Crítica
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Sinopse
O policial Tadek encontra semelhanças em um livro do artista polonês Krystov Kozlow com o caso de assassinato que está investigando. Ele começa a pesquisar a vida do escritor e da namorada dele, uma mulher misteriosa que trabalha num sex club. Sua obsessão aumenta e Tadek fica cada vez mais atormentado, adentrando num submundo de sexo, mentiras e corrupção.
Crítica
“Somente uma mente obscura é capaz de resolver um crime retorcido”, afirma a frase de apoio no cartaz de Crimes Obscuros. A ideia, pelo que se percebe, é a de que o policial ocupado em solucionar um assassinato particularmente perturbador seria tão ou mais problemático do que aquele responsável por tal atrocidade. Com isso, surge a questão: aquele que prende é, de fato, inocente? Ou seria tão culpado quanto o que pratica a infração? E o que estaria, de fato, em debate: uma violência em particular ou um comportamento absolutamente fora dos eixos – e, aparentemente, sem chances de salvação? São discussões elegantes que, se tratadas com respeito e dedicação, poderiam render um debate, no mínimo, curioso. Mais ou menos o oposto do que encontramos por aqui.
O sentimento de estranheza já começa quando o espectador é convidado a se deparar com a figura de Jim Carrey como protagonista. Não que o comediante, conhecido por projetos como Débi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros (1994) não seja capaz de exercer músculos mais dramáticos. Porém, se a filmografia do astro apresenta títulos comoventes como Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), o que encontramos em Crimes Obscuros está muito mais próximo do (merecidamente) pouco visto Número 23 (2007). Chama atenção ainda o fato de que Carrey estava há alguns anos sem trabalhar, afastado dos holofotes (desde Débi & Lóide 2, 2014), e tenha decidido retomar seu posto como protagonista justamente em um projeto tão distante do terreno que sempre lhe pareceu mais confortável. E mesmo que o resultado dele não seja particularmente problemático, está, também, longe de ser eficiente – ele é, antes de qualquer coisa, inadequado ao papel, e seu esforço em ser convincente termina por afastar a audiência, tão desconfortável quanto o intérprete frente a uma provação desnecessária e inapropriada.
Carrey surge como Tadek, um policial em crise tanto em casa, quanto no trabalho, que encontra na morte de um notório empresário a chance de resgatar, mais do que o respeito dos outros, a sua própria autoconfiança. Os problemas, no entanto, começam na gênese do personagem. Esse passado de conflitos que busca emular em nenhum momento chega a ser convincente, obrigando a se sustentar em situações-limite – como a esposa ameaçando abandoná-lo diante de uma discussão não mais do que corriqueira – ou em diálogos expositivos e redundantes – como a ameaça que recebe do chefe ao insistir por um caminho aparentemente sem volta. O quadro termina por ficar ainda pior quando o caso que tem em mãos está baseado não mais do que em circunstâncias, um conjunto de coincidências que só fazem sentido numa versão fantasiosa da realidade, nunca encontrando reflexo em um contexto que tente ser minimamente verossímil.
A questão é que, uma vez sem pistas, provas ou testemunhas, ele se vê derrotado mais uma vez. Porém, ao encontrar em um romance uma descrição muito próxima daquela vista no crime, passa a suspeitar do autor do livro, um renomado novelista que tem como hábito desprezar a bajulação da imprensa e mesmo dos fãs. Estaria esse, portanto, propondo mais um jogo? Quando descobre ligações entre o escritor e vítima, o quadro parece estar completo. Mas seria tudo tão óbvio? Não haveria algo a mais que merecesse ser investigado? E quais os motivos que levaram o policial a ficar sem mais opções, tendo que lidar com o desespero por encontrar um culpado, mesmo que para isso termine por desprezar apontamentos mais óbvios? A estrutura é demasiadamente frágil, e nem mesmo o aspecto ensimesmado de Jim Carrey é suficiente para tornar o conjunto interessante.
Quando o quadro apresenta ainda o carismático Marton Csokas – repetindo um tipo que lhe é bastante característico – e a sempre merecedora de atenção Charlotte Gainsbourg, é certo que ambos não estão reunidos por acaso. Assim, o sentimento de conspiração – ou seria alucinação? – do protagonista se esvai, permitindo que as responsabilidades sejam compartilhadas. Com isso, restringem-se também as possibilidades a um número limitado de suspeitos. Crimes Obscuros tenta a todo instante ser transgressor, mas tudo o que consegue é resvalar numa crescente mesmice que nada lhe ajuda a evitar um ocaso quase inevitável. No fim, o que mais impressiona é como o grego Alexandros Avranas, o mesmo do instigante Miss Violence (2013), pode ter errado tanto a mão, seja na escolha – e condução – do elenco, ou mesmo na abordagem de uma história que, por mais que possua os elementos certos, os dispõe tão equivocadamente que tudo o que consegue é tédio e indiferença.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 4 |
Leonardo Ribeiro | 4 |
Francisco Carbone | 3 |
MÉDIA | 3.7 |
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