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Sinopse
A presença feminina sempre foi fundamental no mundo do samba carioca. Musas, pastoras, tias, compositoras, passistas, madrinhas, carnavalescas, mulatas, intérpretes e até mesmo como operárias.
Crítica
Com a crescente popularização do fazer cinematográfico através do advento de novas tecnologias – como o digital, por exemplo, que facilitou em muito o processo de captação de imagens – um dos formatos que mais se expandiu foi o documental. Muitos que se dedicam a esse estilo de cinema partem do pressuposto que basta “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão – ou até mesmo no bolso, como é o caso dos melhores smartphones” para que um filme seja feito. Só que esquecem que, ao contrário do que se afirma no meio de que “num documentário o roteiro se faz na sala de edição”, na grande maioria dos bons exemplares do gênero esse processo se dá muito antes, durante um período prévio e necessário de pesquisa e planejamento. Damas do Samba, de Susanna Lira, peca justamente neste princípio: a proposta é interessante, mas sua execução falha no didatismo, nos exemplos circulares e na falta de aprofundamento.
Susanna Lira, experiente nesta linguagem tanto no cinema quanto na televisão, resume no título deste trabalho tudo a que se propõe durante o seu desenvolvimento: destacar o envolvimento das mulheres em uma das maiores expressões culturais e artísticas legitimamente brasileiras. Parte-se do final do século XIX, com a chegadas das primeiras baianas ao Rio de Janeiro, e mergulha-se quase que unicamente na maior manifestação do samba no país: o Carnaval. E fala-se do carioca, especificamente. Talvez, com um título ainda mais específico – Mulheres do Carnaval, por exemplo – o retrato fosse melhor acurado. Mas Damas do Samba se preocupa apenas em exemplificar o quanto cresceu a presença feminina na realização deste grande espetáculo popular. Se décadas atrás elas eram força propulsora, porém somente quando acompanhadas de um nome masculino relevante – esposas, companheiras – hoje elas estão até em cargos de presidência de Escolas de Samba. Como se deu esse avanço, no entanto, é um assunto que o longa não se atém tanto quanto deveria.
Com mais de trinta entrevistas e depoimentos, a diretora começa por nomes consagrados, como Leci Brandão e Alcione, para aos poucos ir avançando por outras áreas de atuação. Cantoras e sambistas sempre estiveram no gosto popular, e não muito se pode falar a respeito das passistas, das porta-bandeiras ou das rainhas da bateria. Não se esquece de prestar as devidas homenagens à ícones como Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus ou Jovelina Pérola Negra, mas seriam de fato apenas elas as relevantes em suas épocas? Não teriam outras que talvez tenham ficado “esquecidas” com o passar do tempo e que mereciam, tanto tempo depois, uma devida justiça? Clara Nunes é sempre um nome de peso, assim como Beth Carvalho ou Zicartola. Mas onde estão aquelas que vão além do óbvio que até os mais leigos no assunto conseguiriam citar?
Essas se fazem presente quando descobrimos que há, hoje em dia, mulheres carnavalescas, responsáveis pelos carros alegóricos, direção de arte e figurinos – e não mais apenas como costureiras. Há aquelas que respondem como chefe dos barracões, e é uma grata surpresa poder ouvir Regina Seli, presidente da Salgueiro. Mas o que elas precisaram enfrentar até chegar a estes postos? E quais outras posições ainda precisam ser conquistadas? Porque não temos uma mulher como porta-voz de um samba-enredo na avenida, por exemplo? É bacana reencontrar Pinah, a sambista que dançou com o Príncipe Charles quando, décadas atrás, ele visitou o Brasil. Mas teria sido ela a única com este tipo de experiência? Nenhuma outra merecia tal olhar mais aprofundado? São questões como essas, que ficam sem resposta, que enfraquecem Damas do Samba, um registro válido, porém enfraquecido justamente pelas carências que vão sendo reveladas durante seu desenvolvimento.
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