Crítica
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Sinopse
James se junta a uma organização paramilitar a fim de continuar sustentando a família após a dispensa dos fuzileiros navais. Ele precisa liderar uma equipe tática na Europa, onde há indícios de uma perigosa ameaça.
Crítica
Há um bom tempo Chris Pine deixou de ser um ‘ator de cinema’, no sentido legítimo do termo. Ele continua sendo um astro, é claro, quando envolto em superproduções como os longas da Mulher-Maravilha (2017 e 2020) ou da saga Star Trek (uma quarto filme já está previsto para 2023). Fora desses, no entanto, seu último trabalho a ser exibido na tela grande foi o pretensioso Uma Dobra no Tempo (2018). Nesse meio tempo, tem participado de séries, animações, produções para a Netflix (Legítimo Rei, 2018) ou para a Prime Video (Um Jantar Entre Espiões, 2022). É essa plataforma também que se ocupou de lançar seu mais recente projeto, esse genérico Contrato Perigoso, no qual retoma a parceria com Ben Foster (com quem atuou no oscarizável A Qualquer Custo e em Horas Decisivas, ambos de 2016). E se a perspectiva de vê-los mais uma vez juntos é auspiciosa, o que se revela em cena é o contrário, uma sequência de situações e argumentos há muito explorados em títulos similares, que se apoiam basicamente no carisma e na presença dos seus protagonistas, deixando ‘detalhes’ como um bom roteiro e uma direção segura em um segundo plano.
Pine aparece como James Harper, um ex-fuzileiro naval que foi dispensado da corporação após um troca de comando. Sem muitas opções e com as dívidas se acumulando em casa, onde mora com a esposa (Gillian Jacobs, de Community, 2009-2015) e o filho, acaba aceitando o convite de um antigo colega (Foster, em participação quase especial) para se juntar a uma força de operações especiais, alegadamente sob comando direto do presidente para atuar em territórios estrangeiros em nome da “segurança interna” do país. Ou seja, é aquele mesmo papo de agentes secretos que precisam se infiltrar em ações nunca divulgadas para fazer o ‘serviço sujo’ que mais ninguém ousa meter o dedo. Basicamente, é o cerne de toda a saga Missão: Impossível, com Tom Cruise, que já está há seis – indo para o sétimo – filmes fazendo exatamente a mesma coisa. Como se percebe, não há muito que o galã de aventuras como Operação Sombra: Jack Ryan (2014) e Guerra é Guerra (2012), cujos personagens dele transitavam por estes mesmos ambientes, possa acrescentar ao gênero.
Chama atenção, no entanto, como o diretor Tarik Saleh é econômico ao elaborar o palco de sua história. Tanto é seu cuidado na construção de cada passagem inicial que resulta na impressão de estar mais interessado nessa preparação do que no desenrolar dos acontecimentos há muito antecipados. E não sem razão, pois o começo, de fato, se apresenta de forma envolvente, fazendo de Harper uma figura injustiçada em busca de novas oportunidades, mas sem se permitir uma revolta contra os antigos superiores, justamente pela formação militar que o impede de tais questionamentos. Saleh vem de experiências em séries como Westworld (2018) e Ray Donovan (2018), mas é conhecido em Hollywood por ter comandado o videoclipe do sucesso I Follow Rivers, da cantora Lykke Li. Ainda assim, são créditos pouco impressionantes para a dimensão da tarefa que aqui tem em mãos, diante da qual lida até certo ponto com competência, para a partir de um momento de virada deixar para trás qualquer traço de personalidade, recaindo no mais previsível e convencional possível.
O pôster de divulgação de Contrato Perigoso exibe o rosto de Chris Pine à frente de uma bandeira norte-americana tremulante. Esse patriotismo exacerbado, tão característico em grande parte do cinema feito nos Estados Unidos, encontra ressonância no esforço da trama, escrita por J. P. Davis (que antes havia assinado a comédia Um Amor de Vizinho, 2007, mais de uma década antes), em defender o personagem principal, mesmo quando esse incorre em atitudes não apenas questionáveis, mas assumidamente errôneas. Pois, quando aceita participar de uma missão organizada pelo agenciador interpretado com tintas pesadas por Kiefer Sutherland, é enviado a Berlim com a ordem de impedir o trabalho de um laboratório supostamente clandestino. Obviamente, nada do que lhe disseram se confirma ser verdadeiro. Porém, a real natureza dos atos e pessoas contra as quais se coloca em conflito só será por ele descoberta muito após ter feito o que lhe mandaram. Assim, como tantas vezes antes se viu, resta a James Harper o mesmo destino de muitos dos seus colegas: se torna um renegado, perseguido tanto pelos que pensavam estarem ao seu lado, como também por aqueles que atacou. Se torna um exército de um homem só, porém sem a poesia de um Moacyr Scliar para tornar esse relato minimamente interessante.
Tanta revisitação talvez nem fosse por demais problemática, não fossem outros tropeços que prejudicam gravemente uma fruição aleatória, por mais distanciado que o espectador se coloque. A sequência do ataque na capital alemã, quando Harper tem sua tentativa de permanecer incógnito frustrada e diversos espiões tentam assassiná-lo em meio à população, é tão mal feita e desorientada, seja pela edição avessa ao desenrolar lógico dos acontecimentos, uma trilha sonora reiterativa e repleta de dispositivos de reação imediata, ao invés de forçar um envolvimento crescente, finalizando por uma fotografia perdida, que parece não saber ao certo para onde mirar sua atenção, que o todo se aproxima perigosamente de um naufragar constrangedor. Chris Pine já se aventurou por estes mesmos cenários, e em situações melhores, assim como seus parceiros de cena. Contrato Perigoso, portanto, se mostra aquém tanto dos potenciais envolvidos, como também do meio no qual tenta se inserir, desprovido de elementos ou mesmo de uma vontade que justifique tal definição.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Francisco Carbone | 5 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
MÉDIA | 4.3 |
Como diria meu pai: - Lo que saire …
O filme em questão não têm a pretensão de mudar a história, muito menos o mundo. Esses críticos se arvoram de intelectuais em opiniões que o cidadão comum faria melhor que eles. Trata-se de uma produção para ser vista mais como entretenimento, de maneira despretensiosa. Eles sabem disso, mas se agarram como aves de rapina na presa. .