Crítica
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Sinopse
O jovem casal Pete e Ellie decide adotar uma criança, e busca uma feira destinada a proporcionar encontros entre adultos e jovens sem lar. O casal se apaixona pela pré-adolescente Lizzie, uma garota de temperamento forte, e acredita que ela possa ser a criança que estavam procurando. Mas Lizzie tem dois irmãos menores, que se mudam com ela. Logo, Pete e Ellie se veem com três crianças barulhentas e indisciplinadas, que mudam suas vidas por completo.
Crítica
Poucas coisas são tão verdadeiras quanto o fato de que será impossível atravessar uma sessão inteira de De Repente Uma Família sem deixar rolar uma furtiva lágrima. Mais provável, um choro quase descontrolado. E não por se tratar de um dramalhão desmedido. Muito pelo contrário. É justamente pela sinceridade das situações, pela leveza como tais episódios são conduzidos e pela contagiante sintonia do elenco que o espectador não apenas irá se identificar com o que se acontece em cena, mas também vislumbrar as mesmas situações em suas vidas, sejam essas possibilidades reais ou não. Afinal, se está aqui falando de algo muito sério – a temática é toda a respeito da adoção – mas nunca de forma didática ou tutorial. E ao abordá-la com tranquilidade e respeito, é nesse ponto que se dá o pulo do gato. E a emoção, seja ela sentida ou libertada, responderá na mesma altura.
Pete (Mark Wahlberg) e Ellie (Rose Byrne) formam um daqueles casais que se dão tão bem que nem chegam a, de fato, sentir falta de algo a mais. Tanto que o assunto ‘filhos’ só lhes surge devido às aspirações daqueles próximos – a irmã dela e o cunhado já são conhecidos nas clínicas de fertilização das redondezas – e, num primeiro momento, a reação é de estranheza e questionamento. Desprendidos – e, felizmente, sem nenhum trauma por trás que os conduza forçosamente até essa decisão – os dois acabam por optar pelo caminho da adoção, ao invés de tentarem uma gravidez. Eles podem ter filhos. Apenas consideram mais sensato depositarem o amor que já possuem em alguém que está por aí, necessitado desse tipo de atenção. A compreensão, como se percebe, se dá em um outro nível, não apenas pessoal, mas também enquanto sociedade.
Assim, acabam no grupo de orientação liderado por Karen (a vencedora do Oscar Octavia Spencer) e Sharon (a estrela de stand up comedy Tig Notaro). A primeira, sem papas na língua, e a segunda, sempre de expressão impassível, serão fundamentais para guiá-los durante esse processo. Um caminho que se revelará ainda mais árduo a partir do momento em que decidem adotar não apenas uma, nem duas, mas três crianças ao mesmo tempo. Não que tenha sido uma decisão pensada. Apenas não querem separar uma família. É quando se encontram com o trio de irmãos formado pela adolescente Lizzy (Isabela Moner) e as crianças Juan (Gustavo Quiroz, de A Justiceira, 2018) e Lita (Julianna Gamiz, da série Jane: A Virgem, 2018). No entanto, se no começo tudo são rosas, não tarda para que os problemas comecem a aparecer. A menina é manhosa, o menino é inseguro, e a jovem é rebelde. Um conjunto de elementos com os quais Pete e Ellie nunca tiveram que lidar antes, quanto mais tudo ao mesmo tempo. E sem nenhum preparo que pudesse alertá-los para o que estava por vir.
Se o roteiro, escrito por Sean Anders (Pai em Dose Dupla, 2015), a partir de experiências pessoais, em parceria com John Morris (Quero Matar Meu Chefe 2, 2014), leva a fundo esse caráter mais íntimo, muito da empatia emulada pelo desenrolar de ações que se vê em cena se deve, felizmente, ao entrosamento e sintonia percebidos no elenco. Octavia e Tig formam uma dupla tão boa que mereciam comandar juntas um talk show – as sequências em que ambas se fazem presentes, ainda que cheias de verdades e temas pertinentes, são invariavelmente divertidas e repletas de alto astral. Ou seja, a mensagem é transmitida, sem que por momento algum tal leitura se dê próxima ao tedioso. Da mesma forma, os pequenos cumprem bem o que deles se espera, enquanto que Moner se confirma como uma daquelas revelações que merece uma atenção redobrada. Nesse segundo trabalho ao lado de Wahlberg – os dois estiveram também em Transformers: O Último Cavaleiro (2017) – a química entre eles se manifesta de modo ainda mais efusivo.
Claro que conta muito ter por perto uma atriz multitalentosa como Rose Byrne, alguém que já mostrou ser capaz de praticamente tudo, do drama à comédia, do suspense ao terror. Aqui ela enfrenta um pouco de cada, numa roda-gigante de emoções que reflete com propriedade os dilemas de uma maternidade que surge da noite para o dia. Ela e Wahlberg – leve como há muito não se via – parecem feitos um para o outro. Mas não se torce apenas por eles, pois há o outro lado da questão – as crianças, afinal, possuem uma mãe natural. Se essa teria ou não condições de criá-los, bom, esse é um outro cenário. Aprender a lidar com essas possibilidades faz parte do processo. De Repente Uma Família caminha por trilhas conhecidas, e se não chega a ser de fato inovador, conquista mais pelo caminho até o seu desfecho do que pelo modo como resolve suas pontas até então soltas. É um filme, portanto, que não ambiciosa recriar a roda. Mas o que faz é com tanta honestidade, dedicação e carinho, que todo esse afeto termina, inevitavelmente, por transbordar, contagiando ambos os lados da tela. E é aqui em que as lágrimas irão se manifestar, tanto por empatia como, também, por gratidão.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 7 |
Edu Fernandes | 6 |
Roberto Cunha | 6 |
Francisco Carbone | 5 |
MÉDIA | 6 |
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