Crítica
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Crítica
Vítima e algoz. Gäelle Faroult e Vincent Maillard. Os letreiros iniciais afirmam se tratar de uma ficção, mas a memória – sempre ela - traz de pronto o caso da austríaca Natascha Kampusch, a garota mantida presa em um porão por oito anos. Independente de qualquer semelhança, o segundo filme do francês Frédéric Videau (Variété Française, 2003), De volta para casa encontra na similaridade material interessante para a sua trama.
O enredo conta com dois momentos. O primeiro dá conta da relação do sequestrador com a sequestrada. Presa no porão, Gäelle (Agathe Bonitzer) cresce nos limites internos da casa. A cada retorno de Vincent (Reda Kateb) do trabalho, um novo e pequeno momento de liberdade, uma chance renovada para a fuga. O caráter de Vincent é desconstruído sem o julgamento que se espera. Acertadamente, o diretor opta por não levar à tela um monstro, pois o maniqueísmo diminuiria a força da narrativa. Pelo contrário, o sequestrador nos surge como supostamente é: um homem normal que altera fases de afeto com outras de agressão. A postura trivial agrava o fato cometido.
O segundo momento está na volta da garota ao convívio social. Nada mais é – ou poderia ser – normal. O mundo, o mesmo que por muito tempo Gäelle foi obrigada a ignorar para existir, interessou-se por sua história. Somente o particular nos assusta e agora ela é a sobrevivente de uma tragédia inusitada. O horizonte de antes, estreito, composto por um homem desconhecido e a infinita possibilidade da liberdade inatingível, alarga-se para o dos psicólogos, das terapias, da família e da imprensa. Mudam os componentes; fica a asfixia. O tempo passado fora do cativeiro não é menos doloroso do que antes; a sensação é apenas diferente.
A direção se arrisca ao escolher uma estrutura não convencional para filmar a história. Os dois tempos, presente e passado, exigem uma edição hábil ao tratar os flashbacks. Se uma das virtudes do filme está em transmitir a sensação de isolamento e angústia da garota, por outro, as idas e vindas, aliadas a cenas verborrágicas, tornam o andamento da narrativa truncado e repetitivo. As atuações de Bonitzer e Kateb, aplicadas com intensidade, fazem o núcleo da estranha relação entre Gäelle e Vincent se destacar diante do segundo, óbvio e menos envolvente. A fotografia de Marc Tevanian é a responsável por erigir o clima intimista através do jogo pontual das luzes. O ambiente da casa é de tal forma iluminado que nos permite esquecer que possa haver algo além – o mesmo sentimento da protagonista. O improvável é o que realmente acontece. Por isso o fascínio de histórias como a de Natascha e a de Gäelle. De volta para casa consegue compor um drama psicológico raro, não apenas pelas circunstâncias.
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