantes.

O protagonista de Code 8: Renegados é Connor (Robbie Amell), um Elétrico, como são chamados os aptos a criar e/ou manipular eletricidade. Vivendo de bicos na constrição civil, morando com a mãe rapidamente consumida pelo câncer, ele vê na marginalidade uma solução paliativa para seus problemas imediatos. O filme desenha esse sujeito como um herói clássico, capaz de empenhar os próprios códigos morais para salvaguardar a saúde de sua genitora. A forma como ele vai sendo tragado crescentemente para o buraco do banditismo é didático e próximo ao banal, começando com o aliciamento, passando pelo primeiro pagamento polpudo e chegando à fase do arrependimento. Todavia, mesmo que o percurso seja relativamente conhecido, que haja boas doses de previsibilidade na trama, o modo como Jeff Chan dispõe os dilemas dentro dessa estrutura macro mais complexa e sintomática acaba dirimindo os problemas e fazendo o conjunto valer muito a pena.

O mentor de Connor em Code 8: Renegados é Garrett (Stephen Amell), figura arquetípica, destituída de uma personalidade ambígua ou de background. O fato de Robbie e Stephen serem primos fisicamente semelhantes atrapalha um pouco a dinâmica entre seus personagens, pois estes não possuem qualquer vínculo prévio à parceria profissional. No mais, Jeff Chan consegue alternar com destreza as ponderações e as passagens meramente constituídas de perseguições e tiroteios. Se, por um lado, a dinâmica entre bandidos e mocinhos é bastante genérica, por outro, o fato de sustentar tudo numa constatação das consequências socioeconômicas do descarte da população tornada vulnerável pela ingerência do Estado equilibra a balança. A sobriedade no emprego dos efeitos digitais obviamente tem origem na escassez de recursos, e talvez isso alavanque o realizador no sentido de lançar mão de soluções criativas, não dependendo, assim, somente da pirotecnia.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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