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Sinopse
Em De Volta à Ação, 15 anos depois de abandonar a CIA para formar uma família, os ex-agentes de elite Matt e Emily voltam ao mundo da espionagem. Isso porque ambos tiveram seus disfarces revelados. Com Jamie Foxx e Cameron Diaz.
Crítica
Ex-agentes obrigados a voltar à ativa formam quase um subgênero dos filmes de espionagem. Não são poucos os longas-metragens que mostram homens e mulheres desenferrujando as habilidades depois de anos de aposentadoria (forçada ou voluntária). Deve haver algum fascínio em imaginar que pessoas aparentemente comuns, às vezes de cotidiano até aborrecido, podem virar a chave, se transformando praticamente em super-heróis charmosos e invencíveis de uma hora para outra. De Volta à Ação repete essa premissa surrada tendo como protagonistas Emily (Cameron Diaz) e Matt (Jamie Foxx). Depois do prólogo em que os dois sobrevivem inesperadamente à queda de um avião em montanhas cobertas de neve – que cedem e ainda propiciam uma avalanche para a situação ficar ainda mais espetacular –, os dois decidem mudar de vida e abraçar o ideal familiar anunciado pelo teste de gravidez positivo. Desse modo, deixam de ser assassinos letais e exímios contrabandistas de informações sigilosas para se tornarem pai e mãe em tempo integral. O principal da trama acontece 15 anos depois dessa decisão de simplesmente sumir do mapa. É preciso suspender um pouco a descrença para comprar a ideia de que a eles seria possível continuar por uma década e meia nos Estados Unidos sem alertar as agências para as quais trabalhavam. O filme não se esforça nada para dar credibilidade a isso.
Podemos dividir De Volta à Ação em duas partes bem distintas. A primeira é a construção desse cotidiano pacato de suburbanos de classe média norte-americanos. Emily e Matt têm dois filhos, respectivamente de 14 e 12 anos. A garota é a típica adolescente que rechaça a presença dos pais, mente para curtir com os amigos às escondidas, mas nada que a torne subversiva. Até mesmo porque ao filme é conveniente manter todos os personagens mais ou menos disponíveis para as previsíveis reconciliações. Desse modo, a menina nem pode ser tão rebelde assim, uma vez que ela existe somente para fechar o ciclo de apaziguamento entre Emily e a própria mãe, Ginny (Glenn Close). Já o menino é um nerd também característico, com a cara sempre enfiada em seus dispositivos eletrônicos e tiradinhas espertas. No entanto, o mais interessante da parte inicial dessa produção é o entrosamento entre Cameron Diaz e Jamie Foxx, sobretudo a capacidade que ambos têm de abrilhantar alguns diálogos do roteiro assinado por Seth Gordon (também o diretor do filme) e Brendan O'Brien. Cameron Diaz, que estava aposentada desde 2014 dos cinemas, mostra que ainda dá um banho de carisma em muitas aspirantes ao lugar que ela ocupou principalmente nos anos 1990 e começo dos 2000. E a atriz encontra cumplicidade no seu parceiro de cena para fazer coisas banais se tornarem divertidas e encobrir os problemas.
O Calcanhar de Aquiles de De Volta à Ação está na segunda parte, justamente aquela na qual as mentiras que sustentam a família começam a cair por terra em virtude da perseguição de inimigos ferozes do passado. Nela, as cenas de ação são genéricas e derivativas e os planos mirabolantes são retratados sem suspense ou tensão. Até a revelação de segredos em pontos estratégicos não faz muita diferença. Sabemos quem vai vencer: a família. Uma vez que a ação se torna protagonista, os personagens são reduzidos a amontoados de falas rápidas, cuspidas durante tiroteios, perseguições e acertos de contas absolutamente convenientes. Cameron Diaz e Jamie Foxx perdem o brilho de antes em meio a coreografias de luta sem emoção e correrias não menos burocráticas. Seth Gordon poderia apostar na necessidade dos filhos de se adaptarem rapidamente a esse universo de espionagem que parece crível somente na ficção. Porém, prefere mostrar que especialmente o garoto pode ter em seu DNA alguma coisa que o predisponha a seguir os passos espetaculares de seus pais. Arremedando várias coisas da saga 007 James Bond, entre elas o engano a respeito do vilão charmoso, o filme ainda repete como motivo da disputa o dispositivo tecnológico que controla qualquer sistema no mundo. Sem muita criatividade, o enredo vai avançando e abraçando um discurso conservador sobre...a família.
No fim das contas, para o filme garantir que haja a reconciliação entre três gerações diferentes de mulheres, ele trata muitas outras coisas como bagagem descartável. A norte-americana Glenn Close faz uma imitação de senhora britânica de passado glorioso na espionagem, mulher avessa a abraços que vira alvo da raiva de sua filha Emily. Esta, por sua vez, além do ressentimento pela mãe, também sofre por ter perdido a conexão com a filha adolescente. Essas questões são diluídas e se perdem na grandiloquência das cenas de ação que parecem ter sido pensadas por uma inteligência artificial que ainda não descobriu a capacidade expressiva da imagem. E essa ação em piloto automático evita fazer de De Volta à Ação, ao menos, num filme empolgante. Seth Gordon distribui mal os elementos narrativos e ainda trata tudo com condescendência. Do ponto de vista pura e simplesmente da trama de espionagem, trata-se de um amontoado de situações, reviravoltas e personagens que vimos muito nos cinemas desde que James Bond inseriu os espiões como figuras de ampla referência no imaginário coletivo. O saldo no meio do caminho, nem bom e tampouco ruim, se deve quase que exclusivamente ao trabalho dos sempre competentes Cameron Diaz e Jamie Foxx. Ele com o carisma e o timming cômico pelo qual é reconhecido há anos. Ela retornando às telonas para a nossa alegria. Pena que num filme fraco.
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