Crítica
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Crítica
Assim como O Tempo e o Vento (2013) formou filas nas bilheterias do Rio Grande do Sul (ao mesmo tempo em que foi desprezado nas salas do resto do país) e Cine Holliúdy (2012) foi um sucesso no Ceará e só muito depois (e com o auxílio de outras mídias, como a televisão) acabou descoberto no Brasil inteiro (e, ainda assim, com resultados mais modestos), o cinema brasileiro está repleto de fenômenos regionais como esses. Muleque Té Doido! (2014), por exemplo, foi um título que encontrou repercussão apenas no Maranhão e em um ou outro estado vizinho, permanecendo desconhecido em outras praças. Mesmo assim, tal experiência parece ter sido suficiente para que Rafaela Gonçalves se credenciasse para comandar um longa por conta própria – ainda que, nesse anterior acima citado, ela tenha se envolvido como ‘operadora de câmera, assistente de direção e produtora executiva’, segundo material de divulgação. Bom, o resultado dessa nova experiência é esse De Repente Drag, um título que, ao ambicionar uma comunicação nacional, falha em estabelecer qualquer tipo de vínculo, seja no local, como também em um viés mais ambicioso.
O protagonista é Julião Siqueira, defendido com tanta emoção por Ruan do Vale que é de se perguntar se chegaram a avisá-lo que as câmeras estavam rodando. Vale, que teve uma participação discreta em Curupira: O Demônio da Floresta (2021), surge como um repórter em busca de uma chance para mostrar seu valor na emissora onde trabalha. E essa parece ter lhe aparecido quando descobre um suposto esquema de fraude e consequente sequestro e trabalho análogo à escravidão em uma agência de drag queens. O esquema todo parece tão frágil de credibilidade, que além de não se esforçarem muito em convencer o espectador, também demonstram falta de interesse em se mostrar crível inclusive junto aos demais personagens. Drags estão desaparecendo, o paradeiro delas não parece motivar a ação das autoridades, e quando uma surge no caminho do jornalista e de sua melhor amiga, a editora de imagens Yasmin (a novata Brena Maria), as possibilidades de uma investigação mais profunda começam a se tornar realidade.
A desculpa, na verdade, é para justificar o título. E como isso se dará? Fazendo de Julião uma drag queen. Como se o fato de se ter em cena um homem heterossexual cis fantasiado de drag queen não fosse ofensivo o bastante, é encarado pela produção como algo revelador. Há improbabilidades envolvendo esse processo. Primeiro, quase como num transe coletivo, todas as drags mais experientes passam a vê-lo como um desastre natural, invalidando seus esforços para se apresentar de modo convincente. Porém, é preciso lembrar da proposta contida no roteiro da própria Rafaela: se o argumento que o leva a embarcar nessa farsa é justamente vencer a disputa – e, assim, tentar descobrir o que aconteceu com as vitoriosas nas edições anteriores do concurso, justamente as que posteriormente acabaram desaparecidas – como ele estaria se mostrando tão desajeitado ou inconsistente, mesmo tendo contado com a ajuda de profissionais? A soma, portanto, simplesmente não bate.
Esse sentimento de não credibilidade não se verifica apenas entre público e obra, mas também no ambiente ficcional. A sensação gerada entre aqueles determinados a acompanhar o desenrolar dos acontecimentos é de que os atores estão segurando o riso, contendo-se para não cair na gargalhada a qualquer momento. Fica claro, enfim, que os envolvidos na produção devem ter se divertido muito mais nos bastidores do que aqueles que agora se colocam diante da obra resultante de tal ‘esforço’. Não há consistência dramática no ambiente de trabalho – o apresentador canastrão existe apenas para se contrapor à piada que encerra o filme, apresentando seu eventual destino – e muito menos na rotina das drag queens, todas vistas mais como seres exóticos, e menos como pessoas normais, com hábitos e costumes e que fazem dessa atividade não uma mera ocupação, mas, sim, um estilo de vida. A inadequação, portanto, se perpetua ao se apoiar em estereótipos e pela falta de interesse em mergulhar nessa realidade de modo revelador, contentando-se em transitar pela superfície em busca de um riso tão fácil quanto passageiro.
Pensar que entre os demais nomes do elenco está o de Silvero Pereira é a confirmação da ausência de uma indústria cinematográfica no Brasil e da falta de estratégia para tratar os talentos com verdadeiro potencial. Após ter conquistado a atenção de milhares como o Lunga de Bacurau (2017) – que lhe valeu o Prêmio Guarani, Prêmio SESC Melhores Filmes e o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro – ele merecia papeis que explorassem seus pontos fortes e investisse numa diversidade de tipos, ao contrário do que se vê em De Repente Drag, um exercício de reforço à imagem, e não de busca à figura por trás da aparência. Da mesma forma, personalidades do meio, como Silvetty Montilla, Kaya Conky, Potyguara Bardo, Pepita, Rochelle Santrelly, Sangalo Schneider e Tchaka, só se sujeitam ao que aqui lhes é oferecido pela falta de melhores oportunidades – são estrelas que não mereciam o tratamento que lhes é destinado. No desfecho, muito pouco – se é que há alguma coisa – se salva, entre constrangimentos e soluções previsíveis, que apontam para uma comédia sem graça composta por arquétipos, do qual tudo é tão falso que nem mesmo o artificial consegue se sustentar.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 3 |
Alex Gonçalves | 1 |
MÉDIA | 2 |
"Como se o fato de se ter em cena um homem heterossexual cis fantasiado de drag queen não fosse ofensivo o bastante". Volta e assiste o filme, aproveita e pesquisa sobre as drag queens. No filme se explica e se você não tivesse tão preocupado em destilar ódio gratuito a uma obra de temática LGBTQIAP+ saberia que o parágrafo citado acima não faz sentido nenhum, visto que as drag queens não são exclusivas da sigla LGBTQIAP+. O ódio cega, caro "critico".
Nossa, quanta amargura numa pessoa só. Dá pena. Se for atrás de gente amargurada como você ninguém no Brasil produz mais.