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Crítica


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Sinopse

Em sua terceira aventura, o viking Soluço está perto da realização de seu grande sonho: encontrar um lar pacífico onde os dragões possam viver em segurança. Lá, Banguela descobre uma companheira, assim como ele, mas um tanto selvagem. No entanto, quando o perigo começa a rondar o novo lar, a dupla Banguela e Soluço será testada e precisará tomar decisões difíceis para salvar suas espécies.

Crítica

Em Como Treinar o Seu Dragão 3 há um novo cenário no reino de Berk. Graças à amizade entre Soluço, o príncipe instado a assumir a liderança de seu povo, e Banguela, o Fúria da Noite que se torna o melhor amigo e fiel escudeiro do herdeiro, há uma integração total entre raças antes rivais de morte. Humanos e dragões convivem harmoniosamente, desenvolvendo uma relação praticamente de simbiose, contrariando, assim, os anos de hostilidade motivados pela intolerância dos homens. O maior desafio do protagonista nesta terceira parte da franquia não é necessariamente o caçador que deseja acabar com aquele idílio, mas justamente a passagem da adolescência à vida adulta. Os contratempos gerados pelo maligno Grimmel apenas tornam urgente essa transposição de fronteiras que impõe determinados desapegos dolorosos. Embora, dos três filmes, seja o menos incisivo no que tange aos subtextos apresentados, ele fecha com qualidade a trilogia.

O catalisador da mudança é o amor, especificamente o ponto em que tanto Soluço quanto Banguela se veem apaixonados. O humano, por Astrid, a Viking destemida que sempre está ao seu lado, até nas missões perigosas. O dragão, por Fúria da Luz, a fêmea que o desorienta e, ao mesmo tempo, coloca em xeque a ideia antes fomentada de um vínculo inquebrantável. O visual de Como Treinar o Seu Dragão 3 é minucioso, assim como o de seus predecessores. Todavia, aqui há cenas povoadas por centenas de espécies, o que acentua a ouriversaria do trabalho visualmente sofisticado. Há desperdícios evidentes, como o pouco aproveitamento da rainha Valka – reduzida a um mero adereço que, vez ou outra, aconselha sua futura nora a como tratar o filho, teimoso como o pai –, e a desvalorização dos coadjuvantes, aqui restritos a momentos esparsos de importância, especialmente como alívios cômicos. Cabeçadura é o melhor nesse sentido (com barba falsa).

Por mais que o enredo seja fundamentado no forte vínculo entre Soluço e Banguela, Como Treinar o Seu Dragão 3 nutre gradativamente a inevitabilidade da separação, como se para ambos evoluírem ao próximo estágio não fosse possível estar juntos, curtindo peripécias e fazendo traquinagens. O humano tem dificuldade para deixar o imediato aproveitar o novo amor, chegar-se dos seus e, consequentemente, se afastar daqueles que se converteram em protetores. O filme passa batido por algumas coisas relevantes, fundamenta tropegamente certas questões, atinge rápido demais estágios mencionados como dimensões legendárias, vide o santuário dos dragões perseguido por gerações, mas cujo rápido vislumbre não é suficiente para asseverar a sua raridade. Todavia, mesmo com esses senões, o longa-metragem dá conta de demonstrar o crescimento dos parceiros que, no fim das contas, entendem as especificidades das demandas pessoais e agem com o coração.

Como Treinar o Seu Dragão 3 tem um par de batalhas empolgantes, semeia espaços inférteis, tais como a guerra fria pela atenção de Valka, mas engrandece ao apresentar o protagonista como alguém destinado a feitos grandiosos e gestos altruístas, isso após períodos de sofrimento e resignação. Fechando um ciclo, a produção deixa o futuro da franquia em aberto. Por um lado, encaminha novas possibilidades, mas, por outro, pode ser considerada o fim das aventuras de Soluço e Banguela, não sem instantes de emoção desbragada, nos quais é difícil conter as lágrimas. O cineasta Dean DeBlois aposta certeiramente no carisma do antes menino e do dragão simpático que lhe acompanhou durante uma mudança grandiosa de paradigmas, mostrando como ambos precisam seguir adiante e ocupar o espaço de liderança que lhes é concedido pelo destino. Para isso, mulheres e fêmeas são imprescindíveis, sobretudo por não serem donzelas em perigo, mas partícipes da ação.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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