Sinopse
Wade Wilson é um militar que se submete a uma experiência para tentar se salvar do câncer e acaba ganhando super-habilidades, mas quase morre no processo também. Dotado de seus novos poderes e de um senso de humor sinistro, o agora chamado Deadpool vai caçar os responsáveis por quase destruírem a sua vida.
Crítica
O personagem Deadpool não é nenhum novato em se falando de cinema. Tendo aparecido nas páginas dos quadrinhos da Marvel pela primeira vez em 1991, o anti-herói tagarela estreou na tela grande como coadjuvante de X-Men Origens: Wolverine (2009). Porém, ainda que nesta incursão inicial ele tenha sido apresentado totalmente descaracterizado – inclusive com a boca costurada, ou seja, sem sua maior característica, que é a língua afiada – o mesmo intérprete foi mantido agora no longa oficial dele como protagonista. Afinal, Deadpool é Ryan Reynolds. E Ryan Reynolds é Deadpool, numa simbiose tão perfeita entre criador e criatura que torna impossível a tarefa de imaginar qualquer outro ator no seu lugar.
Para quem não sabe, Deadpool na verdade se chama Wade Wilson, e é um ex-agente especial do exército norte-americano que levava a vida como mercenário até se apaixonar por Vanessa (a brasileira Morena Baccarin) e, logo depois, descobrir que sofria de um câncer terminal. Em uma tentativa desesperada de sobrevivência, aceita se submeter a uma experiência alternativa coordenada por Ajax (Ed Skrein, o ponto fraco do elenco), membro do programa Arma X – o mesma técnica responsável pela criação do Wolverine, por exemplo. Como resultado ele permanece vivo, porém desconfigurado e com uma nova e incrível habilidade de recuperação – se tornando, praticamente, imortal.
O filme dirigido pelo estreante Tim Miller é, portanto, não mais do que uma história de vingança, com seu personagem-título indo atrás do homem que, em tese, pode deixá-lo mais uma vez normal – possibilitando, assim, que retorne à sua amada, que segue acreditando na sua morte. E estaria tudo bem se fosse só isso – afinal, quantas histórias semelhantes bacanas já vimos antes? Mas o que torna esse projeto tão diferente não apenas de todos os demais da série X-Men como também de qualquer outro super-herói já levado às telas é, justamente, o seu protagonista. Acredite: você nunca viu um tipo como Deadpool antes.
Pra começar, Deadpool logo deixa claro que seu principal parceiro nessa jornada não é a namorada, o melhor amigo (T. J. Miller, do seriado Silicon Valley, 2014), o taxista que lhe pede conselhos amorosos (Karan Soni, de Goosebumps: Monstros e Arrepios, 2015) ou a senhora cega com quem divide um apartamento (Leslie Uggams, da minissérie Raízes, 1977). Com quem ele conta de verdade é você, o espectador. E essa quebra da quarta parede se dá de imediato, com ele se voltando à audiência a todo instante, seja para tiradas de alto teor satírico, deboches constantes ou pura zoação. Além disso, tira sarro da própria cara – seja do personagem ou do próprio ator! Há piadas sobre Reynolds ter sido eleito o homem mais sexy do mundo, sobre sua antiga aparição como o herói Lanterna Verde e tantas outras referências – de 127 Horas (2010) a X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014) – que é praticamente impossível ficar atento a todas. Ele pode estar sempre bem armado e com uma mira impecável, mas sua verdadeira metralhadora está na boca, que não fica fechada um só instante.
Mas o bom texto de nada adiantaria caso aquele que deve defendê-lo não estivesse completamente entregue – e este está da ponta dos pés ao último fio de cabelos. Ryan Reynolds nunca escondeu que desejava fazer um Deadpool totalmente fiel às histórias em quadrinhos, anárquico e proibido para menores. E é com grande felicidade que percebemos que ele atingiu seu intento, e com louvor. Ele não só remenda o embaraço anterior como entrega algo visceral, enérgico e envolvente do início ao fim, em uma performance leve e divertidíssima. O personagem pode ser muito melhor do que o filme, e isso não chega a ser vergonha alguma. Afinal, o sucesso de Deadpool está em quem ele é, e não numa ou noutra aventura. Imerso a um universo pop que somente os iniciados compreenderão por completo, tem-se uma adaptação perfeita – ainda que para um público bem específico.
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