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Crítica


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8 votos 8.6

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Sinopse

Após seu mestre morrer subitamente, o jovem William, um valoroso escudeiro, resolve substituí-lo em uma competição envolvendo combate com lanças. Para tanto passa a treinar exaustivamente e consegue convencer Chauncer, um escritor, a forjar para ele uma nobre árvore genealógica.

Crítica

A última cena de Coração de Cavaleiro, antes de começar a subir os créditos, esclarece para qualquer um ainda em dúvida que esse não é um filme que se leva a sério. Não que nesse ponto, quando está tudo acabado, sobre alguém confuso quanto ao que acabou de ver, pois são inúmeras as oportunidades levantadas pelo roteiro que nos apontam a mensagem “isso tudo é uma grande brincadeira, deixe seu senso crítico de lado e se divirta conosco”. Pensando assim, você estará de acordo com o título original, A Knight’s Tale, ou seja, Um Conto de Cavaleiro, isto é, nada de História, nada de seriedade – é tudo fantasia, esqueça por duas horas a realidade e aproveite! Como se isso fosse possível, é claro.

Heath Ledger era não mais do que uma promessa quando Coração de Cavaleiro chegou aos cinemas. Era o nome que os grandes executivos de Hollywood daquela época estavam depositando todas as suas fichas. Afinal, era um rapaz boa pinta, simpático, com pinta de galã. Havia chamado atenção há pouco tempo numa comediazinha adolescente acima da média (10 Coisas que eu Odeio em Você, 1999), havia sido o filho de Mel Gibson no épico O Patriota (2000) e aqui partia para o primeiro papel de protagonista. Uma escolha, aliás, até certo ponto acertada, pois trata-se de uma aventura agitada, com bons coadjuvantes (Mark Addy, Paul Bettany, Rufus Sewell, e a bela Shannyn Sossamon) e nas mãos de um diretor que, ainda que novato na área, já tinha um nome reconhecido em Hollywood: Brian Helgeland, vencedor do Oscar pelo roteiro de Los Angeles: Cidade Proibida (1997).

E a história? É cheia de boa índole. No período medieval, um rapaz pobre, por acaso do destino, assume o lugar do seu tutor como cavaleiro e acaba se revelando exímio campeão em justas a cavalo. Logo ele se apaixona pela mais bela das princesas e precisa vencer o grande vilão invicto. Ou seja, nada de novo, certo? O diferencial é que é tudo muito pop, de acordo com as plateias jovens do início do milênio, esse mesmo pessoal que costumava lotar os cinemas ao redor do mundo.

Porém, tudo que é muito engraçadinho logo cansa por nunca ir além disso, principalmente porque vislumbramos possibilidades que não se concretizam por falta de habilidade e ousadia de quem conduz a trama. A trilha sonora é contemporânea, com clássicos que marcaram época. Essas canções, no entanto, se encontram isoladas em momentos “divertidos”, e só. Não é como Moulin Rouge: Amor em Vermelho (2001), no qual a música servia como guia. Os personagens agem como se os cavaleiros fossem ídolos do esporte, com torcidas, caras pintadas e muita gritaria, mas apesar disso existe o contraste dos reis e a vilania dos bastidores sem profundidade. A impressão é que estão ali por acaso, apenas para justificar a época escolhida, pois nenhuma outra razão fica mais evidente. Ou seja, a trama perde seu contorno factual, descaracterizando-se.

Apesar disso, Coração de Cavaleiro é uma boa pedida para qualquer um atrás de diversão leve e inconsequente. Há o risco, é claro, do cérebro entrar em ponto morto e sofrer um pouco para voltar ao funcionamento normal. Mas, durante a sessão, o entretenimento será garantido. E isso, às vezes, é tudo o que precisamos.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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