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Sinopse

Takakura é ex-policial e atualmente leciona psicologia criminal na universidade. No entanto, seu instinto policial fala mais alto quando um ex-colega pede ajuda para investigar o estranho caso de uma família que sumiu misteriosamente.

Crítica

Exibido em uma das mostras alternativas do Festival de Berlim 2016, Creepy é um exemplo do desgaste que o cineasta japonês Kiyoshi Kurosawa (não é parente do Akira Kurosawa) vem enfrentando nos últimos anos, quando, após um intervalo de quase meia década, retomou suas atividades com um empenho que vem privilegiando mais quantidade do que qualidade. Após Sonata de Tóquio (2008), só foi reaparecer com a série de televisão Shokuzai (2012), seguida por outros sete títulos nos anos posteriores. Porém, o que se percebe aqui é que cada Para o Outro Lado (2015), premiado no Festival de Cannes, há produções como essa mais recente, que até aposta em uma estrutura interessante, para então ir se desfazendo dela com lentidão e pouco envolvimento.

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Baseado no romance homônimo de Yutaka Maekawa, Creepy pode ser várias coisas – tenso, dramático, suspense, dissimulado – menos ‘arrepiante’, como seu título claramente gostaria de indicar. O que se tem em cena é um drama familiar, disfarçado por um conflito psicológico e um transtorno de personalidade, com uma pitada aqui e ali de elementos que eventualmente poderão se revelar assustadores aos mais suscetíveis, porém carecem de força para gerar uma maior comoção na audiência. Ao longo de 130 minutos (que certamente poderiam ser encurtados caso se submetessem a uma edição mais objetiva), o diretor passeia por diferentes gêneros, sem demonstrar interesse em se afiliar a nenhum em particular. Começa pelo policial, vai-se ao familiar e, por fim, busca o thriller social, com parcelas individuais superiores ao conjunto.

Takakura (Hidetoshi Nishijima, de Dolls, 2002) é um psicólogo que durante um trabalho com a polícia acaba sofrendo um forte revés. O trauma coloca em choque suas crenças profissionais, levando-o a abandonar o trabalho e obrigando-o a se reinventar. Parte disso significa assumir uma função como professor universitário e se mudar para o subúrbio ao lado da mulher, Yasuko (Yûko Takeuchi, de Ring: O Chamado, 1998). Na tentativa de se aproximarem dos vizinhos, primeiro se deparam com uma mulher de poucos amigos que cuida da mãe acamada. Depois, conhecem o estranho senhor Nishino (Teruyuki Kagawa, de O Terror do Coelho, 2011), que num momento os repudia de forma grosseira, para no dia seguinte se aproximar com sorrisos e agrados.

A relação do casal com o vizinho, foco maior de atenção da trama, será abalada quando a filha dele, em um rápido instante sozinha, se aproxima do ex-investigador e lhe confidencia: “o homem na minha casa não é meu pai, é um completo estranho”. O que poderia ser uma brincadeira de adolescente logo é levada a sério pelo protagonista, que soma a essa informação os dados que vem levantando ao ajudar um antigo colega em um caso intrincado: uma família de três pessoas – pais e caçula – que desapareceram de casa por completo, sem quaisquer vestígios, deixando para trás apenas a primogênita. As coincidências pelas quais os personagens vão passando, como se percebe, são ridiculamente forçadas, além das forças pelas quais eles acabam se envolvendo serem tão gratuitas que somente uma explicação sobrenatural poderia justificá-las. No entanto, tais impressões terminam por ficar apenas no campo da sugestão, sem maiores e necessários esclarecimentos.

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Kurosawa vai lentamente criando seus cenários, e ainda que conte com bons atores defendendo sua história – Hishijima é particularmente intenso, ao passo que Kagawa é a representação de um mal sórdido e repulsivo – o enredo vai se desenrolando de forma truncada, como se fossem partes isoladas, e não pertencentes a um todo. Creepy pode até funcionar diante daqueles com menores expectativas, mas qualquer um a par do histórico do realizador ou que desta obra se aproximarem movidos por uma apreciação do gênero certamente sairão frustrados, seja pela narrativa sem pulso ou pelo mistério que sonda os eventos explorados, tão previsível quanto desprovido de maiores emoções. Os elementos estão todos em cena. Faltou, no entanto, conectá-los de modo não apenas a fazer sentido, mas também de forma relevante e digna dos interesses levantados.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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