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Crítica


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Sinopse

Roman e Lucy vivem um intenso romance nas terras geladas de uma cidadezinha do Polo Norte. Porém, esse relacionamento é colocado em risco quando ambos entram numa espiral de paranoia.

Crítica

O canadense Kim Nguyen está construindo uma carreira interessante. Se investigarmos suas primeiras apostas, é possível conferir um troféu no Festival de Berlim por A Feiticeira da Guerra (2012) e outros carimbos em premiações destacadas. Com Corações Gelados, o realizador deu mais um passo em sua estruturação profissional ao contar uma provocante história de amor caloroso num mar de gelo. Entre êxitos e desacertos narrativos, uma dupla competente de atores auxilia no resultado final.

Sem rodeios, logo percebemos que Lucy (Tatiana Maslany) e Roman (Dane DeHaan) possuem uma química única. Conversam sobre música, cotidiano e comportamento como dois amigos de longa data. Apesar de viverem numa parte hostil do globo, possuem os corações aquecidos pelo romance que sentem um pelo outro. Este sentimento, por diversas vezes, é tomado por uma libido intensa, que reforça ainda mais a união dos amantes.

Ao decorrer de boa parte da trama, Nguyen nos faz crer que estamos observando um casal inconsequente, que faz sexo em locais inapropriados, bebe álcool exageradamente, confia no fantasioso e desperdiça dinheiro. Entretanto, aos poucos, são expostos os fantasmas dos passados de ambos. No sul do Canadá, Roman era espancado pela família e rumou ao Norte em busca de paz. No local, conheceu Lucy, que foi abusada pelo próprio pai. Embora o patriarca já tenha morrido há algum tempo, ela o vê constantemente na figura de uma assombração.

A primeira parte do enredo se torna complicada, pois o diretor elabora muitas peças que depois não pretende mais encaixar. Um flerte com a dependência química e discussões incoerentes são alguns dos exemplos. Porém, vencendo os primeiros descompassos, a crônica engrena. Aliás, muito por ela se transformar num road movie em sua metade, nos fazendo questionar o porquê de ter demorado tanto a dar essa partida. Ademais, cabe aqui uma observação ao título da empreitada. No original, Two Lovers and a Bear faz referência a um Urso Polar que surge numa figura encantada. Sua presença é um tanto quanto descartável. No Brasil, Corações Gelados também não é respeitoso, visto que tudo no filme tudo pode ser gélido, menos os Corações.

DeHaan, que deslizou na última década ao aceitar papéis que não tinham a lhe acrescentar - como em O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014) e Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (2017) -, possui aqui uma jóia que merece ser descoberta. Na mesma medida, Tatiana guarda talento numa produção que ficou perdida entre os mais ambiciosos Orphan Black (2013-2017) e O Que te Faz Mais Forte (2017).

Sob a desenvoltura desses dois artistas, temos aqui uma atraente fábula sobre relacionamentos entre pessoas que carecem de apoio emocional. O longa trabalha bem na elucidação de temas que se referem a jovens que demonstram ingenuidade no amadurecimento. É difícil não empatizar com personagens que tiveram suas polícias internas prejudicadas por traumas e não possuem o entendimento do ambiente que os cerca. Contudo, vale ressaltar que a obra pode ser um arranjo recheado de gatilhos emocionais.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]

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