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Sinopse
A Rainha Elizabeth é apaixonada por cães da raça Corgi e, dentre os que vivem no Palácio de Buckingham, Rex é o seu queridinho. Acostumado com as mordomias da realeza, tudo muda quando ele cai na armadilha de um outro cachorro que quer tomar o seu lugar. Preso no canil da cidade, agora irá precisar de toda a ajuda que conseguir para voltar ao lar e retomar seu posto de favorito da monarca.
Crítica
Animação em longas-metragens parece ser uma técnica cuja primazia é de Hollywood, mas basta um olhar mais detalhado para se constatar que essa realidade não é tão absoluta. Por mais que títulos da Disney, Pixar e Dreamworks, entre outros grandes estúdios, costumam dominar as bilheterias, volta e meia cinematografias sem tanta experiência no formato decidam se arriscar por estes cenários – até mesmo o Brasil já concorreu ao Oscar da categoria, com O Menino e o Mundo (2013). Porém, se quantidade gera qualidade, não chega a ser exatamente uma surpresa o fraco desempenho desse Corgi: Top Dog, produção belga que procura brincar com ambientes conhecidos do público britânico, mas reserva para sua estrutura central uma narrativa tão corriqueira quanto envelhecida, desprovida de novidades e ingênua em sua proposta. Talvez seja um primeiro passo, rumo a um amadurecimento futuro. Se esta for a ideia, talvez faça algum sentido. Mas qualquer que seja sua razão além do exercício, o desgaste se confirma inevitável.
Corgi, ou ‘welsh corgi pembroke’, é uma raça de cães, nativa do País de Gales, que se tornou conhecida em todo o mundo após ser declarada a raça oficial da rainha Elizabeth II, do Reino Unido. A paixão da monarca pelos cachorrinhos de pernas curtas, orelhas compridas e rabo inexistente é tamanha que há até um quarto inteiro no Palácio de Buckingham exclusivo para o pequenos! E se essa afeição não passou desapercebida pelos admiradores da realeza, no longa de Vincent Kesteloot e Ben Stassen – responsáveis também por As Aventuras de Robinson Crusoé (2016) – ela ganha ares de protocolo de etiqueta. Dentre os cãezinhos de estimação, apenas um é digno do título de ‘top dog’, ou seja, o preferido. O escolhido acaba sendo o recém chegado Rex, um filhote mimado desde seu primeiro momento nas dependências reais. Para os mais velhos, chega a ser um alívio ficarem livres das obrigações e das atenções do dia a dia. Mas para outros, o título que recebe será motivo de inveja.
O que se vê a seguir, portanto, é a velha jornada de descobrimento. Rex é tão cheio de si que precisa, por assim dizer, receber uma lição de ‘humanidade’ (ou seria de ‘caninidade’?). Quem irá lhe proporcionar esse processo de transformação, ainda que contra sua vontade, será justamente um dos seus companheiros, justo aquele menos satisfeito com a posição pelo outro conquistada. Uma vez com o protagonista fora do caminho, será fácil a eleição de um novo ‘top dog’, apontando para a sua escolha natural. Enquanto isso, Rex terá que se virar como plebeu – como se isso fosse muito complicado. É quase que uma versão condensada de A Dama e o Vagabundo (1955), porém reunida num único personagem, que no começo é dama, apenas para logo em seguida se transformar em vagabundo. O cinema mais comercial, aliás, tem se revelado, com o passar dos anos, bastante afeito a mudanças radicais como essa, do clássico Minha Bela Dama (1964) até comédias como Trocando as Bolas (1983), entre tantos outros exemplos.
Pois Rex é tão inocente em relação ao mundo fora dos muros do palácio que não demorará para ser levado a um abrigo de animais, todos abandonados à própria sorte, assim como ele. Lá, pela primeira vez, terá que aprender a lidar com as diferenças – tanto de sexo como, e principalmente, de tamanho, força e inteligência. O que vem a seguir é bastante óbvio: irá se apaixonar pela mocinha e enfrentar o valentão arrogante. Mas há um passo seguinte a ser dado: reconquistar o que lhe é de direito, encontrando o caminho de volta para casa. Só que, dessa vez, não estará sozinho. É perceptível a colcha de retalhos que constitui o roteiro de Rob Sprackling e Johnny Smith – a mesma dupla de Gnomeu e Julieta (2011). É quase como se seguissem uma cartilha há muito já gasta, da qual se substituem apenas alguns elementos mais óbvios, sem evitar, no entanto, de incorrer nas mesmas reviravoltas, soluções e desfechos que tantos outros usaram e abusaram em ocasiões anteriores.
Enquanto isso, situações no mínimo absurdas para uma produção nitidamente voltada ao público infantil se desenrolam, como uma cadela ninfomaníaca e tentativas de homicídio (ou seria canicídio?) em lagos congelados ou em incêndios criminosos. Exageros que, se não assustam, ao menos deveriam. Por outro lado, uma leitura mais adulta da trama se mostra quase irrelevante, desprezando as participações vocais de nomes de destacada importância, como Julie Walters e Tom Courtenay – como a Rainha Elizabeth e o Duque de Edimburgo, respectivamente – que mal aparecem, enquanto que piadas, como a participação do presidente norte-americano Donald Trump, soam inevitavelmente deslocadas. Enfim, Corgi: Top Dog tem como seu maior mérito a escassa duração – pouco mais de 80 minutos – pois tamanha reciclagem de estruturas desgastadas é comprovadamente ineficaz em manter qualquer audiência minimamente atenta, por mais ambiciosas que se esforcem em ser suas intenções – mais um dos seus tantos tropeços, evidentemente.
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