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Sinopse

Dighu não sabe se voltará a morar em Pune, sua cidade natal. O menino de apenas oito anos também se vê às voltas com a dúvida sobre o paradeiro do pai e as intenções da mãe.

Crítica

Em Crônica do Espaço, o diretor e roteirista indiano Akshay Indikar direciona sua atenção ao pequeno Dighu (Neel Deshmukh), um menino de não mais do que oito anos que se vê obrigado a lidar com a desintegração familiar a partir do momento em que o pai abandona a mãe e essa se vê obrigada a pegar os dois filhos e voltar para a casa dos pais. Justamente por ser o caçula, a ele não é permitido questionamentos e muito menos explicado os porquês no âmbito da crise pela qual estão todos estão passando. O que lhe resta, enfim, é apenas observar, ao mesmo tempo em que tenta entender qual o lugar que deve ocupar nessa equação. Essa delicada matemática é feita pelo cineasta através de belas imagens e algumas (poucas) cartelas explicativas, com pouco diálogo. Está tudo na percepção. E se essa, por uma lado, encanta, também corre o risco de resultar num esvaimento do discurso cinematográfico.

Quando o espectador se depara pela primeira vez com Dighu, ele está ao lado da irmã mais velha em um trem, indo para longe do lugar onde nascera. Quer saber quando voltará a Pune, para onde está sendo levado e o motivo de tão brusca mudança. Essas dúvidas, no entanto, acabam restritas a um diálogo particular, dividido prioritariamente com a audiência. Àqueles que estão ao seu redor, ele reserva apenas reações básicas, como um olhar atento, um sorriso quando estimulado, uma ajuda nas tarefas escolares ou um alinhamento com o avô materno, após se reencontrarem, como se nada mais de grave estivesse lhe acontecendo. Seu mundo não mais existe, e ninguém parece ater à necessidade de lhe explicar as razões por trás de tão drásticas transformações.

Sendo assim, lhe sobram apenas as próprias reflexões. Esse debate interno, por outro lado, evita sobrecarregar os que o acompanham do lado de cá da tela através de uma opção estética arriscada, ainda que de resultados gratificantes aos sentidos. Em um conjunto quase silencioso, mas nunca mudo, Crônica do Espaço vai construindo sua narrativa pelo percurso de uma seleção de cenas de imensa beleza, mesmo que nem sempre justifiquem sua posição na estrutura a qual se inserem. A forma, como se vê, em muitos momentos termina por se sobressair ao conteúdo. Uma caminhada pelo verde inebriante da natureza ganha destaque mais pelo impacto visual que provoca do que pela lógica de eventos na qual tenta se encaixar, por exemplo.

São pormenores facilmente dedutíveis, mas ainda assim perdoáveis graças ao imenso carisma do protagonista e, é preciso confessar, à opção defendida com afinco pelo realizador estreante. Sua obra é, antes de qualquer outra coisa, muito bela, e se há uma conexão direta com esse sentimento, algo de bem feito é certo que foi feito. Mas há também, principalmente graças às cartelas de texto que buscam fazer às vezes dos pensamentos do menino, uma postura por demais pueril e até mesmo ingênua. Tem-se, assim, uma filme infantil que criança alguma terá paciência ou concentração suficiente para acompanhá-lo do início ao fim. Restam nesse exercício os admiradores de uma arte mais rarefeita, exigente, mas também capaz de uma entrega coesa e relevante.

A mãe pensa nele com preocupação, as tias o veem como apenas um menino incapaz de reflexões mais elaboradas, na escola o foco está nas tarefas diárias e a irmã, a que mais se aproxima dele pela faixa etária, parece ter resoluta em si uma conclusão a respeito de tudo o que se passou. Dighu, portanto, está sozinho, assim como também estão aqueles que, por mais que procurem, não conseguem encontrar amparo numa sociedade cada vez mais individualista e focada nos fortes, e não nos frágeis. Crônica do Espaço deixa em suas entrelinhas muito a ser elaborado, fazendo uso de uma estrutura que só irá se completar a partir das interpretações a qual abre suas portas. E se alguns dos caminhos pelos quais opta por transitar nem sempre levam a destinos enriquecedores, pelo menos irá restar o prazer da jornada percorrida. O que, por si só, já se mostra uma vantagem.

Filme visto online no 9º Olhar de Cinema - Festival Internacional de Cinema de Curitiba, em outubro de 2020

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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Robledo Milani
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Chico Fireman
6
MÉDIA
6

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