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Sinopse

David Dunn é o único sobrevivente de um terrível acidente do qual escapa sem nenhum arranhão. Isso desperta a atenção de Elijah Price, um estranho e sombrio homem fanático por histórias em quadrinhos, que acredita ter a solução para o mistério. Juntos eles embarcam em uma envolvente jornada de auto-conhecimento.

Crítica

Após o estrondoso sucesso de O Sexto Sentido (1999), muito se esperou por um novo trabalho de M. Night Shyamalan. E em janeiro de 2001, estreava Corpo Fechado, mais uma parceria entre o cineasta e o ator Bruce Willis. Talvez por muitos esperarem mais uma história de suspense e terror, a recepção do público acabou não sendo tão calorosa quanto se imaginava. Mesmo sabendo desta expectativa da grande audiência, o cineasta resolveu não se repetir.

David Dunn (Willis) está voltando para Filadélfia de trem e um terrível acidente acontece. Inexplicavelmente, ele é o único sobrevivente em um descarrilamento que vitimou 125 pessoas. Se já não bastasse isso, Dunn não possui nenhum arranhão no corpo. Ainda tentando entender como escapou ileso, ele é procurado por Elijah Price (Samuel L. Jackson), um colecionador de histórias em quadrinhos que acredita que David possa estar fadado a uma missão nobre: salvar os fracos do mal. Isso mesmo. Corpo Fechado nada mais é do que a história da origem de um super-herói. Logo de início nos é explicado que Price sofre de uma doença rara, fazendo com que seus ossos sejam tão frágeis que uma simples batida pode esfacelá-los. Como não pode brincar como uma criança normal, Elijah cresce cercado de gibis e histórias sobre heróis. Já adulto, começa a procurar quem seria o seu oposto, alguém que fosse inquebrável. E acredita que David seja a resposta para a sua procura.

Novamente Shyamalan trata da exclusão que uma habilidade ou uma condição pode trazer ao ser humano. Assim como o menino Cole Sear em O Sexto Sentido, que não se relacionava com outras crianças pelo fato de ser assombrado por fantasmas, Elijah Price cresceu cercado apenas pelos seus amigos de papel, os heróis das HQs, por não poder movimentar-se e divertir-se como os garotos de sua idade. Outro ponto caro ao cineasta e que retorna neste longa-metragem são os dramas familiares. David está com problemas em seu casamento e sua esposa, Audrey (Robin Wright), vê no acidente uma oportunidade de dar uma segunda chance a este relacionamento. O filho do casal, Joseph (Spencer Treat Clark), sofre com a situação e tenta aproximar os pais. Uma cena chave disso é logo após o acidente, quando David reencontra a família e o garoto tenta unir as mãos dos pais, que logo se desvencilham quando este não está mais olhando.

Bruce Willis está extremamente contido em Corpo Fechado. Sua atuação reflete bem o que aquele homem está passando. Como o personagem de Samuel L. Jackson afirma em certo momento do longa: "não há nada mais assustador do que não saber seu lugar no mundo". E é exatamente isso que David Dunn sofre todos os dias. Atuação introspectiva de Willis, mais uma vez dirigido com precisão pelo cineasta. Mas a grande atração do filme é Elijah Price. Vestindo-se de roxo, com um cabelo singular e extremamente sério acerca de suas certezas, aquele homem frágil é um dos personagens mais interessantes que Shyamalan já concebeu. Em seu terceiro filme juntos, a química entre Willis e Jackson estava cada vez melhor e atinge resultados impressionantes quando dividem a tela.

Algo que chama a atenção na direção de Shyamalan são as formas inventivas de enquadrar seus planos. Logo no começo do longa, quando Bruce Willis está no trem, a câmera fica localizada nos bancos em frente ao ator, fazendo com que ela tenha que se mover para focar ora o ator, ora a atriz que está ao seu lado. Tomadas longas, como quando David está no hospital, ou enquanto conversa com Elijah Price no estádio são interessantes por serem planos bastante abertos e descritivos. David está perdido, confuso, e a câmera não se aproxima dele nestes momentos. Outra bela cena envolve o protagonista e seus apurados poderes dentro de uma estação rodoviária. As cores aguçadas de alguns personagens são inseridas para mostrar à audiência que aquela é uma pessoa que teve algum efeito em sua percepção.

Corpo Fechado é um drama que conta a origem de um herói original, saído da mente de Shyamalan, um grande fã de HQs. A resposta negativa do grande público pode estar na forma que o filme foi vendido. Quem esperava assistir a um thriller sobrenatural tende a não se impressionar com a história. O longa é um drama com uma narrativa minuciosa, que privilegia o crescimento dos personagens, tendo um ritmo lento, porém preciso. A ideia do cineasta, aliás, era de fazer de Corpo Fechado o primeiro capítulo de uma trilogia, mas que até hoje não viu a luz do dia. Existem planos mais concretos para um segundo filme e tanto Bruce Willis quanto Samuel L. Jackson já se mostraram abertos a participar. O que deve estar emperrando esta sequência são os constantes fracassos de bilheteria dos filmes do diretor. Não seria então esta uma chance de dar a volta por cima?

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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