20141114 debi e loide papo de cinema1

Crítica

Debi & Lóide deve ser um dos filmes mais subestimados da década de 1990. Claro que esta estreia dos irmãos cineastas Peter e Bobby Farrelly tem vários admiradores, mas é uma comédia que não parece ser referenciada como uma obra-prima, um clássico do gênero. No entanto, está mais do que na hora de dar o devido crédito a esse filme. Mesmo não sendo inovador e contando com um humor que pode soar idiota (ao menos à primeira vista), Debi & Lóide acaba representando uma experiência absolutamente hilária ao colocar o público em frente a duas figuras que não poderiam ser mais estúpidas.

Escrito pelos Farrelly em parceria com Bennett Yellin, Debi & Lóide acompanha as desventuras dos amigos fracassados Lloyd Christmas (Jim Carrey) e Harry Dunne (Jeff Daniels), que decidem atravessar o país até as montanhas gélidas de Aspen, no Colorado. O objetivo: devolver a maleta que Mary Swanson (Lauren Holly), mulher por quem Lloyd se apaixonou, teria esquecido no aeroporto antes de viajar. O que eles não sabem é que tal maleta deveria concluir uma transição entre Mary e alguns bandidos, que passam então a ficar no encalço da dupla ao longo de toda sua jornada.

Há comédias que disparam piadas para todos os lados e acertam muito pouco (ou até mesmo nada). Há outras que conseguem divertir, mas deixam algum espaço entre as risadas que causa. E há aquelas que fazem o espectador gargalhar constantemente durante sua história. Debi & Lóide se encaixa facilmente neste último tipo. Os irmãos Farrelly exploram com eficiência as personalidades de seus dois protagonistas em todas as sacadas do roteiro. Nisso, eles apostam em um humor que vai desde tiradas rápidas (a cena em que Lloyd comemora a chegada do homem à lua), passando por gags politicamente incorretas (como aquela envolvendo o periquito presenteado a um menino cego, uma das melhores do filme) e chegando ao ponto de brincar com informações que são de conhecimento do público, mas não dos personagens (o policial bebendo uma “cerveja”).

Mas Debi & Lóide não é admirável apenas por suas piadas inspiradas, pois do ponto de vista de estrutura ele é também exemplar, tendo um roteiro que não apresenta uma série de elementos secundários à toa. Em vários momentos, são inseridos no filme personagens e certas informações que inicialmente aparentam cumprir rapidamente sua função na narrativa, ou simplesmente não soam tão importantes. Mas quando voltam a ganhar atenção, não só pegam o espectador de surpresa, como também o fazem rir pela forma como são usados (as corujas que surgem em determinada cena são exemplo disso).

Só que o filme provavelmente perderia forças caso a dupla de protagonistas não fosse tão interessante. Por sorte, Jim Carrey (que na época fazia da comédia seu principal nicho e chegava estrelato absoluto com o sucesso de Ace Ventura e O Máskara, ambos de 1994) e Jeff Daniels (ator que sempre transitou bem entre vários gêneros) encarnam Lloyd e Harry com uma divertida ingenuidade, tendo ainda uma dinâmica excepcional e um carisma que nos faz simpatizar com eles rapidamente. A grande camaradagem entre os dois é a alma de Debi & Lóide, sendo curioso notar como se completam a sua própria maneira, como pode ser visto, por exemplo, quando um mostra não saber ler direito, fazendo o outro dizer o que está escrito em um jornal.

Quando uma comédia é realmente boa, tendemos a rir de suas piadas sempre que a revisitamos ao longo dos anos, não importa quantas vezes façamos isso. No caso de Debi & Lóide se passaram exatos 20 anos e o filme mesmo assim é capaz de causar ataques de risos como se o víssemos pela primeira vez. É outra prova de como ele é bem sucedido dentro de tudo o que almeja – como se ainda precisasse de mais uma evidência desse tipo.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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