Concorrência Oficial
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Mariano Cohn, Gastón Duprat
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Competencia Oficial
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2021
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Espanha / Argentina
Crítica
Leitores
Sinopse
Com medo de ficar esquecido depois de morrer, um bilionário resolve fazer um filme sobre sua vida. Com dinheiro suficiente, ele contrata alguns dos melhores profissionais do cinema, mas que não necessariamente são amigos.
Crítica
Qual o legado de uma vida? Alguns poderiam apontar para o exemplo que uma pessoa deixa aos seus pela forma que conduziu sua existência. Outros apontariam grandes achados ou descobertas, invenções ou mesmo pelo que se acumulou através do trabalho e negociações. Há os que ressaltem aquilo que lhes é dedicado, como uma praça, um busto a ser admirado, uma rua ou ponte com seu nome. E, também, aqueles que veem na arte a única maneira de se manterem eternos. Partindo do ponto de vista de alguém alheio ao ambiente cultural, é provável que a expressão audiovisual seja uma das mais populares e de acesso facilitado. Distante do Teatro, que privilegia o ator, ou da Literatura, que dá vazão à imaginação do autor, o Cinema é aquele que todos comentam, cada pessoa no planeta tem sua opinião a respeito e, mesmo assim, segue mantendo um certo ar de elegância, glamour e respeitabilidade. Concorrência Oficial se debruça nos esforços em alcançar, através da manifestação artística, um elevação coletiva e duradoura. Um processo quase incompatível, ainda que seguidamente ouse ir contra essas probabilidades. Assim como esse filme, que por muitas vezes parece se dirigir a lugar algum, e justamente por isso resulta em algo inesperado e além das expectativas.
Quando o empresário Suaréz (José Luis Gómez, de Abraços Partidos, 2009), após completar 80 anos, se dá conta da própria mortalidade, decide que seu próximo – e mais importante – projeto será deixar algo para a posteridade. Um assessor lhe sugere doações, construções ou iniciativas que, de fato, poderiam fazer a diferença na vida de muita gente. Mas não é isso que ele almeja. Não pensa em fazer o bem, sem que lhe concedam a devida responsabilidade pelos atos proferidos. Quer, acima de tudo, reconhecimento. Tais gestos, assim como se apresentam, podem resultar em mudanças práticas, mas como quantificá-los sem que algo possa ser visto, tocado, sentido de maneira concreta e efetiva? Não importam apenas as consequências, mas também o esforço até que a expressão escolhida se dê por completo. O suor leva à perfeição, e no caso de um multimilionário, o mesmo pode ser aplicado ao quanto mais se gasta, maior será o impacto a ser admirado – ou invejado. Não surpreende, portanto, que decida por patrocinar “o melhor filme de todos os tempos”. Algo que a dimensão do impacto provocado reflita a influência da sua passagem por esse mundo.
Para tanto, logicamente, se farão necessários recrutar os talentos não apenas da realizadora mais celebrada do seu tempo, como também dos dois astros mais consagrados da atualidade. Mariano Cohn e Gastón Duprat, cineastas argentinos aclamados pelos bem-sucedidos O Homem ao Lado (2009), premiado no Festival de Sundance, e O Cidadão Ilustre (2016), vencedor do Ariel, Goya, Platino, Fênix e Veneza, entre mais de três dezenas de troféus, voltam a trabalhar juntos após duas experiências em separado que não atingiram os mesmos patamares de suas direções em conjunto – Cohn entregou a comédia de ação 4x4 (2019), enquanto que Duprat foi responsável pelo simpático Minha Obra-Prima (2018), títulos interessantes, porém de menor repercussão. Agora, no primeiro trabalho da dupla com ambição internacional, reúnem um trio acima de quaisquer suspeitas: Penélope Cruz surge como a realizadora cuja visão dará forma ao longa em debate, enquanto que Antonio Banderas e Oscar Martinez responderão pelos protagonistas na ficção, cada um representando uma leitura distinta do exercer cinematográfico. Os embates entre os três responderão pelos mais deliciosos momentos de humor do projeto.
Mas que não se engane o espectador que esperar daqui uma comédia rasgada, com direito a torta na cara, jogos de sedução ou disputa de egos. Quer dizer, também não se pode dizer que o enredo está ileso destes recursos. No entanto, esses, quando presentes, se fazem válidos mais como subterfúgios, uma distração em direção distinta daquela da qual o debate de fato se estabelece. Cada um, a seu modo, irá representar diferentes arquétipos: a diva criadora, que atende apenas a um lampejo de originalidade e julga que tudo pode – e deve – ser sacrificado em nome dessa elevação artística e moral; o galã conquistador e inconsequente, que tem plena noção do tipo de vende aos olhos do público, ao mesmo tempo em que exerce controle absoluto da carreira e da imagem que projeta como seu maior bem; e o intelectual ostensivo, constantemente indeciso entre a prepotência e o enfado diante daqueles que considera não serem dignos da sua atenção. Evidentemente, a soma desses elementos antecipa um desfecho nada agradável. Porém, assim como em seus exercícios anteriores, Cohn e Duprat estão mais interessados no durante, e não no depois.
Acostumados a lidar com a inadequação do homem comum frente à situações extraordinárias, os diretores tem aqui um prato cheio a partir desse tema, ao qual adicionam camadas de maior ou menor impacto, invariavelmente relacionadas ao estrelismo comercial e à uma suposta elite intelectual e limitadora. Porém, os caminhos pelos quais Concorrência Oficial transita são diversos daqueles que uma obra mais previsível se daria o trabalho de trilhar. Sucesso tanto pode ser medido pelos aplausos após o término da sessão como, também, pelo efeito de cada um dos esforços empreendidos mesurados internamente, atendendo apenas a uma demanda íntima e particular do artista em questão. E quanto ao dono do sistema de poder, aquele que tudo manda e possui, mas que nada conhece e desenvolve, mudar vidas parece ter o mesmo peso de transpor fronteiras, sejam elas imaginárias e criativas, como também físicas e factíveis. Afinal, quando o amanhã chegar, qual diferença uma ou outra irá provocar? Cabe aos que por aqui permanecerem buscar por uma resposta.
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