Crítica
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Sinopse
Depois de matar acidentalmente um intruso desarmado, Richard Dane deve lidar com a raiva do pai da vítima. No entanto, Dane começa a suspeitar que o policial Ray Price pode estar escondendo informações sobre o caso, indicando seu envolvimento em algo muito mais complicado. Então Dane e o pai da vítima unem forças para descobrir a verdade.
Crítica
A sequência que abre Julho Sangrento apresenta um extenso deserto como possível ambientação para o filme que se inicia. Enquanto o plano é lentamente aberto, no entanto, percebe-se que uma moldura cerca tal imagem: trata-se de um quadro. Mais tarde descobrimos que a profissão do protagonista Richard Dane é justamente a de emoldurar figuras que merecem a eternidade. O deserto naquela parede, paisagem idílica que remete aos tão clássicos westerns, funciona como síntese ao thriller de Jim Mickle: uma homenagem e releitura a um gênero cinematográfico essencialmente norte-americano. O que fica evidente segundos depois, quando sangue e pedaços de cérebro são espirrados em tal cenário.
Neste tenso e bem humorado suspense situado no Texas de 1989, um pai de família acidentalmente mata um jovem andarilho que invadiu sua casa no meio da madrugada. Impulsionado ao posto de herói pela pequena comunidade local, ele fica perturbado com o ocorrido e sofre ainda mais com as consequências de seu ato, quando descobre que o pai do garoto está na cidade à sua procura. Revelar mais sobre um enredo repleto de reviravoltas é desnecessário; em Julho Sangrento o espectador é convidado para uma surpreendente narrativa na qual qualquer conclusão precipitada é um provável esforço desnecessário.
Jim Mickle, que possuía alguns trabalhos esquecíveis em seu currículo como o recente Somos o Que Somos (2013), finalmente mostra a que veio ao dominar um roteiro intrincado, com material suficiente para ser dividido em duas histórias distintas. Ainda assim, Julho Sangrento funciona como um único e ótimo filme, baseado no suspense policial de Joe R. Lansdale habilmente adaptado por Nick Damici e pelo próprio Mickle. Enquanto reinventa os códigos dos thrillers oitentistas e até mesmo dos westerns de vingança que lhe inspiraram, assim como de tantos filmes de John Carpenter da mesma década, o diretor desenvolve uma trama que questiona os valores familiares quando confrontados com o universo instintivo e agressivo masculino.
No elenco liderado por um Michael C. Hall de bigode e questionáveis mullets, Sam Shepard e Don Johnson estão excepcionais em papeis que de certa forma lhes parecem característicos pelos tipos que já interpretaram no passado. O multifacetado Hall, por sua vez, que dos palcos da Broadway às séries televisivas A Sete Palmos (2001) e Dexter (2006) já provou sua versatilidade, imprime em Richard Dane uma vulnerabilidade comovente. Shepard e Johnson somam com suas interpretações poderosas e o soberbo trio acaba como um dos principais atrativos do thriller de Mickle.
Indicado ao Grande Prêmio do Júri no Festival de Sundance, Julho Sangrento se insere em algum lugar entre a visceralidade de Cabo do Medo (1991) e o sombrio humor de Fargo (1996), enquanto constrói sua tensão pautado em artifícios característicos de um genuíno suspense. Mickle aposta em paciência e realismo mesmo quando sua história flerta com o improvável, e, da introdução aos créditos finais, leva seu espectador à sério e nunca subestima a inteligência do mesmo – algo cada vez mais raro no cinema contemporâneo.
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