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Crítica


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Sinopse

Filha de pais equilibristas e criada no circo, Maria se muda para a cidade grande a fim de morar com a avó. Quando sua memória começa a falhar, ela precisa ir fundo nas lembranças e utilizar uma corda bamba como elo.

Crítica

A sequência que abre o drama Corda Bamba: História de uma Menina Equilibrista, longa-metragem de estreia de Eduardo Goldenstein, apresenta o enterro de um palhaço. Mais exatamente, a representação cômica deste funeral, feita por um grupo circense que faz o cortejo em pleno picadeiro para o companheiro falecido. Morte e ludicidade se anunciam como temas do filme, que ainda caminha cuidadosamente por outros tópicos obscuros numa abordagem delicada e pueril.

Baseado no livro homônimo da escritora gaúcha Lygia Bojunga, Corda Bamba narra a história de Maria, menina que nasceu no circo e foi criada por pais equilibristas. Ao completar 10 anos, ela é levada por seus padrinhos, uma mulher barbada e um mágico, para viver com sua avó. No quarto andar do prédio que é sua nova casa, ela se transporta por uma corda bamba para um universo lírico onde suas lembranças estão guardadas, das mais bonitas às mais trágicas, que ela mantém oculta entre suas memórias.

Goldenstein foi cuidadoso em todas as etapas da adaptação de um livro tão complexo e sensível para as telas, principalmente no que tange a morte e seus estigmas no imaginário infanto-juvenil. Seu roteiro, composto ao lado de George Moura, toma tempo para ilustrar o universo de Maria, que se recolhe e interioriza seus traumas infantis enquanto os resolve aos poucos – o que o filme habilmente ilustra como ela abrindo portas que representam diferentes lembranças reprimidas. Sua trama de superação é mais pungente que outros filmes recentes destinados ao mesmo público, como Meu Pé de Laranja Lima (2013), e Corda Bamba se destaca também por colocar uma protagonista menina entre tantas outras produções, geralmente protagonizadas por garotos.

Maria ganhou a graça e introspecção de Bia Goldstein, filha de Eduardo, que a elegeu enquanto fazia testes com outras atrizes mirins e percebeu a relação e carinho da filha para com a personagem. A escolha foi arriscada, pois facilmente ele poderia ser acusado de nepotismo, mas a pequena atriz revela um talento comovente, muito evidenciado nas sequências de conflito com sua avó, interpretada por Stela Freitas. Claudio Mendes também se destaca no elenco como a sensível mulher barbada, e faz valer a curiosa escolha de um homem para um papel que, independentemente da importância dos pelos, é tão feminino.

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Ainda que haja um ou outro problema com os efeitos digitais, como nas sequências em que Maria é equilibrista, Corda Bamba é um trabalho original e eficiente, que deve agradar tanto audiências adultas quanto as mais jovens. O drama reserva pontuais momentos de humor para quebrar a seriedade da trama e funciona como uma tocante introdução aos temas que aborda, em especial quando representa a dor da perda de entes queridos na infância.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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