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Sinopse

No final de seu contrato com um time de beisebol, um experiente olheiro começa a ter problemas de visão. Sua filha vai ajudá-lo a avaliar o potencial de um jovem jogador.

Crítica

Aos 82 anos, Clint Eastwood parece estar querendo brincar com seus fãs. Após ter “mentido” que sua última atuação seria a de Gran Torino (2008), há quatro anos, o eterno Dirty Harry volta a ficar em frente às câmeras em Curvas da Vida. E, pela primeira vez em quase duas décadas, cá está ele, não sendo dirigido por si mesmo (a última vez em que trabalhou com outro diretor foi em Na Linha de Fogo, de 1993, com Wolfgang Petersen). Eastwood é Gus Lobel, um famoso e antigo olheiro de beisebol que está com a carreira por um fio. Velho, rabugento e com uma desgastada relação com a filha Mickey (Amy Adams), está prestes a ser aposentado por seu time, mesmo com a ajuda do melhor amigo (John Goodman). Para piorar a situação, problemas de visão começam a aparecer, o que prejudica ainda mais o trabalho e sua rotina. Apesar da relação instável, Mickey viaja de encontro ao seu pai para ajudá-lo, mesmo que isso signifique perder a sociedade no escritório de advocacia onde trabalha. O beisebol e a trajetória da doença acabam sendo apenas um pano de fundo para tratar desta relação familiar e o resgaste da mesma.

Quem assume o longa é o pupilo de Eastwood, Robert Lorenz, que por anos foi seu assistente de direção e produtor em filmes como o recente J. Edgar (2011) ou o oscarizado Menina de Ouro (2004). Sem contar alguns trabalhos “extra-Clint”, como quando exerceu o mesmo cargo no pavoroso Crossroads: Amigas para Sempre (aquela bomba de 2002 com Britney Spears). Agora no controle total da direção, ele faz um bom feijão com arroz. Nada excepcional, mas também longe de ser ruim. Talento há. O problema principal é o roteiro de Randy Brown. Se no início a premissa, por mais clichê que seja, parece que vai render uma narrativa interessante, acaba por resultar convencional demais. Um dos piores erros do script é criar um trauma na infância de Mickey que soa forçado, com única intenção de chocar, mas o que consegue é deixar o conflito entre pai e filha ainda mais superficial. Seria mais correto e simples esclarecer que, com a morte da mulher de Gus e mãe de Mickey, os dois foram se afastando de forma natural. Ainda mais que os genes de ambos são complicados de lidar. Tanto Mickey quanto Gus são fechados e querem parecer fortes perante um ao outro, sem nunca pedir ajuda. A brincadeira com as chaves do carro, que aparece em dois momentos, evidencia este conflito de forma profunda, mesmo sendo metafórica.

Outro grande problema são alguns personagens unidimensionais, como o próprio amigo e colega de Gus interpretado por John Goodman, que serve apenas como âncora do protagonista, assim como a “vilania” do colega mais jovem (Matthew Lillard) do velho olheiro, que vive no escritório acompanhando novos jogadores sentado em uma mesa e de olho no computador. Esta relação de antigo/novo, ou tecnologia versus trabalho à moda antiga, também soa como um embate superficial, como se uma coisa anulasse a outra, especialmente de forma negativa. No ano passado, O Homem que Mudou o Jogo (2011) tratava do mesmo tema sob outra ótica, de forma mais realista e convincente. Temos ainda Justin Timberlake como interesse amoroso de Mickey e um alívio cômico para a trama. Uma boa jogada, mas que se limita a apenas isso. Não por culpa do ator.

Por sinal, cabe ao elenco aumentar a qualidade do filme. E quem o faz com maior mérito é Amy Adams. A atriz com rosto de menina (mas que já tem 38 anos) prova ser uma das melhores de sua geração. Algo que foi comprovado ao longo dos anos em diferentes estilos, desde o independente Retratos de Família (2005), passando pela comédia da Disney Encantada (2007), o denso Dúvida (2008), o light Julie e Julia (2009) e o drama dos ringues O Vencedor (2010). Aqui, mesmo com uma personagem que cairia no óbvio clichê (advogada workaholic insensível que muda de vida ao estar ao lado do pai ausente), Amy consegue humanizá-la a ponto de ofuscar o interesse do espectador em relação ao que vai, de fato, acontecer com Gus. Por sinal, Clint Eastwood está... Clint Eastwood. E não de uma maneira ruim, cabe ressaltar. Porém, é um personagem que já vimos o ator interpretar tantas vezes (inclusive no já citado Gran Torino) que a percepção extremamente clara de que ele É seus personagens machos alfas acaba por cair no lugar-comum. Ainda assim, neste caso é melhor um Clint Eastwood fazendo o que sabe fazer do que qualquer outra coisa.

Curvas da Vida tem como principal obstáculo o que o próprio título original, Trouble With The Curve, sugere. Por mais que a denominação seja dada a uma expressão do beisebol (algo que, definitivamente, a maioria do público brasileiro não entenderia por não ser um esporte querido por aqui), o filme é exatamente isto: uma bola lançada que desvia do espectador e acaba atingindo o nada. Uma pena, pois poderia ter rendido bem mais.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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