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Sinopse

Crodoalvo Valério, ou simplesmente Crô, é agora dono de uma badalada escola de etiqueta e finesse. Entretanto, apesar de toda a fama, ele se sente carente e vulnerável, por não ter amigos nem uma nova musa a quem dedicar a vida. É quando sua vida cruza com as de Orlando e Marinalva, que dizem ser seus pais. Paralelamente, Crô precisa escapar da sempre venenosa colunista Carlota Valdez.

Crítica

Personagem destaque da novela Fina Estampa, Crô (Marcelo Serrado) ganhou um longa-metragem medonho para chamar de seu em 2013. Crô: O Filme é um amontoado de esquetes sem encaixe, isso além da utilização leviana de situações graves, como a escravidão, para supostamente mostrar o protagonista como um herói. Pois bem, o resultado das bilheterias falou mais alto e agora surge Crô em Família, sequência que já começa curiosamente negando boa parte dos acontecimentos de seu predecessor. Inexplicavelmente, a menina adotada no primeiro filme sequer é mencionada, demonstração do desapego do que veio antes. Outra ausência imediatamente sentida é a essência do personagem que ficou famoso nas telinhas pela subserviência a uma diva, algo (mal) explorado como mote na inicial incursão cinematográfica, aqui jogado diretamente para debaixo do tapete. Então, a realização começa renegando traços significativos da natureza de Crô, num movimento de, talvez, oferecer a ele vida fora da televisão. Mas, fica a pergunta: senão aos fãs, a quem se destina um longa de Crô?

A diretora Cininha de Paula substitui Bruno Barreto, pouco contribuindo no que diz respeito ao desenvolvimento das situações para além de seu impacto imediato e superficial. Em meio a um processo de separação conturbado, encenado como se fosse um quadro de programa humorístico anacrônico, Crô – desta vez, orgulhoso proprietário de uma escola de etiqueta – recebe a visita inesperada da família que diz ser a sua perdida. Uma mancha de nascença é suficiente para o milionário acreditar na versão dos suburbanos que invadem sua mansão como se fossem selvagens indomáveis. Esse olhar absolutamente estereotipado às classes sociais menos abastadas perpassa Crô em Família integralmente, se configurando num dos sintomas evidentes de sua irresponsabilidade. A participação da cantora Jojo Toddynho reforça isso. Numa aula de boas maneiras à mesa, ela toma atitudes exageradas, mal conseguindo comer decentemente um prato de macarrão. A diretora força a mão desajeitadamente, reiterando certas preconcepções rasteiras e bobas para tentar divertir.

Crô em Família somente não é um desastre total, como o antecessor, por conta do carisma ocasional de determinadas personagens, vide Geni (Jefferson Schroeder), embora ela também logo caia numa banalidade inapelável por conta de tiradas prontas e sem graça. O texto do longa-metragem é recheado de sentenças e gírias antigas, menções a celebridades e demais temperos que acabam azedando sobremaneira esse molho. A visão que o filme oferece da comunidade LGTBQ é limitada e propensa a servir de rótulo. Mesmo que em cena tenhamos talentos consagrados, como Arlete Salles e Tonico Pereira, nada funciona a contento, sequer o plano de apropriação da fortuna. Arlete é subaproveitada como a vilã que logo se deixa revelar ao espectador como uma trambiqueira de marca maior. Tonico é restringido ao papel de submisso que concorda com a estratégia diabólica. Inexiste tensão, os estratagemas são tão inconsistentes como a forma deles serem apresentados na telona. Entre uma tirada pseudo-espertinha e outra, o conjunto naufraga sem qualquer colete salva-vidas.

Há alguns aprontamentos avulsos, como um ensaio malfadado de crítica ao sensacionalismo dos jornalistas-influenciadores da internet. Todavia, a falta de espessura desse apontamento é tão grande que mina as possibilidades de êxito. Recheado de personagens e situações mal costuradas, de participações especiais totalmente descartáveis, como a de Pabllo Vittar e Preta Gil, Crô em Família é uma continuação desconjuntada, mal cerzida e completamente refém de momentos esparsos de inspiração. Marcelo Serrado, líder de um elenco combalido pelas escolhas diretivas, oferece o comum, expressando diegeticamente um elitismo canhestro e preconceituoso, como convém ao âmago do ex-mordomo. Sem uma diva para "babar ovo", ele é reduzido (ainda mais) a alguém que, por conta da herança recebida, atinge o patamar social venerado. Se antes chegava à conclusão de que voltar ao servilismo lhe devolveria a felicidade, agora ela apenas reproduz o olhar torto de seu meio, comportando-se devidamente como um rico que observa pobres como bárbaros a serem civilizados. O resto é perfumaria (cara e fútil).

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

Grade crítica

CríticoNota
Marcelo Müller
1
Robledo Milani
2
MÉDIA
1.5

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