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Sinopse

Sem contar para ninguém que praticamente não enxerga nada, o jovem Saliya põe em prática seu sonho e começa a trabalhar em um hotel de luxo, o mais famoso de Munique, na Alemanha. As coisas só vão se complicar quando, inesperadamente, ele se apaixona perdidamente por Laura, sendo difícil manter a cegueira em segredo.

Crítica

Embora seja uma produção alemã, ambientada na cidade de Munique, De Encontro com a Vida possui os ingredientes que já desgastaram de tão utilizados pela comédia romântica norte-americana. O protagonista é Saliya (Kostja Ullmann), filho de pai srilankês e mãe germânica, diagnosticado, logo após a saída do ensino médio, como portador de uma doença que afeta diretamente a visão, reduzindo-a a 5% da capacidade normal. A nova condição parece impedir completamente o seu sonho de trabalhar na rede hoteleira. Então, para começo de conversa, temos um problema aparentemente incontornável que, em virtude da tenacidade do rapaz, será parcialmente driblado. Partindo dessa convenção, chegamos à amizade do deficiente visual com Max (Jacob Matschenz), sujeito descolado, com menos jeito para estudos e teorizações, e mais com as hóspedes e parceiras de estágio. Ele saca, de cara, o infortúnio do colega obstinado que pode se entregar no simples ato de cumprimentar alguém.

Sem demora, eles formam uma dupla, ajudando-se mutuamente. Com isso, o filme incorre em mais um protocolo do gênero. De Encontro com a Vida ainda tem certos trajetos a serem percorridos antes de completar um percurso do qual conseguimos antever completamente as etapas. O que torna esse caminho menos acidentado é o carisma de Saliya, assim como a destreza do cineasta Marc Rothemund para encontrar soluções simpáticas a toda sorte de contratempos decorrentes da quase cegueira. Descontando a capacidade sobre-humana de aprendizado – licença poética desmesurada, que distorce o aguçamento dos demais sentidos após o comprometimento de um deles –, são divertidas as situações em que o aprendiz compensa seu ponto fraco com a demonstração dos outros potenciais. Há, adiante, a guinada brusca que joga o longa-metragem definitivamente na seara romântica, com a entrada em cena de Laura (Anna Maria Mühe), que assume rapidamente o papel de mulher apaixonante da vez.

Para dar conta do envolvimento de Saliya e Laura, o realizador praticamente omite o restante dos personagens, inclusive o escudeiro Max, que se transforma em mero adereço. De Encontro com a Vida não consegue, portanto, trabalhar suas instâncias em devida consonância, compartimentando as experiências da trama, as isolando e, por conseguinte, drenando a força do conjunto. Não é difícil adivinhar onde exatamente vai dar a gritante omissão sustentada pelo protagonista. Tampouco é novidade quando sua derrocada sentimental afeta diretamente o plano profissional, até então bem, levando em consideração as circunstâncias. É preciso doses generosas de condescendência para acreditar na relativa facilidade com que um homem de visão altamente prejudicada consegue desempenhar funções complexas, cujas conjunturas são passíveis de alterações constantes, sem, pelo menos, deixar que percebam suas dificuldades. Mesmo sendo baseado numa história real, o filme simplifica muito as coisas.

Do inferno ao céu, obedecendo cegamente (lá se vai um trocadilho) a cartilha da comédia romântica estadunidense, De Encontro com a Vida telegrafa seus passos, não fugindo substancialmente ao que já vimos e revimos, inclusive em obras melhores. A trilha sonora, com uma sucessão de boas músicas, e a simpatia dos personagens são atributos que ajudam a dirimir a sensação de puro e infértil reaproveitamento de velhas fórmulas. Eventos como o abandono paterno, por exemplo, são totalmente descartáveis, não precisamente por falta de potência enquanto fato, mas pela leviandade com que entrecortam o andamento de eventos e os desdobramentos mais que esperados. Sobra espaço até para a “regeneração” do patrão linha dura que ameaça frequentemente os anseios de Saliya, sensibilizado como num passe de mágica, apontando acintosamente ao encerramento conciliatório. Estamos diante de um arremedo de fábula, até certo ponto cativante, com pessoas por quem torcemos, mas de pouco brilho próprio.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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