Crítica
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Sinopse
Como Vender a Lua conta o que acontece quando Kelly Jones é convocada para ajudar a consertar a imagem pública da NASA. Prodígio do marketing, ela causa tumulto na já difícil tarefa do diretor de lançamento Cole Davis. Quando o presidente dos EUA considera a missão muito importante para admitir falhas, Jones é instruída a encenar um pouso falso na lua como plano B.
Crítica
Se há algo que merece ser reconhecido como positivo em Como Vender a Lua é o título brasileiro, mais apropriado do que o original – Fly Me To The Moon – que existe apenas para pegar carona na canção de Frank Sinatra. Afinal, por mais que seja somente mais uma comédia romântica como tantas outras, o escasso diferencial que apresenta está neste interesse em se aprofundar no olhar publicitário por trás dos esforços norte-americanos durante o período que ficou conhecido como a Corrida do Espaço, ou seja, nos anos 1960, quando Estados Unidos e União Soviética disputaram passo a passo quem seria capaz de chegar primeiro à Lua. A América ganhou, a democracia foi salva e os comunistas seguem tentando pisar em solo lunar até hoje, sem sucesso. Mas como o mundo viu, de fato, o que ocorreu em 20 de julho de 1969, quando o astronauta Neil Armstrong se tornou o primeiro homem a deixar a marca da sua pegada distante da Terra? Eis a importância do marketing e da propaganda neste processo. Se fosse apenas esse o foco, teria sido esse um projeto digno da atenção despertada. No entanto, ao se resignar em reiterar o óbvio, ao mesmo tempo em que perde tempo com teorias conspiratórias, não apenas desperdiça a força reunida, como se esvai em relevância.
Outro ponto que merece ser destacado é o fato de Scarlett Johansson não apenas ser o primeiro nome nos créditos, como também constar como uma das produtoras. Ou seja, trata-se de um projeto dela, enquanto que Channing Tatum se ocupa apenas com o papel do galã contrariado. Sim, pois como acontece invariavelmente nas produções do gênero, os dois respondem por arquétipos bastante óbvios: se conhecem, se atraem, se aproximam, acabam discutindo, brigam e se afastam, mas só até não resistirem e voltarem correndo um para os braços do outro, rumo a um indefectível “felizes para sempre”. Isso não chega a ser um spoiler, pois quem vai assistir a um filme como esse, sabe bem o que esperar e o que irá encontrar pela frente. O que se tem, portanto, é a confirmação daquilo que é esperado. Mas o que, portanto, o conjunto é capaz de oferecer de original em meio às tantas incursões similares vistas à exaustão ao longo dos anos? Uma premissa curiosa, que se perde em atalhos que mereciam ser evitados.
Johansson, nitidamente se divertindo ao ocupar a posição de poder conquistada após mais de uma década sob o comando dos Estúdios Marvel, aparece como Kelly Jones, uma marqueteira que que não hesita em tomar caminhos alternativos – para não dizer um tanto escusos – quando decidida a fechar a melhor venda. A sequência de abertura, na qual engana empresários do ramo automobilístico com uma barriga falsa para convencê-los que não apenas homens adquirem carros, mas também mulheres e famílias inteiras (estamos nos anos 1960, importante manter isso em mente), é eficaz em explorar esse lado de sua personalidade. Ela, no entanto, é uma mulher com um passado, um histórico com o qual nem sempre se mostra confortável. E ao ser confrontada com o possível ressurgimento dessa “bagagem”, aceita um trabalho um tanto improvável: se juntar à NASA – a agência espacial norte-americana – e fazer dos esforços (e gastos exorbitantes) para que o homem chegue à Lua um projeto nacional, e não apenas uma aventura sem pé, nem cabeça.
É quando assume esse desafio que se depara com seu oponente: Cole Davis (Tatum, engessado como há tempos não se via, distante do tipo engraçado ou galanteador que tem feito nos últimos anos, retomando um perfil comportado que nunca lhe coube muito bem), o engenheiro-chefe que precisa lidar com a recém-chegada e as novas demandas que ela traz consigo. Um se opõe imediatamente às interferências do outro, mas é necessário observar que tal antipatia não se sustenta o bastante. Afinal, compreende-se que ele não queira mudanças. Mas uma vez evidente que os métodos dela estão trazendo resultado – o público passa a ver com bons olhos o que a NASA tem feito, a torcida pelo sucesso da missão espacial toma conta do país e até mesmo os políticos se mostram mais propensos a destinar maiores verbas e recursos – por qual motivo a implicância permanece, se não pelo simples fato de estarem percorrendo uma cartilha há muito usada e já um tanto desgastada? Se fosse apenas isso, no entanto, o problema poderia ser contornado – ou mesmo minimizado. Mas há mais. É quando a roteirista de primeira viagem Rose Gilroy decide incluir um debate que até pode render controvérsia nos EUA, mas que nos resto do mundo soa quase absurdo: se o feito do homem ter chegado à Lua de fato aconteceu ou se não passou de uma armação feita para enganar uma nação desesperada por uma vitória. Essa questão é enfiada no meio de trama de modo tão forçado que aquilo que poderia ter sido um simpático filme de 90 minutos acaba se transformando num longa com mais de 2 horas de duração, gerando uma ‘barriga’ que entrega mais bocejos do que revelações.
Greg Berlanti se tornou conhecido em Hollywood por produções de temática LGBT (Com Amor, Simon, 2018) ou como responsável pelas bem-sucedidas incursões da DC Comics pela televisão, em séries como Arrow (2012-2020) e Superman and Lois (2021-2023). Nada do que aprendeu até então se vê em Como vender a lua, uma realização tão insípida e desprovida de controvérsias que ameaça ser esquecida antes mesmo de ganhar as telas (ou telinhas). É apenas a fórmula sendo repetida passo a passo, sem sustos ou surpresas. Se Johansson e Tatum funcionam melhor separados do que juntos e o tema da corrida espacial já foi melhor explorado antes (e se perde no pouco de original que tinha a percorrer), há de se ressaltar a presença sempre cativante de Woody Harrelson, como um agente do governo que ninguém conhece, não se sabe de onde vem e nem para onde vai, mas que tudo sabe e a todos conhece. Ele surge como a personificação de uma ameaça domesticada, e o desfecho que o personagem recebe (sendo enganado dentro do seu próprio jogo) chega a ser desrespeitoso, mesmo diante tantos absurdos. É por ele, porém, que o prejuízo não é maior.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 5 |
Francisco Carbone | 4 |
Alysson Oliveira | 6 |
Miguel Barbieri | 8 |
Suzana Uchôa Itiberê | 6 |
Daniel Oliveira | 5 |
MÉDIA | 4.8 |
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