Crítica
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Sinopse
O ucraniano Mykola é um professor de física que testemunha a mulher grávida sendo assassinada durante a invasão da Rússia à região. Determinado a se vingar, ele se junta ao exército e parece disposto a matar ou morrer.
Crítica
Este drama de guerra lida com extremos opostos. No começo, o protagonista é um homem quase beatificado de tão alternativo e bom. Professor de física e ecologista, Mykola (Pavlo Aldoshyn) mora com a esposa, Nastya (Maryna Koshkina), numa casa sustentável construída no descampado afastado de Donbass, na Ucrânia. Eles produzem a própria energia elétrica e passam os dias emanando vibrações positivas na realidade representada quase como utopia romântica pela câmera. As luzes, o enquadramento, a ênfase nessa conexão amorosa, tudo gera uma sensação de mundo ideal. Mas, logo esse idílio campestre será atravessado pela barbárie, personificada por soldados russos que invadem e brutalizam a região. Desse ponto em diante, Mykola se torna outro homem. Movido pela dor, ele vira um combatente de ímpeto inabalável que trabalha duro para se tornar um dos principais atiradores do exército ucraniano. Não há meios termos entre o pacifista neo-hippie do começo e o assassino frio e calculista que o luto evoca das profundezas. Corvo Branco é um filme de vingança, cuja tragédia está justamente na transformação do sujeito que desejava ardorosamente ser bom, mas levado pela maldade alheia a recorrer à violência como linguagem. Há várias coisas tratadas ao longo do enredo, pena que nenhuma delas seja desenvolvida para fazer da trajetória mais do que uma revanche catártica.
Dirigido por Marian Bushan, Corvo Branco tem uma cena muito interessante no início, daquelas que dizem mais sobre alguém do que qualquer palavra. Mykola está dando aula para uma turma de adolescentes desinteressados e lida de modo inteligente com as provocações do aluno hostil que arremessa bolinhas de papel no quadro para o tirar do sério. Em vez de brigar e/ou colocar o arruaceiro de castigo, o protagonista canaliza brilhantemente a afronta do jovem em prol do conhecimento. Mykola utiliza a trajetória das bolinhas rumo ao quadro para exemplificar como funciona o cálculo de velocidade e tempo necessários para o objeto chegar ao destino. Mais do que a excelente sacada do professor, a cena nos diz: esse homem resolve conflitos de modo menos reativo, na base da criatividade. No entanto, durante todo o resto do enredo essa característica não reaparece. Em nenhum outro momento Mykola resolve problemas de modo parecido. Culpa da mudança que o fez deixar de ser pacifista para se tornar um adepto das armas de precisão? Pode até ser, mas a duração da cena citada sugere algo, fundamental da personalidade do sujeito, que simplesmente desaparece dali em diante. Metade do filme é a preparação do terreno e a outra é preenchida com missões difíceis em que o protagonista cresce na estima dos superiores do comando. Realmente é uma pena que exista tantos desperdícios.
Corvo Branco funciona como entretenimento ambientado no conflito entre Ucrânia e Rússia. É fácil compreender as motivações de Mykola, se apiedar da tristeza que o move em direção ao assassínio dos inimigos e enxergar os russos como os grandes vilões. Aliás, ao colocar em cena um homem destroçado pelo homicídio frio de sua esposa grávida, o cineasta Marian Bushan evidentemente está colando o rótulo de maldade nos algozes, neste caso os soldados da Rússia. Eles são vistos como o “outro agressor”, sem espaço para nuances e complexidades. Tendo em vista que persiste atualmente uma guerra de verdade entre Ucrânia e Rússia, o filme pode ser encarado como peça oportunista de propaganda, sobretudo pela representação dos ucranianos como detentores da razão e dos russos enquanto malvados que devem ser mortos em prol da restauração da paz. O discurso não é parcial (e quanto ele é, né?), criando de modo escancarado um antagonismo (nós, os bons, contra eles, os maus). Porém, uma coisa a ser lamentada é a falta de contexto da disputa que testemunhamos ao longo de cerca de 100 minutos. O roteiro nunca dá informações ou mesmo pistas a respeito do que causou essa briga entre Ucrânia e Rússia, para além de algumas citações a respeito da invasão da região da Criméia. O realizador não parece interessado no cenário maior, mas apenas em seguir os passos do soldado vingativo.
O principal problema de Corvo Branco está na elaboração insuficiente dos assuntos que aparecem ao longo da jornada de expiação. Por exemplo, durante o treinamento de Mykola, em nenhum momento a sua tenacidade/força de vontade é sublinhada como algo excepcional. É um estado de espírito apresentado de forma quase burocrática, sem intensidade expressiva. De maneira parecida, passam batidas certas pedras no caminho, como os efeitos das fraquezas. Em determinado ponto da trama, o protagonista desobedece a ordens diretas e cede à sua própria sede de vingança. O resultado é a morte do colega essencial à sua transformação no tal Corvo, o codinome utilizado durante as batalhas. Apesar da tragédia, em nenhum instante posterior a culpa ou algo que a valha são perceptíveis nesse homem que certamente ficaria mexido com aquilo tudo – ainda mais a julgar pelo descontrole emocional que motivou a inesperada baixa do amigo. É a desatenção com esse tipo de detalhe que impede o filme de aspirar voos maiores. Mykola poderia ser retratado como alguém petrificado, cada vez mais, pela dor no campo onde trava as suas batalhas pessoais? Com certeza, mas isso teria de ser mais bem destacado para justificar o comportamento inabalável diante de certas circunstâncias capitais. O resultado é a caminhada morna desse homem bom transformado, pela dor, na máquina insensível de matar.
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Mas os russos são os vilões, eles invadiram um pais, é corretíssimo retratar eles assim, ou só é vilão quem é apoiado pelos USA, invadiram um pais estupraram mulheres, sequestraram pessoas, são acusados e já sentenciados em centenas de crimes de guerra.