Crítica
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Sinopse
Recém-separada do marido, Alice Kinney decide recomeçar a vida se mudando para a sua cidade natal, Los Angeles, com suas duas filhas. Durante uma comemoração noturna do seu aniversário de 40 anos, Alice conhece três aspirantes a cineastas que precisam de um lugar para morar. Ela deixa os rapazes permanecerem em seu quarto de hóspede temporariamente, mas o acordo gera situações inesperadas. A nova família de Alice e um novo amor em vista chegam a um ponto crucial quando seu marido aparece.
Crítica
Dificilmente os distribuidores brasileiros poderiam ter pensado em um título mais genérico. Mas, dessa vez, é preciso ser honesto: a culpa não é deles. Afinal, tudo em De Volta para Casa é apenas mais do menos, igual a milhares de outros longas similares que volta e meia chegam às telonas e telinhas. Inclusive, aliás, o batismo original: Home Again (a tradução, como se percebe, foi quase literal). E neste nome resume-se todo o argumento desta história: Alice Kinney (Reese Witherspoon) decidiu retornar ao lugar onde nasceu e foi criada. E este recomeço não é apenas geográfico – ela muda-se de Nova Iorque para Los Angeles – mas, principalmente, espiritual. Tanto que começa a fazer as mesmas bobagens que qualquer jovem um dia já teve que lidar uma vez ou outra na vida – ainda que seja ela uma mulher adulta, mãe de duas meninas e profissional estabelecida. E se esta breve sinopse não lhe soou tola o suficiente, não se engane: não há nada mais aqui além disso.
Alice não decidiu voltar ao começo de sua própria história por causa de uma tragédia, um trauma ou qualquer outro evento crucial na vida de uma pessoa. Ela estava apenas... insatisfeita. O que, é claro, deve ser o bastante para que alguém se encontre disposto a sair de sua zona de conforto e pronto para mudar as coisas ao seu redor. No entanto... é isso o que acontece com a protagonista? Não. Ao invés de se dedicar ao que tem em mãos e, enfim, fazer daquele limão, uma limonada, ela simplesmente vai embora. Ela foge. Como se uma simples mudança de cenário fosse suficiente. Algo que qualquer espectador mais atento já sabe, mas que ela irá demorar algum tempo ainda para, literalmente, cair na real.
Senão, vejamos. Alice acha que seu casamento caiu num marasmo pelo simples fato do marido (Michael Sheen) nunca estar em casa e não ter mais tempo para ela ou para as filhas. Bom, estamos falando de um bem-sucedido empresário do ramo musical que, no entanto, ao se ver longe da família, trata logo de arrumar espaço na agenda e ir atrás de quem lhe importa. Ou seja, há amor neste relacionamento. Até porque ela se vê balançada pela vinda dele. O problema, no entanto, está na noite anterior, quando, durante uma balada com as amigas, ela acaba literalmente levando para sua casa três rapazes com não mais de 20 anos. Mas acalme-se, não estamos falando de um episódio da vida real, onde, infelizmente, uma situação dessa poderia acabar em estupro, roubo ou violências piores. O mundo, aqui, é cor-de-rosa.
E isso em muito se deve por termos Hallie Meyers-Shyer na direção. Se o nome não é familiar a ninguém, os sobrenomes devem ter despertado a curiosidade dos mais antenados: ela é filha dos cineastas Nancy Meyers (Um Senhor Estagiário, 2015) e Charles Shyer (Alfie: O Sedutor, 2004). Como se percebe, portanto, a predileção por comédias românticas açucaradas vem de família. E Hallie não desaponta – ou melhor, até exagera na dose, indo a extremos que seus pais, mais experientes, hoje em dia já sabem como evitar. É por isso que acaba dando espaço exagerado para os três garotos – os inexpressivos Pico Alexander (War Machine, 2017), Jon Rudnitsky (comediante do programa Saturday Night Live, 2015-2016) e Nat Wolff (esse, curiosamente, o mais conhecido do trio, porém o com menos tempo em cena). Eles são artistas em início de carreira – um diretor, outro roteirista e o último ator. Já ela, não por acaso, vem a ser filha de um cineasta consagrado, vencedor do Oscar e tudo. Coincidência pouca não é mero acaso.
Diante de filmes como esse, é mais do que compreensível que Reese Whiterspoon esteja cada vez mais se dedicando a projetos na televisão, como a bem-sucedida minissérie Big Little Lies (2017) – que lhe rendeu um Emmy. Afinal, se De Volta para Casa – ou o seu longa anterior, o igualmente constrangedor Belas e Perseguidas (2015) – é tudo o que lhe resta no cinema, o melhor mesmo é se refugiar na telinha. Pois seu talento é mais do que desperdiçado com personagens como essa, caricata e previsível, envolta por uma realidade artificial na qual nada soa minimamente real. Por fim, constrangendo nomes interessantes em participações descartáveis (Candice Bergen, não seria melhor ter ficado em casa?) e entregando ao público uma história na qual absolutamente nada soa real ou minimamente interessante, seu maior mérito acaba sendo justamente essa condição descartável: logo após os créditos finais, é bem provável que qualquer um – independente do lado da tela em que se encontre – já tenha esquecido quase tudo a que acabara de presenciar, ou vivenciar.
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