Crítica
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Sinopse
As noções de moralidade e ética são colocadas em xeque no campo de batalha quando uma menina de nove anos entra sem querer numa zona de combate. Cabe a coronel Powell enfrentar os dilemas decorrentes desse engano.
Crítica
Há um diálogo na primeira temporada do seriado Modern Family (2009) em que um personagem, fã declarado de Meryl Streep, chega a afirmar que a atriz “seria capaz de interpretar qualquer personagem, até o Batman”! E se ninguém duvida disso, por outro lado são poucos os que fariam tal avaliação a respeito de qualquer astro ou estrela de Hollywood. Porém, uma das poucas que também se encaixaria nessa descrição, sem levantar suspeitas, com certeza é Helen Mirren. E ela dá mais uma prova disso em Decisão de Risco, thriller de guerra em que interpreta uma militar tática à espera de uma ordem que poderá mudar o curso da vida de milhares, e não apenas daqueles sob sua mira. E é justamente nessa diferença em que reside toda a discussão exposta em cena, tanto para o bem quanto para o mal.
Aparecendo como a protagonista que inicialmente havia sido imaginada com um intérprete masculino no lugar – tal mudança só foi providenciada após a vencedora do Oscar por A Rainha (2006) manifestar interesse pelo papel – Mirren é a coronel Katherine Powell, que há anos tem empregado todos os seus esforços para vigiar cidadãos britânicos envolvidos em atividades suspeitas de terrorismo internacional. Quando ela descobre que uma mulher que há um bom tempo vinha sendo observado está no Quênia e pronta a se envolver em uma atividade que poderá gerar danos irreparáveis e um sem número de mortes, parece ser o momento certo de agir. Munida de drones e espiões, tudo que precisa é de um comando afirmativo e o aperto de um botão. Com isso, será possível eliminar uma ameaça antes mesmo dela vir a se concretizar. Mas tal antecipação não terá nenhum dano colateral?
Há muito a ser discutido em Decisão de Risco, e é por isso que a personagem de Helen Mirren – convincente na medida certa, entregando uma atuação enérgica que lhe é característica, porém evitando qualquer estereótipo – não está sozinha em cena. Por um telefone está conectada com o general Frank Benson (Alan Rickman, em seu último trabalho antes de falecer, em janeiro de 2016), e em outro com o oficial Steve Watts (Aaron Paul, humanizando um tipo que poderia ser facilmente esquecível), o cabo norte-americano aliado nessa ação específica. Do primeiro, ela espera a aprovação da ordem de ataque. Ao segundo, ela transmitirá o que for decidido, contando com o aparato dele para atingir sua meta. Mas há muito mais gente envolvida – o Secretário de Defesa dos Estados Unidos, o Primeiro Ministro do Reino Unido, o agente infiltrado que de muito próximo observa a movimentação na casa que está sob a mira de todos. A concordância entre eles precisa ser sem ressalvas. E quando uma criança se aproxima do alvo a ser eliminado, configurando-se como possível vítima involuntária, a ordem dos valores parece se inverter.
Afinal, é válido um ataque que pode prevenir oitenta outras mortes, ainda que nesse processo uma inocente seja atingida? Qual a prioridade, o indivíduo garantido ou as oito dezenas possíveis (ou não)? Estruturado de forma bastante teatral, Decisão de Risco se passa quase que inteiramente nos mesmos cenários, do início ao fim, e nenhum dos seus protagonistas – Mirren, Rickman, Paul e até Barkhad Abdi, indicado ao Oscar por Capitão Phillips (2013), em seu primeiro trabalho após tal reconhecimento – chegam a contracenar um com o outro. Muito se discute, e pouco se age. É um filme de ideias, de análises e conflitos, mas de poucas ações. E essas, quando acontecem, revelam o lado frágil da trama, incorrendo em clichês (o que mata a menina do outro lado do mundo se preocupa em comprar uma boneca para a própria filha) e algumas passagens um tanto patéticas (uma intoxicação intestinal acaba servindo mais de distração do que de peso dramático) que terminam por esvaziar a seriedade da discussão até então perseguida. Assim, revela-se tão corajoso quanto seus personagens: cada decisão a ser tomada envolve tanta conversa que o momento acaba se perdendo, indicando mais boas ideias do que resultados concretos.
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Impecável interpretação de Helen Mirren, filme competente e assistível como,raramente, se vê nestes dias. o interessante é que dois fatos, que me deram toda a dimensão da fragilidade dos sentimentos humanos, misturados à tragicidade da guerra, vergonha da Humanidsde, o crítico os descarta como clichês: a escolha da boneca por parte do general para a filha e o mal estar do Ministro. Fatos que estão no espírito daqueles que matam apertando um botão. esses fatos, mostrados, vieram dizer a que veio o filme. E quanto ao dito sobre Meryl Streep, tenho minhas dúvidas sobre essa completude.