Crítica
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Sinopse
Em Contra o Mundo, depois que sua família é assassinada por Hilda Van Der Koy, a matriarca de uma dinastia pós-apocalíptica, um garoto jura vingança.
Crítica
Bill Skarsgard ainda está em busca de um filme para, enfim, chamar de seu. Membro de um clã famoso em Hollywood, é filho de Stellan (o barão Harkonnen de Duna, 2021) e irmão de Alexander (o astro de A Lenda de Tarzan, 2016). Ele, no entanto, apesar de já ter aparecido em papéis de destaque em produções campeãs de bilheteria – como o palhaço Pennywise, de It: A Coisa (2017) ou Kro, o grande vilão de Eternos (2021), no Universo Cinematográfico Marvel – há sempre algo distraindo a audiência em sua relação, sejam quilos de maquiagem ou impressionante efeitos visuais. Bom, se em Contra o Mundo ele, finalmente, aparece de rosto limpo, por outro lado há um diferente empecilho no seu reconhecimento: Garoto, o seu personagem, além de sequer ter nome, também não tem voz – o personagem é mudo. Mesmo assim, é ele quem narra quase toda a trama, em uma falação constante e irritante. Porém, não por meio da sua própria dicção (quem o dubla é o ator H. Jon Benjamin, conhecido por ter participado de séries como Archer, 2009-2023, e Uma Família da Pesada, 2006-2024). A desculpa é que a substituição teria sido feita por um “timbre” mais impactante. Mas esta impressão é gerada pelo filme como um todo? No geral, a decepção é tão grande quanto a chance do caçula dos Skarsgard ter mais uma vez sua chance de estrelato frustrada.
Com um orçamento que ficou em torno dos US$ 20 milhões (relativamente baixo para os padrões hollywoodianos), Contra o Mundo marca a estreia nos Estados Unidos – e no formato de longa-metragem – do cineasta alemão Moritz Mohr, que até então havia dirigido apenas curtas-metragens e seriados. A pouca experiência fica evidente já no enredo, que é praticamente uma colcha de retalhos inspirada (para não dizer ‘copiada’) de títulos mais bem-sucedidos, que vão desde a saga Jogos Vorazes até a recente animação Nimona (2023). Afinal, a quantidade de sociedades distópicas lideradas por déspotas agressivos é bastante diversa, e tem tomado conta do cinema comercial dos anos 2000 para cá. Sua estrutura, no entanto, revela o expertise dos seus roteiristas. Ao lado do cineasta estiveram na escrita Tyler Burton Smith (que assinou videogames como Sleeping Dogs, 2012, Quantum Break, 2016, e Alan Wake II, 2023) e Arend Remmers (de séries como Dogs of Berlin, 2018, e Ze Network, 2022). Vindo desses autores, não teria como ser diferente: um aspecto televisivo viciado em decisões unidimensionais, que até podem funcionar num jogo isolado, mas soam redundantes numa proposta audiovisual mais complexa.
Apesar das aventuras citadas acima terem servido, inegavelmente, como inspiração para a forma perseguida, a lógica narrativa parece ter tido como referência um longa bem mais discreto e menos popular: Armas em Jogo (2019), no qual Daniel Radcliffe tinha revólveres atados às mãos e atirava indiscriminadamente em qualquer um que se opusesse a ele no cumprimento de uma missão dita suicida. Pois então, é mais ou menos esse o quadro percorrido pelo Garoto (Skarsgard). Nessa realidade, o governo é comandado por uma única família: os Van Der Koy. Extremamente violentos, matam sem muitas justificativas qualquer um que se oponha às suas diretrizes, mesmo que muitas delas sejam absurdas. Entre os diversos mortos estiveram a mãe e irmã do Garoto, que, meio que por um milagre, acabou sobrevivendo. Resgatado pelo mestre Shaman (Yayan Ruhian, de John Wick 3: Parabellum, 2019), aprendeu com esse como se tornar imbatível. Já adulto, parte em busca de vingança. Mas será apenas uma questão de ‘olho por olho, dente por dente’? Ou haverá nos bastidores destes acontecimentos ocorridos décadas atrás outros segredos ainda por serem revelados?
Bill Skarsgard, por mais que tenha se acostumado a um tipo vilanesco e de moral dúbia, se mostra confortável com as exigências físicas desse papel, revelando-se um herói apropriado. Visto desta forma, se confirma enquanto escolha para dar vida a essa figura que pouco fala, mas muito age. Sua transformação física é impressionante, assim como também é o carisma que exibe através de expressões faciais e pela interação com os demais do elenco. Sharlto Copley e Michelle Dockery usam e abusam de exageros, tanto no vestuário como na expansão gestual. Brett Gelman (Stranger Things, 2017-2022) e Jessica Rothe se saem um pouco melhor, muito por não irem além de suas ‘zonas de conforto’, entregando o que deles já era esperado. Talvez o maior impacto (negativo) seja a presença limitada de Famke Janssen, como a oponente diante da qual todos temem e receiam se deparar, mas que, apesar de muito se falar sobre ela, pouco tem a fazer quando, enfim, decide dar as caras. Evidentes intervenções estéticas restringiram sua capacidade dramática (que já não era das mais amplas), entregando agora uma figura robótica, que não consegue ficar à altura da expectativa pelo filme inteiro alardeada.
Dessa forma, Contra o Mundo termina sua inglória jornada pecando naquilo que lhe é mais crucial: a falta de interatividade proposta por uma trama por demais ancorada em um formato de videogame, dependendo, portanto, de uma condição que nunca chega a alcançar o seu intento, por maiores que sejam os esforços envolvidos. Mesmo sem abrir a boca (e dotar sua composição das devidas nuances que apenas ele poderia proporcionar), Bill Skarsgard testemunha uma oportunidade desperdiçada de ir além do mero ‘homem de combate’, como se não lhe fosse permitido alcançar qualquer registro que não o da força bruta contra uma violência estilizada. Envolta por um contexto que apela mais ao barulho do que ao entendimento, a trama anda assume uma ousada reviravolta prestes ao seu desfecho que falha também em propor a surpresa necessária para gerar o tipo de impacto imaginado. Pois demais explicado e muito pouco entendido, eis uma história com muito “tiro, porrada e bomba”, mas desprovido de humor, originalidade ou mesmo dinâmica. Um bocejo do início ao fim.
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