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Sinopse

João Silva viaja pelo sertão nordestino rumo a sua cidade natal, Arcoverde, no agreste pernambucano. Nessa jornada relembra sua trajetória de muita luta até se tornar, entre outras coisas, um dos principais parceiros de Luiz Gonzaga.

Crítica

João Silva. O nome pode ser um dos mais comuns de todo o Brasil, mas um homem por trás dele, protagonista do documentário musical Danado de Bom, é singular. Enquanto muitos conhecem um (ou mais) João Silva, o homônimo reverenciado no filme de Deby Brennand ficou à sombra dos gêneros musicais aos quais serviu como um de seus maiores compositores, o baião e o forró, e de artistas do calibre de Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Trio Nordestino e tantos outros.

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Compositor de mais de duas mil músicas, João Silva foi uma figura admirável, de criatividade e sensibilidade perfeitas para a poesia, mesmo que fosse iletrado. Do interior do sertão pernambucano, em Arcoverde, saiu ainda jovem em busca de melhores condições no Rio de Janeiro, num movimento intencionado pela ansiedade em dar vasão às letras e melodias próprias que já tinha em sua cabeça. Uma vez lá, bateu nas portas da rádio carioca Mayrink Veiga e o resto é história, devidamente retratada em Danado de Bom.

Uma profusão de célebres personalidades do forró passa pela narrativa de Brennand, mas seu foco e personagem principal se concentra mesmo em João Silva. Nas entrevistas capturadas pouco antes de sua morte, aos 78 anos, ele demonstrava uma lucidez cáustica para rememorar uma infância como andarilho ao lado do pai, os “causos” e “sertanejices” que o inspiraram em tantas de suas composições e muitas de suas desventuras ao lado de Gonzagão e de outros artistas, que concederam voz, ritmo e fama às suas ótimas composições.

Quem admira o gênero musical ou já teve algum contato com o mesmo, certamente já ouviu as canções Nem Se Despediu de Mim ou Pagode Russo, talvez até mesmo aquela que dá título ao documentário, porém dificilmente saberia que a autoria desses forrós é de João Silva. Elba Ramalho, Zeca Baleiro, Gilberto Gil, Mariana Aidar e Lenine são algumas das personalidades que aparecem em cena, seja em depoimentos emocionais ou interpretando Silva nos palcos, numa homenagem que talvez ele nunca tenha recebido em vida. Em meio a tantos documentários musicais brasileiros, o filme de Brennand se destaca justamente por se dedicar a um personagem que não lhe garante notoriedade ou bilheteria, mas sim a satisfação evidente em dar o devido crédito a este célebre desconhecido.

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Danado de Bom traça um bonito panorama sobre a trajetória musical e pessoal de João Silva, entre imagens de arquivo, entrevistas e sequências musicais, muitas destas ilustradas por grafismos e com as letras das composições que embalam o filme – como se convidasse seus espectadores para cantar junto. Mesmo que apresente algumas notas melancólicas, como no passado romântico pouco conhecido de Silva e seus problemas com a bebida, o documentário mantém o melhor do ritmo nordestino que o norteia, e, numa referência ao título que também lhe serve como crítica, é mesmo danado de bom.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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