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De Repente 30 não é, necessariamente, um filme ruim. Muito menos horrível. É apenas desnecessário, tolo, previsível. No entanto, é um título que, com o passar dos anos, tem criado um seleto grupo de fãs, que podem se dividr em três tipos de espectadores: fãs de Jennifer Garner (uma parcela mínima), adoradores de comédias românticas (mais prováveis) e curiosos. Ok, Mark Ruffalo também pode ser um motivo – muito mais hoje, mais de dez anos após o seu lançamento, quando ele já se tornou um astro popular graças ao seu envolvimento como o Hulk do Universo Cinematográfico Marvel – do que quando o filme chegou aos cinemas, quando ele era não mais do que um coadjuvante charmoso. No entanto, a não ser que a audiência esteja no primeiro ou no segundo grupo, a chance de se decepcionar ao final da projeção é bastante grande. Porém, ainda que haja um certo nível de decepção envolvida, felizmente ela nunca chega ao ponto de se configurar como uma perda de tempo – e muito, é preciso reafirmar, graças ao charme e à química dos dois protagonistas.
Qualquer saudosista admirador dos anos 1980 deve se rcordar de títulos como Quero Ser Grande (1988), que se transformaram numa espécie de febre naquela época: tramas de trocas de corpos e suas variáveis. Duas décadas depois, quando todos acreditavam que esse era um modismo já superado, não é que a mesma tendência retornou – e com força total? Como diz o mais experiente, em Hollywood, nada (ou muito pouco) se cria, e (quase) tudo se copia! Pois então, se Sexta-Feira Muito Louca (2003) fez Jamie Lee Curtis e Lindsey Lohan alternarem seus papéis de mãe e filha durante um dia com grande sucesso, agora é a vez de Garner envelhecer 17 anos da noite para o dia neste De Repente 30, que é basicamente a mesma coisa que acontece com Tom Hanks no longa que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar. Sorte dela, que nessa oportunidade como protagonista acertou em cheio, passando de “promessa” para o status de “estrela” – uma imagem que, infelizmente, acabou se dissipando nas temporadas seguintes, graças a fracassos como Elektra (2005), Pegar ou Largar (2006) e o recente A Justiceira (2018).
Mais conhecida até então pelo seu elogiado desempenho à frente da série de televisão Alias (2001-2006), pelo qual recebeu até um Globo de Ouro, Garner está divertidamente engraçada em De Repente 30. Ao lado de Ruffalo (que costumava ser o par romântico ideal neste gênero, tendo aparecido ao lado de Gwyneth Paltrow em Voando Alto, 2003, Jennifer Aniston em Dizem Por Aí, 2005, e Reese Witherspoon em E Se Fosse Verdade, 2005), ela brilha com graça, demonstrando bem a ingenuidade de uma pré-adolescente que de uma hora para outra se descobre diante das maravilhas da vida adulta, mas sem um pingo da responsabilidade exigida em tal situação. Claro que tal sentimento é temporário, e logo irá aprender a lidar na ‘selva’ da cidade grande, e, mais óbvio ainda, aproveitar também para dar uma lição de humanidade àqueles ao seu redor, mostrando “o quão importante é preservar a nossa criança interior”! Nada original ou inovador, mas com um charme bastante particular que termina por deixar o resultado acima de uma óbvia mediocridade.
Se o roteiro não apresenta nenhuma novidade, há elementos individuais que acabam por se destacar no conjunto. A participação de Andy Serkis, em um dos seus primeiros trabalhos de destaque em que pode, enfim, mostrar o rosto – ele é o astro da captura de performance, tendo dado vida ao Gollum da saga O Senhor dos Anéis, ao protagonista de King Kong (2005) e ao emblemático Caesar na nova trilogia Planeta dos Macacos, entre outros – é um achado, revelando habilidade tanto para a comédia como para o uso da expressão física além dos efeitos digitais. Por outro lado, seqüências bem humoradas – como a dança Thriller, ao som de Michael Jackson, e o encontro com o atual namorado – são garantias de muitos risos, logo a previsibilidade de tudo acabará por exigir demais do espectador mais atento. É quando os bocejos irão dominar a cena.
Dirigido por Gary Winick, cineasta oriundo de produções independentes que desde então tem insistido em produções similares, como Noivas em Guerra (2009) e Cartas para Julieta (2010), De Repente 30 por muito pouco não caiu na vala comum do esquecimento. Afinal, um realizador pouco criativo e uma trama que apenas recicla ideias já muito exploradas não colaboram no sentido de se criar algo que deveria perdurar na memória de sua audiência. No entanto, graças à um boa trilha sonora, que resgata pérolas oitentistas, e também por aproveitar em cena dois astros em momentos distintos, mas aqui unidos em um casamento que deu muito certo, como resultado temos algo único, feito que apenas a mágica de Hollywood consegue explicar.
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