Como Falar com Garotas em Festas
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How to Talk to Girls at Parties
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2017
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Reino Unido / EUA
Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
Como Falar com Garotas em Festas, adaptação do conto homônimo de Neil Gaiman, se passa em meio a cena punk britânica do fim dos anos 70. O clima de anarquia e contestação alimenta as atitudes de Enn (Alex Sharp), protagonista do filme, e de seus melhores amigos, Vic (Abraham Lewis) e John (Ethan Lawrence), jovens que produzem fanzines e saem por aí colando ícones contraculturais em placas de sinalização e/ou em totens da sociedade careta. A relação dos personagens com a música e, mais fortemente, com a cultura singular que dela deriva, é um elemento imprescindível do longa-metragem do cineasta John Cameron Mitchell. A partir do show numa casa noturna celebrada, ponto de encontro dos garotos revoltados e afeitos aos timbres histriônicos que anunciam inconformismo, o enredo toma rumos distintos, com a apresentação de figuras estranhas, habitantes de uma residência afastada onde, supostamente, deveria acontecer a comemoração capitaneada pela empresária Boadicea (Nicole Kidman).
Embora preguem emancipação, os adolescentes são quase completamente inexperientes, especialmente no que diz respeito às paixões e ao sexo. Esse caráter em comum permite ao realizador trabalhar o envolvimento com os excêntricos desconhecidos, dando-lhe contornos de rito de passagem. Sem entender muito bem a dinâmica dos forasteiros, Enn e os colegas acreditam que eles são meros turistas da América, mais precisamente norte-americanos exóticos de Los Angeles. Mitchell não nos confina na bruma que envolve a percepção inocente dos meninos, deixando-nos clara a verdadeira natureza dos visitantes interplanetários. Curioso, os extraterrestres utilizam roupas vinílicas, expediente alusivo, ao mesmo tempo, à moda da época em que o filme se passa e a uma convenção dos figurinos das ficções científicas de antigamente. É um detalhe aparentemente insignificante, mas que demonstra o cuidado da produção com a ambientação e suas possíveis ressonâncias nas vivências dos moleques.
Aqui, o pilar é realmente o envolvimento gradativo entre Enn e Zan (Elle Fanning), a alienígena rebelada contra as restrições impostas por seu povo, que solicita 48 horas para viver como humana e experimentar o desenvolvimento de sua subjetividade. Há um fino traço de humor perpassando Como Falar com Garotas em Festas, com a recorrência de piadas funcionais. Exemplo disso, a que dá conta da interação sexual de Vic com um casal. Enquanto isso, Zan descobre gradativamente como é o cotidiano dos humanos, provando comidas, indo ao banheiro, dançando ao som de músicas empolgantes, e por aí vai. Do elo insuspeito nasce a evolução de ambos, com Enn sendo alçado à posição central. Mitchell constrói uma narrativa vibrante, repleta de ângulos de câmera enviesados, brincadeiras ocasionais com a velocidade da imagem e um colorido contrastante com o acinzentado próprio dos subúrbios ingleses. Tiradas ácidas entrecortam o desenvolvimento da trama, adensando bastante os seus contornos.
O comportamento dos alienígenas fica, de acordo com a encenação proposta, entre o satírico e o reverente, especialmente por valer-se com graça de uma ideia (então retrô) cinematográfica de sci-fi. Zan observa o mundo com a curiosidade de quem busca apreendê-lo rapidamente, decodificando suas particularidades. Enn olha para essa mulher com semelhante espanto, pois diante da novidade de sentir-se apaixonado. Como Falar com Garotas em Festas investe pesado no punk como moldura e pano de fundo da história de amor. Nicole Kidman, o nome mais conhecido do elenco uniformemente competente, sobressai como a mulher à frente da horda de insatisfeitos incorrigíveis, numa caracterização deliciosamente espalhafatosa, corroborando a sensação de agitação sociocultural que tão bem fornece o tempero singular desta realização que transpira arrebatamento pelos ímpetos de uma juventude em constante movimento, que enseja mudar o mundo, virando-o do avesso.
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