Crítica
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Sinopse
Adonis Creed prosperou na sua vida familiar ao mesmo tempo em que dominou o mundo do boxe. Mas, ele enfrentará um desafio enorme quando seu amigo de infância sai da cadeia e o desafia para uma luta determinante.
Crítica
Duas coisas são importantes de serem observadas a respeito de Creed III, e uma está diretamente ligada à outra. Primeiro, essa é a estreia na direção de Michael B. Jordan, um ator de inegável talento – possui no currículo indicações ao Film Independent Spirit e Critics Choice, além de troféus conquistados no National Board of Review e junto à Sociedade Nacional de Críticos de Cinema dos EUA – que não apenas escolheu um terreno seguro e familiar para dar esse importante passo, como também aproveitou o gesto para declarar sua independência artística dentro da franquia. Este é, afinal, o primeiro projeto dentro do universo Rocky Balboa a não contar com a participação de Sylvester Stallone – que, apesar de seguir assinando como produtor executivo, afirmou em entrevistas ter sido contrário aos rumos tomados pelos personagens e que, caso tivesse sido consultado, muita coisa no resultado final teria sido diferente – e apresentado quase como uma trama independente, com pouca (ou quase nenhuma) relação com os longas anteriores. Ou seja, este é menos o filme que os fãs talvez esperassem, e mais aquele que foi possível dentro destas agora explícitas expectativas.
O que se sabia até então é que Adonis (Jordan) era filho bastardo de Apollo Creed (Carl Weathers, visto pela primeira vez em Rocky: Um Lutador, 1976) que foi resgatado pela esposa do pai, Mary-Anne (Phylicia Rashad, muito popular nos EUA por ter sido membro do elenco regular de The Cosby Show, 1984-1992), de uma casa de abrigo para menores abandonados e criado por ela como se fosse seu. O revelado agora é que durante estes anos de orfandade ele teve como melhor amigo – e quase irmão – o rebelde Damian Anderson, que por ser alguns anos mais velho, era tanto seu guia como exemplo. No entanto, os dois se envolveram em uma confusão quando adolescentes, e o resultado foi que Damian passou dezoito anos na prisão, período que Adonis tratou de agir como se o colega simplesmente não mais existisse. Porém, por mais que tenha tentado empurrar para debaixo do tapete uma verdade que não tardaria em se manifestar, ela de fato volta ao seu encalço. Damian, agora visto na pele de Jonathan Majors, ressurge determinado a recuperar o tempo perdido. Isso, para ele, significa ter tudo o que o antigo companheiro de desventuras conquistou. Inclusive o cinturão de campeão.
Ao invés de se focar apenas na amizade/rivalidade destes dois, Jordan tenta abraçar mais do que seria recomendado, e este é o maior problema de Creed III. Mesmo assim, não chega a ser uma falha das mais graves, afinal, é indício de ambição – e falta de experiência, o que não chega a ser nenhuma surpresa – e não de mera arrogância ou incompetência. Ao contrário de Creed: Nascido para Lutar (2015), que apostava quase todas as suas fichas no carisma dos seus dois protagonistas e no fator nostálgico que inevitavelmente carregava, e também de Creed II (2018), que nada mais era do que um remake de Rocky IV (1985) – um dos piores da saga original – este novo filme tenta alçar voos por paragens que, se não distantes, ao menos não trazem consigo um indisfarçável ar de déjà vu. O maior acerto, no entanto, é o acréscimo de Majors, um verdadeiro astro de presença hipnotizante em tela, funcionando tanto quanto a vítima esquecida em busca por justiça, como o vingador determinado a provocar o maior estrago possível. Suas motivações são compreensíveis, e se não abraçadas por completo, ao menos delas é quase impossível se afastar sem um misto de empatia ou mesmo entendimento.
Porém, como apontado anteriormente, Jordan não se mostra satisfeito em apenas reencenar um grande duelo. Para se ter ideia, ainda no prólogo, antes dos créditos de abertura, Creed anuncia sua aposentadoria e se retira dos ringues. Deste ponto em diante, por mais de uma hora, ele se manterá afastado dos treinos e preparativos para a luta pela qual estão todos esperando. Neste tempo, muito se discute, mas pouco se resolve – ou sequer se aprofunda. Há a questão da perda auditiva de Bianca (Tessa Thompson, resignada a uma posição coadjuvante ainda maior do que nos dois longas anteriores), que havia sido melhor trabalhada antes e agora é não mais do que um fato com o qual se tem que lidar, e a consequente surdez de Amara (Mila Davis-Kent), a filha do casal. Os dramas familiares não param por aqui, e há também o estado de saúde cada vez mais delicado de Mary-Anne, além das insatisfações profissionais de Creed e de Bianca: ambos são bem-sucedidos no que agora fazem, mas não mais atuam naquilo que lhes dá paixão. Por isso, o surgimento de um elemento disruptor acaba por afetá-los tão facilmente. A psicologia é direta, e também por isso, bastante óbvia.
Mas enfim, deixando de lado os diversos – e excessivos – flashbacks que buscam explicar a ligação entre Creed e Damien e o sentimento de dívida que um tem com o outro, Creed III finalmente diz a que veio quando os dois se encontram frente a frente, prontos para um combate que tinha tudo para ser memorável. Não tanto pela lógica narrativa – no cenário proposto, ganhar ou perder o status de campeão soa até fácil demais, como se não houvesse uma burocracia imensa envolvendo essa questão, além de inúmeros outros competidores atrás da mesma glória – mas pelo impacto que tanto Jordan (mais comedido, mas ainda assim uma figura de forte apelo junto ao espectador) quanto Majors (que tem rapidamente conquistado uma posição de destaque em Hollywood, como visto no recente Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, 2023) provocam quando juntos em cena. É por eles, e menos pela história em si, que este é um filme que merece atenção. Provavelmente não como o melhor da temporada, e nem mesmo da trilogia, mas, sim, como o indício de algo maior que esses dois ainda irão entregar no futuro.
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