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Sinopse

Jacques é um escritor e dramaturgo que vive em Paris. Arthur é um jovem estudando em Rennes. Eles se encontram na esquina entre um teatro e cinema. Eles vivem uma história em um período complicado dos anos 1990, onde o amor paira sobre a morte e a ternura luta contra o desespero, porém, a vida continua contra todas as probabilidades.

Crítica

É engraçado que o título deste filme do cineasta francês Christophe Honoré, que no Brasil ficou bem próxima do original – Plaire, Aimer et Courir Vite poderia, literalmente, ser entendido como Prazer, Amar e Correr Rápido – tenha recebido, nos países de língua inglesa, o batismo de Sorry, Angel, algo como Desculpa, Anjo. Aparentemente, seria algo descabido. No entanto, à medida que a trama vai se desenvolvendo, percebemos que talvez este seja um nome mais lógico do que o nosso Conquistar, Amar e Viver Intensamente. Afinal, mais do que os rápidos envolvimentos amorosos que vão pontuando a jornada do protagonista, está no desapontamento que ele proporciona quando, pela primeira vez, experimenta algo mais do que um fugaz entrelace sexual, a verdadeira alma aqui em questão. É quando ele precisa, enfim, se desculpar, pois não há mais tempo para nada. Mesmo que, se assim desejasse, talvez fosse possível ter evitado esse desfecho. Algo profundo, mas que o diretor desempenha com sobriedade e bastante lucidez.

Nas primeiras cenas de Conquistar, Amar e Viver Intensamente, encontramos Jacques (Pierre Deladonchamps, ótimo em uma apatia casual) ao mesmo tempo se declarando e dispensando um garoto mais novo com quem havia tido alguns encontros, provavelmente. O “eu te amo” surge na mesma constância de um “precisamos de um tempo” na conversa dos dois, geralmente provocados pelo mais velho. Ao se despedirem, em meio às juras mútuas, sabemos que nunca mais se verão. O suficiente, aliás, para delinear o perfil deste homem: um bon vivant, que vive um dia após o outro, sem nunca – ou muito pouco – se preocupar com o amanhã. Ele possui relacionamentos, sim, mas os duradouros são aqueles que pouco conseguem dele se aproximar: o vizinho do andar debaixo, a amiga com quem teve um filho – uma escolha quase matemática – e até mesmo a criança, a quem vê regularmente, porém sempre mantendo uma distância calculada. É dono de muitos afetos, e os distribui gratuitamente, exigindo pouco como retorno, a não ser a sua própria privacidade.

Pois ao mesmo tempo, enquanto acompanhamos esse olhar pela vida de alguém que está prestes a mudar o seu jeito de ser, ainda que não saiba disso, somos apresentados àquele que será responsável por essa transformação. Arthur (Vincent Lacoste, longe do adolescente enjoado que tanto lhe cai bem) é um rapaz que está começando a descobrir o mundo. Rejeita aproximações duradouras, e se satisfaz com o imediato: o flerte, o prazer, a sensação. É por isso que hesita em dar respostas definitivas à pretensa namorada, ou em assumir compromissos mais sérios. Isso, ao menos, até conhecer Jacques. O primeiro encontro dos dois parece ser meramente casual. Algo tão efetivo quanto passageiro. Porém uma festa de amigos, um hotel vagabundo e uma noite que parece não acabar nunca podem ter consequências inesperadas.

Entre idas e vindas, um está no interior e o outro na capital, e as maneiras como cada um deles veem o mundo vão se alterando até o momento em que voltam a entrar em rota de colisão. Parecem ser independentes, mas é somente quando se descobrem nos braços – e nos sonhos – um do outro é que se percebem, enfim, completos. Mas seria essa realidade de fato algo há muito almejado? Ou a realização do novo, assim como estimula aquele que se depara com ela pela primeira vez, não causaria medo naquele que descobre ser tarde demais? E se um está pronto para dar este mergulho, como deve reagir quem se dá conta que não sabe mais respirar debaixo de toda aquela água? A falta de timing do destino é cruel, e cobra um preço muitas vezes alto demais a ser pago. Portanto, quando frente a uma encruzilhada como essa, talvez o mais apropriado seja, mesmo, sair de cena. E que reste apenas o apagar das luzes.

Não é uma questão de covardia: é pura praticidade. Não é abdicar-se de si mesmo: é, por fim, pensar no próximo. Não é egoísmo: é compaixão. A conquista pode ser fácil – e múltipla – enquanto que amar, por tão raro que seja, quando finalmente acontece pode correr o risco de passar desapercebido – não seria esse o pior dos castigos? Mas viver até o último minuto talvez seja a mais sábia das lições, ainda mais quando compete a si mesmo decidir quando será esse instante derradeiro. Conquistar, Amar e Viver Intensamente é uma emocionante carta de amor. Sofrida, dolorida, mas tão cheia de emoções vívidas que é impossível não se deixar levar pela sua narrativa. Ainda que essa nos conduza, de forma traiçoeira, a um ponto onde não será mais possível voltar atrás. Exatamente quando mais precisávamos dessa alternativa. Mas saber como lidar em momentos assim é justamente o diferencia os homens dos meninos. Por mais triste que a realidade se apresente.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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