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Crítica


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Sinopse

Uma família de trabalhadores das minas de carvão do Brasil entre 1964 e 1987. Eles são atravessados pela Ditadura Civil-militar e por uma histórica greve do movimento operário local.

Crítica

Das Profundezas é o último trabalho do diretor capixaba Penna Filho, falecido em abril de 2015 após uma dura batalha contra o câncer. O filme é um resumo dos assuntos caros ao diretor, afeito a temáticas políticas e um profissional identificado com ideias humanistas. Obstinado, filmou dentro de minas de carvão já com a saúde debilitada para conceber este que calharia ser seu derradeiro longa-metragem. Como carta aberta contra a opressão do trabalhador, Das Profundezas se mostra um contundente documento, relembrando o levante dos carvoeiros de Santa Catarina contra os mandos e desmandos dos patrões, ainda acostumados com os tempos da Ditadura Militar. Como obra audiovisual, carecia de maior cuidado tanto no texto, expositivo demais, quanto nas atuações, pouco convincentes. Boas ideias e coração no lugar, mas um resultado final que poderia ser superior dada a experiência e inegável talento de Penna Filho.

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Com roteiro do próprio diretor, Das Profundezas tem a ação, basicamente, em 1987, quando operários de uma mina de carvão em Santa Catarina se recusaram a continuar trabalhando, fartos das péssimas condições e do salário que não estava sendo pago de forma integral. Com ajuda do sindicato, os operários cruzaram os braços e fizeram daquele momento um exemplo para outros trabalhadores do resto do Brasil, que sofriam com os mesmos problemas. A narrativa volta em alguns momentos mostrando o cenário em 1964, às vésperas da Ditadura, e nos anos 70, em plenos anos de chumbo.

O baixo orçamento da produção é perceptível e, em um filme de época, se transforma em calcanhar de Aquiles. É notável que as roupas dos trabalhadores são anacrônicas, com alguns vestindo tênis, camisas e calças muito modernas para o período em questão. Isso sem contar em outros pequenos detalhes que passam despercebidos para os menos atentos, mas que aos mais detalhistas saltam aos olhos. Ainda que incomodem, estes pequenos deslizes seriam perdoáveis caso as atuações do elenco fossem mais consistentes. Luiz Henrique Cudo vive pai e filho na produção. Como o pai, tem mais força, até pelo personagem ter este viés mais combativo, de peito aberto. Como o filho, na tentativa de se distanciar de sua própria performance, o ator parece desconfortável. Curiosamente, ele vive o marido e o filho da atriz Antonella Batista, que interpreta a matriarca da família em todos os períodos da história. E mesmo com uma maquiagem que não disfarça tanto sua idade, ela tem lampejos interessantes, vivendo uma mãe abnegada.

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Com diálogos expositivos, que muitas vezes surgem apenas para fazer com que a trama vá do ponto A ao ponto B de forma mais rápida, Das Profundezas sofre com a falta de sutileza do texto. Uma pena, visto que as ideias são ótimas e um filme que trabalhe os ideais da força trabalhista como uma potência a ser reconhecida é muito bem-vindo. A história real daqueles carvoeiros é digna de nota e merece ser contada. Infelizmente, o orçamento limitado e a saúde de Penna Filho não deixaram com que ele fizesse isso a contento. O seu estado frágil não o impediu, no entanto, de descer as minas de carvão para filmar as cenas que achava necessárias e de interpretar um repulsivo patrão, retratando algo que combateu em muitas de suas obras: a falta de escrúpulos. Contundente, ainda que imperfeito, Das Profundezas não deixa dúvidas a respeito do lado humanitário do diretor, característica que pode despertar a curiosidade dos espectadores sobre seus filmes anteriores, muitos deles superiores a este último esforço.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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