Crítica
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Sinopse
Popular, líder de torcida e namorando o menino mais cobiçado da escola. Uma adolescente tinha uma vida aparentemente perfeita até sofrer uma queda e passar 20 anos em coma. Ao acordar, já com quase 40 anos, ela tem de voltar à escola para completar seus estudos. Mas, o ensino médio está muito diferente daquele da sua época.
Crítica
Rebel Wilson, em seu primeiro filme após um regime radical que a fez perder mais de 35 quilos, aparenta estar padecendo do mesmo mal sofrido por Leandro Hassum quando esse também decidiu mudar seu estilo de vida: além do peso, também se foi a graça da comediante. De Volta ao Baile não só é um desfile de piadas de baixo calão, palavrões e exageros, como ainda por cima usa como bandeira, na maior parte de sua narrativa, um discurso corrosivo e anacrônico, sob a desculpa de estar fazendo humor. O resultado beira o constrangimento em mais de uma ocasião, entregando algo que, infelizmente, se apresenta como quase indefensável. Mas, além disso, o pior é constatar que a atriz e produtora, por maior que tenha sido o seu esforço físico em apresentar uma mudança visual, continua recorrendo aos mesmos maneirismos do início de carreira, como se nada tivesse se alterado desde então. Os tempos são outros, e se muitos tem isso em mente, é a protagonista, e não sua personagem ficcional, que se mostra perdida no passado.
De Volta ao Baile é o segundo longa que Rebel Wilson faz para a Netflix. No anterior, Megarrromântico (2019), ela aparecia como uma mulher que não se encaixava no ambiente no qual circulava mas, após um trauma, tudo começava a dar certo, até um final apoteótico e musical no qual o elenco se reunia em clima de celebração. Pois bem, é exatamente o mesmo que acontece no trabalho mais recente. As semelhanças são tão impressionantes que é de provocar dúvidas no espectador: será que ela acredita que o período de pandemia do Covid-19, entre um filme e outro, teria causado amnésia entre o seu público? A maior diferença, porém, é a falta de autenticidade. Se antes as transformações soavam como naturais e a jornada da figura que interpretava gerava empatia na audiência, dessa vez é tudo por demais forçado e artificial, nada convincente, mesmo se tratando de uma proposta tão absurda quanto fantasiosa. Wilson se tornou vítima de si mesma.
Agora ela surge como Stephanie. Na juventude, vivida por Angourie Rice, havia recém chegado nos Estados Unidos vinda da Austrália e tentava a todo custo se encaixar no concurso de popularidade da escola – posando como líder da torcida e fazendo campanha para ser eleita a rainha do baile de formatura – mesmo que isso lhe custasse a admiração de seus dois únicos e verdadeiros amigos, Martha (Molly Brown, de Billions, 2021-2022) e Seth (Zaire Adams, visto em um episódio da última temporada de Modern Family, 2019). Pois bem, um acidente durante uma acrobacia mais elaborada colocou a garota em coma por nada menos do que duas décadas. Quando acorda, como se nada tivesse lhe acontecido, está com 37 anos (e corpo de Rebel Wilson), por mais que os médicos afirmem que sua mentalidade siga como a da mesma jovem de 17. Portanto, acredita que a única coisa a fazer seja retomar exatamente do ponto de onde havia parado: ou seja, voltar para o último ano de estudos e se preparar para fazer bonito na noite mais aguardada da temporada. Ela, enfim, segue a mesma. Mas todo o resto ao seu redor mudou radicalmente.
A ideia do diretor Alex Hardcastle – em seu primeiro longa, após ter dirigido episódios de diversas séries, de The Office (2010) até Grace and Frankie (2016-2020) – é provocar justamente essas inadequações, mostrando as diferenças que, num primeiro momento, podem chamar atenção, mas também contemporizar a ponto de colocar em evidência que talvez nem tudo tenha se alterado tanto quanto parece. O roteiro escrito a seis mãos por Andrew Knauer (O Último Desafio, 2013), Arthur Pielli (Equipe Caça Fantasma, 2013) e Brandon Scott Jones (também parte do elenco, como o diretor Senhor T), no entanto, faz do mundo de 2022 com o qual Stephanie agora se depara um ambiente regido pelo signo do politicamente correto, enquanto que ela, como a única estranha a esse discurso, termina por soar ultrapassada, mas também guiada pelos mesmos preconceitos e visões conservadoras contra as quais tanto se combate hoje em dia. É como se todo questionamento, contra qualquer tipo de minoria, de acordo com a protagonista fosse não mais do que mero mi mi mi. Isso dito por uma mulher loira, branca e vinda de uma família estruturada e de boa condição financeira.
Ela se espanta, como dita a regra, mas não protesta. Sua forma de mostrar uma não conformidade com o que a sociedade de agora se tornou é simplesmente ignorar as novas regras e promover um retorno a como antes estavam. Ou seja, De Volta Ao Baile não é um filme sobre uma garota tentando se encaixar num novo mundo, e sim o contrário: uma realidade que aos poucos vai sendo modificada até se adequar ao ponto de vista de uma personagem que ficou parada no tempo. É como se todo o avanço inclusivo, pelo qual tantos lutaram desde a virada do século, fosse descartado em nome de uma piada improvisada que nem alcança o efeito desejado. Com adultos infantilizados e adolescentes amadurecidos prematuramente, o discurso se perde entre poucos progressos e muitos retrocessos, resultando em algo não só descartável, mas também danoso e prejudicial. É como se atacasse o problema justamente fazendo uso dele, acreditando que pela repetição ele fosse se tornar menor – o que, é sabido, não acontece por si só. Rebel Wilson tem sido aplaudida pela mudança que provocou em sua vida pessoal. Resta agora torcer para que consiga provocar essa mesma transformação em sua arte.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Robledo Milani | 2 |
Bruno Carmelo | 5 |
MÉDIA | 3.5 |
O mimimi está com tempo contado, eles mesmo vai colapsar. Respeito a todos, mas sem mimimi!!
Eu amei o filme, discordo totalmente de sua opinião, o mundo e nossa vida no dia a dia já é tão cansativa, pesada, que quando vamos assistir um filme desejamos algo leve, que nos afaste de uma rotina tão estressante, dos problemas diários, assistir algo que nos remeta aos sonhos, que tenha uma trilha sonora animada e que sim questione o radicalismo das mudanças sociais é sim um bálsamo. Não é questão de ignorarmos as minorias e sim de entender que nem tudo na forma que vivíamos nos anos 80 e 90 é ultrapassado ou maléfico. As nossas dificuldades nós fizeram fortes o bastante para deixarmos um mundo para atual geração cheio de facilidades graças a dificuldades que passamos. Uma geração que acha que está certa mas vive a custa dos bens e direitos de uma geração que lutou para construir toda essa facilidade. Acho que tem que ter equilíbrio e não radicalizar tudo como se as gerações passadas fossem o câncer, no mundo real tem competições, tem as realidades biológicas do ser humano, existe sim a figura do líder e sempre vai existir, o respeito a todos independente de raça, religião, pensamento, ideologia, classe social deve prevalecer, inclusive respeitando as contribuições das gerações passadas e não lavando a mente da atual geração e colocando ideias que os fazem seres humanos fracos, pois é muito fácil falar do que não passaram. Vejo muito falatório e pouca atitude, milhões de jovens morrendo de depressão, síndrome do Pânico, mas poucos para acolher, se dedicar,vale preocupar, precisamos rever nossos conceitos e parar com discursos que não mudam nada, atitudes mudam o mundo.