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Crítica


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Onde Assistir

Sinopse

Robert é um artista londrino que empreende uma viagem à Itália na companhia de seu filho, Jack. A intenção é vender a propriedade herdada da esposa. Mas, a dupla decide reformar a casa antes de qualquer coisa.

Crítica

O que se passa diante das câmeras em De Volta à Itália é tão previsível e desinteressante que exige do espectador um esforço além do que o longa entrega como resultado. Ainda mais quando é possível se inteirar das supostas coincidências que resultaram nessa obra. Em 18 de março de 2009, a atriz Natasha Richardson veio a falecer, após ter sofrido um acidente durante uma viagem de férias. Casada com o ator Liam Neeson, tinha com ele dois filhos: Micheál e Daniel Jack. Quase uma década depois, o primogênito decidiu entrar na Justiça para alterar legalmente seu sobrenome, do Neeson paterno para o Richardson materno – a justificativa era a vontade de homenagear a mãe. Nesta última década, Liam, por sua vez, viveu um dos períodos mais frutíferos de sua carreira, tendo aparecido em sucessos como Fúria de Titãs (2010), Esquadrão Classe A (2010), os dois episódios finais da trilogia Busca Implacável e o épico Silêncio (2016), de Martin Scorsese, entre tantos outros – ao todo, desde que ficou viúvo, sua filmografia aumentou em mais de sessenta créditos! Natural imaginar que não tenha passado muito tempo ao lado dos filhos, portanto. Pois é o que finge fazer agora: retribuição. Mas de uma forma tão falsa quanto o projeto em si.

Afinal, o protagonista de De Volta à Itália é... Micheál Richardson. Em seu primeiro trabalho à frente de um elenco. Esta é praticamente a estreia do moço. Antes disso, fez algumas pontas, com personagens que nem nome tinham, em filmes como Tudo Por Um Furo (2013) e Vox Lux: O Preço da Fama (2018), e a única participação um pouco mais consistente que contava até então era no thriller Vingança a Sangue-Frio (2019), no qual aparecia como filho de... Liam Neeson (e, curiosamente, era morto logo no começo da trama, enquanto o valentão favorito de Hollywood saía eliminando meio mundo para honrar sua memória). Bom, os dois surgem mais uma vez nos papéis que, pelo jeito, lhe são confortáveis – ou ao menos nos quais tentam se encaixar, mesmo que de uma forma um tanto desajeitada – buscando defender um enredo que pode ser resumido como um misto da comédia oitentista Um Dia a Casa Cai (1986) e o romance feminista Sob o Sol da Toscana (2003), mas tudo o que consegue é se apresentar como uma versão simplista do mediano Um Bom Ano (2006).

Pois se lhe falta um comediante em estado de graça como Tom Hanks, uma estrela no momento de seu maior estrelato como Diane Lane, ou um diretor ciente de suas obrigações como Ridley Scott, o que resta é ficar pelo meio do caminho, alcançando apenas o que é anunciado no começo, sem surpresas ou revelações – sendo que há mais tropeços do que passos seguros nessa jornada. Jack (Richardson) precisa de dinheiro para comprar da ex-mulher a galeria dela, na qual ele é administrador. Para tanto, recorre ao pai, Robert (Neeson), um artista com bloqueio criativo há anos, para que vendam a casa de férias que possuem no norte da Itália. Abandonada há mais de uma década, a propriedade deverá lhe render a quantia suficiente para salvar seu trabalho. Sem muita resistência, o mais velho aceita o convite, e lá vão os dois. Quando chegam, encontram uma residência em ruínas. É preciso restaurá-la antes de qualquer intenção comercial. E assim, vão redescobrindo um ao outro, não sem antes se abrirem, também, ao local mágico onde agora se encontram.

A sinopse mais superficial, descrita acima, é suficiente para traçar, em linhas gerais, todos os acontecimentos da trama. Sim, pois como numa cartilha, a ordem dos eventos se dá de acordo com o esperado. Se no começo há uma animosidade entre eles, é certo que acabarão se encontrando num ponto intermediário entre os rancores de um e o jeito ranzinza do outro. A casa é só uma desculpa para representar o processo pelo qual precisam atravessar juntos. E se as coisas são colocadas dessa maneira, qual o sentido de pedreiros e operários surgirem quase que de dentro de uma cartola para ajudá-los? Além do mais, não estão ali pela falta de dinheiro? Quem está pagando pela reforma? Da mesma forma, são gratuitos os envolvimentos românticos que se apresentam para ambos: o viúvo com a corretora, através de uma abordagem convencional e discreta, enquanto que o jovem se vê encantado pela dona do restaurante local. É tipo final de novela da Globo: o fim só se dá quando há casamentos para todos os lados.

Mas talvez o maior problema desse conjunto seja mesmo a inexperiência de James D’Arcy como roteirista e diretor. Para quem não está ligando o nome à pessoa, essa é sua estreia nessas funções. Até então, havia se focado no trabalho como ator, aparecendo em filmes como O Exorcista: O Início (2004) e O Destino de Júpiter (2015), entre outras produções igualmente constrangedoras. Exatamente o que alcança com De Volta à Itália. Os personagens são rasos, suas motivações são banais, os traumas com os quais precisam lidar são óbvios, e as soluções se apresentam de forma didática, através de diálogos expositivos e reiterativos. Sem esquecer do amadorismo que toma conta também da produção, seja na fotografia incapaz de aproveitar os cenários pelos quais frequentam, no registro da passagem do tempo ou mesmo pelas interações entre os protagonistas, que se mostra caricaturais e previsíveis. Ou seja, até pode ser apontado como um exercício, mas um dos mais cansativos e ausente de propósitos. Se a intenção era propor um acerto de contas nos bastidores, melhor teria sido uma terapia familiar entre os dois. Ao menos, incomodaria menos gente.

 

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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