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Sinopse

O cientista Doc Brown leva Marty e sua namorada vão para o ano 2015 para resolver uma questão familiar no futuro deles. Mas Biff, velho inimigo da família, os obriga a correrem contra o tempo para não alterarem os acontecimentos.

Crítica

Era para ser uma piada. Quando Doc Brown (Christopher Lloyd) aparece ao final de De Volta para o Futuro (1985) e avisa Marty McFly (Michael J. Fox) que seus filhos correm perigo, a ideia dos roteiristas Bob Gale e Robert Zemeckis era apenas fechar o filme com uma anedota, uma forma de terminar a história dando a entender que a aventura continuava. Com o sucesso retumbante do longa-metragem, a Universal Pictures encarou a piada como uma ótima oportunidade de fazer mais dinheiro nas bilheterias, dando assim sinal verde para uma continuação. Desta forma, surgiu não uma, mas duas sequências, filmadas simultaneamente (novidade na época) e lançadas com apenas seis meses de intervalo. De Volta para o Futuro 2 estreou em novembro de 1989, quatro anos depois do original, continuando de onde o outro parou as aventuras no tempo de Marty e de Doc Brown.

Segundo Bob Gale e Bob Zemeckis, nunca foi intenção dos roteiristas levar a história para o futuro – simplesmente pelo fato de ser dificílimo acertar o que vai acontecer. Por isso, os dois resolveram extrapolar quando tiveram de seguir a piada do original e enviar os personagens para 2015, trinta anos no futuro. Para plateias atuais, é divertido observar o que acertaram e o que erraram os produtores do filme, visto que aquele ano se avizinha. Nada de carros voadores, skates flutuantes, pizzas que crescem em segundos e jaquetas que secam sozinhas. No entanto, televisores planos pendurados nas paredes, ligações telefônicas com imagem e a obsolescência dos laser discs foram alguns dos acertos. O exagero das sequências em 2015 deixa tudo mais divertido.

Na trama, dirigida novamente por Robert Zemeckis, Marty McFly vai ao futuro para salvar sua família do colapso total, prevenindo o filho de ser preso ao se envolver em uma tramoia ilegal. Enquanto participa do plano bolado por Doc Brown, Marty compra um almanaque que revela os resultados de várias modalidades esportivas até o ano de 2000, pensando em fazer fortuna. A alegria dura pouco, pois Doc não permite que o amigo siga com esta ideia, já que a máquina do tempo não foi criada para ganhos monetários. Infelizmente, a versão idosa de Biff Tannen (Thomas F. Wilson) ouve a conversa e consegue pôr as mãos no Delorean e no almanaque. Sem saber do acontecido, Marty e o doutor retornam a 1985 apenas para descobrir que tudo está mudado. Biff é um sujeito rico e poderoso, a mãe de Marty, Loraine (Lea Thompson), está casada com o vilão, George McFly está morto e o doutor, internado. Agora, resta aos dois descobrir quando o velho Biff entregou o almanaque a sua versão mais jovem, voltar no tempo e consertar toda essa lambança.

Um dos pontos mais criativos desta continuação é o fato de revisitar o filme original, dando outra perspectiva a cenas que observamos anteriormente. Além de demonstrar o capricho da produção, que consegue recriar cenários e sequências em detalhes, temos uma rara oportunidade de conferir em outro ângulo momentos-chave do longa original, como o show de Marty McFly no baile Encanto Submarino, o embate entre Biff e George no estacionamento e, claro, a melhor cena de toda a trilogia, o raio atingindo a torre do relógio, única que é repetida nos três filmes.

Ainda que tenham tomado várias precauções para que a visita ao filme original fosse perfeita, a ausência de Claudia Wells como Jennifer Parker (substituída por Elisabeth Shue) e de Crispin Glover como George McFly (ora substituído por Jeffrey Weissman, ora aparecendo com imagens de arquivo) acabaram por minar o sucesso da tentativa. De qualquer forma, nada que estrague a diversão, sendo mais um detalhe perceptível para os fãs do que para o público em geral.

Com as diversas idas e vindas no tempo, e com a realidade alternativa de 1985, há quem diga que a trama de De Volta para o Futuro 2  é confusa demais. Mas Doc Brown está ali para explicar de forma bastante didática – com direito a lousa e desenhos – o que está acontecendo na trama. Nada que embaralhe o cérebro de ninguém. Incomoda bem mais as repetições de situações, brincadeiras inclusas no roteiro para dar um ar de familiaridade e que não precisavam estar ali. O melhor exemplo disso é a gag do sono, quando Marty acorda atordoado até que sua mãe o tranquiliza de que está tudo bem – quando na verdade, não está. Isso, e as atuações um pouco acima do tom, tiram alguns pontos preciosos do longa-metragem.

Michael J. Fox e Christopher Lloyd continuam ótimos em De Volta para o Futuro 2, conseguindo desenvolver seus personagens e a amizade entre eles. Doc Brown volta para o passado para avisar Marty de que sua família corre perigo, em uma prova viva do quanto este preza pela amizade do outro. Lloyd continua como o cicerone do público, explicando as passagens mais complicadas e colocando os pingos nos is em cada novo desenrolar da história. Já Michael J. Fox ganha mais espaço para brincar neste filme. Encarando personagens múltiplos, o ator interpreta até sua filha, em uma divertida sequência familiar.

Com efeitos visuais ainda melhores que o original e com ritmo de montanha russa, De Volta para o Futuro 2 é o clássico exemplar mais sombrio do meio de uma trilogia. Pode não ser tão bom quanto o original, mas possui muitas qualidades que o deixam muito próximo. O seu final é em aberto, com o desfecho das aventuras de Marty e Doc Brown acontecendo em De Volta para o Futuro 3 (1990), um insuspeito faroeste cômico. To be continued...

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista, produz e apresenta o programa de cinema Moviola, transmitido pela Rádio Unisinos FM 103.3. É também editor do blog Paradoxo.
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