Crítica
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Sinopse
A história do primeiro time de futebol feminino na França. Tudo começou como uma provocação, mas se tornou uma revolução.
Crítica
Há uma clara fórmula na qual Como Meninos se enquadra, infelizmente com poucas variações. O protagonista é Paul (Max Boublil), arrogante jornalista esportivo que inicialmente faz piada diante da ideia de mulheres francesas jogarem futebol. Ambientado no fim dos anos 60, baseado em fatos, o longa-metragem dirigido por Julien Hallard faz um retrato despretensioso e leve desse momento histórico para o esporte francês, exatamente quando as quatro linhas começaram a deixar de ser um domínio estritamente masculino. Esquematicamente, Emmanuelle (Vanessa Guide) é entendida enquanto o oposto do exibicionista cuja preocupação com o cabelo é prevalente, por exemplo, à ética profissional. Isso acontece porque ela é desenhada como uma verdadeira apaixonada pelo esporte, alguém que, uma vez lançada a proposta, deseja promover uma real mudança de paradigmas, à medida que o homem autointitulado treinador da equipe é motivado pura e simplesmente pelo ego inflado. Uma das falhas do filme é não estudar essa dicotomia.
Como Meninos é desenvolvido dentro dessa estrutura quadrada e um tanto previsível. Embora o realizador prime pelo andamento adocicado, com adversidades sobrepujadas facilmente, o que denota o caráter superficial e incauto da abordagem, o carisma dos personagens garante a diversão. Longe de apresentar uma discussão profunda acerca da reivindicação feminina, a condução se foca nas trapalhadas amorosas que levam Paul a, gradativamente, se apaixonar pela melhor jogadora do time que continua marginalizado por autoridades tacanhas, a despeito da organização e dos bons resultados. O triângulo instaurado por conta da relação escondida do técnico com Jeanne (Mona Walravens) é a base do desenvolvimento da trama, limitando sobremaneira a possibilidade da abrangência histórica. Porém, faz parte da clara pegada descompromissada, utilizada para construir algo leve, de fruição ligeira, no mais das vezes, saborosa e bastante graciosa.
Por um lado, Como Meninos oferece entretenimento simples, porém eficiente. Por outro, peca demasiadamente no que tange ao delineamento dos personagens, sobretudo se levada em consideração a circunstância que serve de pano de fundo. Jeanne é excessivamente rasa, presente no enredo apenas para se encaixar no estereótipo da “gostosona” e permitir a derrocada que antecede a redenção, evidente sintoma do convencionalismo. Emmanuelle funciona igualmente dentro de um molde, o da mulher que esconde sua beleza e talento dos demais, para isso criando uma casca superficial que a protege do exterior. Essas características, somadas à maneira trivial de lançar questões intrincadas e, adiante, resolvê-las como num passe de mágica, fragilizam a mensagem de empoderamento, ou seja, reduzem a conquista das francesas que foram genuínas pioneiras na esfera futebolística a um dado de contexto, uma vez que o principal é o amor nascendo.
Como Meninos diverte, mas às custas de barras forçadas. As ressalvas do dirigente que possui uma contenda com Paul; as desconfianças do pai de Emmanuelle; as dificuldades de alguns maridos para assinar autorizações de jogo às esposas – sim, em 1969 era necessária aquiescência dos cônjuges para que as mulheres fossem à campo –; tudo isso acaba dissolvido, formando um caldo pouco espesso, embora gostoso, que torna homogeneizados certos tópicos, então carentes de uma atenção substancial do roteiro, bem como da direção que prioriza o romance. Até mesmo a peculiaridade do torcedor empolgado à beira do campo é utilizada aquém das suas possibilidades cômicas. As personalidades das demais jogadoras são crescentemente apagadas em prol da conjuntura maior, isto é, a luta pelo reconhecimento do futebol feminino e o direcionamento dos componentes para que as desavenças esvaneçam e o amor, finalmente, triunfe, assim transformando Paul.
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