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Sinopse

Matt Murdock é um advogado cego que tem os demais sentidos funcionando de modo sobre-humano. Aproveitando-se deles, o defensor da lei se veste de Demolidor, um vigilante mascarado que lutará contra os piores bandidos.

Crítica

Certamente um dos personagens mais interessantes da Marvel, não foi surpresa alguma ver que o herói conhecido como “O Homem Sem Medo” também ganharia seu próprio filme – o que ocorreu em 2003 – após o sucesso que Blade, X-Men e Homem-Aranha vinham fazendo no cinema. No entanto, quando se assiste a Demolidor a impressão que fica é a de uma obra feita às pressas apenas para aproveitar o grande apelo que os heróis da editora passaram a ter nas telonas a partir do início da década passada. Não que se trate de um filme ruim, mas realmente fica abaixo das ótimas incursões cinematográficas que os quadrinhos estavam apresentando até então.

Escrito pelo diretor Mark Steven Johnson (que depois faria outro filme de um herói da Marvel, Motoqueiro Fantasma, 2007), Demolidor tem em seu centro o advogado Matt Murdock (Ben Affleck), que ficou cego quando criança após um acidente envolvendo materiais tóxicos e teve seu pai assassinado por não entregar uma luta de boxe, sendo que os responsáveis nunca foram presos. Tendo seus outros sentidos desenvolvidos de maneira sobre-humana como resultado da tragédia, Matt sente a responsabilidade de proteger os inocentes, fazendo justiça com as próprias mãos quando esta não é feita no tribunal. Assim, é advogado durante o dia e o vigilante Demolidor durante a noite. É quando se apaixona pela bela Elektra Natchios (Jennifer Garner) e se vê obrigado a enfrentar as forças do Rei do Crime (Michael Clarke Duncan) e do Mercenário (Colin Farrell) para protegê-la.

Trazendo logo no início um flashback com uma narração em off de Matt Murdock que explica todo o passado dele de forma rápida e bastante simplista (artifício que é quase abandonado após cumprir esse papel), o roteiro demonstra certa preguiça em desenvolver a história e os personagens com calma, com fome para ir direto à ação. E isso até poderia ser um pouco relevado caso o diretor caprichasse nas sequências em que o herói veste sua roupa e parte para o ataque contra os vilões, mas Johnson não impressiona muito nesse quesito, criando sequências visualmente confusas, apesar do bom ritmo. O cineasta dá a entender que seu sonho, na verdade, era comandar um filme do Homem-Aranha, já que constantemente traz o protagonista e outros personagens dando saltos que desafiam as leis da física, esquecendo-se que eles não têm grandes poderes que os tornem fortes para isso. Como se não bastasse, várias vezes vemos que bonecos computadorizados são usados em determinadas cenas, o que infelizmente tira muito da força do que é visto na tela.

Mas há coisas boas em Demolidor. É notável a atenção que Mark Steven Johnson dá às cicatrizes e ferimentos sofridos pelo herói, detalhes que o tornam uma figura mais humana e vulnerável. E como ele aparece enfrentando um submundo do crime em Nova York, a fotografia de Ericson Core acerta ao apostar em tons sombrios nas cenas à noite, passando eficientemente a ideia de que a violência toma conta da cidade nessa parte do dia. Além disso, o roteiro traz uma bela questão que põe em cheque a moral do próprio protagonista. Afinal, ao agir brutalmente como um verdadeiro carrasco dos criminosos que vê pelas ruas, ele não deixa de se tornar exatamente naquilo que acredita como um homem que devia estar atrás das grades. Sendo assim, a cena na qual percebe que um menino está com medo dele por vê-lo batendo em um bandido é um dos melhores momentos do filme (“Eu não sou o vilão, garoto”, ele afirma).

No elenco, Ben Affleck até se sai bem como Matt Murdock, emprestando carisma e ajudando o espectador a se aproximar do personagem. Ao mesmo tempo, Affleck tem uma boa química com Jennifer Garner, que faz de Elektra uma figura forte e cativante, e a primeira luta que os dois atores protagonizam é um momento de ação satisfatório do filme, ainda que os motivos para a briga no meio da rua sejam bobos demais. E se Jon Favreau (hoje conhecido como o diretor dos dois primeiros filmes do Homem de Ferro) pouco se destaca como Franklin “Foggy” Nelson, melhor amigo do protagonista e responsável pelo alívio cômico do projeto, Michael Clarke Duncan e Colin Farrell têm presenças interessantes como o Rei do Crime e o Mercenário. No entanto, é uma pena que estes sejam vilões que não ganham muito aprofundamento por parte do roteiro.

Demolidor certamente poderia ter rendido um filme melhor, caso tivesse sido realizado com mais de cuidado. Do jeito que ficou, tem-se uma aventura divertida, mas pouco memorável, e a decepção de boa parte do público praticamente matou as possibilidade de uma continuação. Mas esperemos que a série que a Marvel está preparando para o herói na Netflix (e que deve estrear no ano que vem) seja uma adaptação que realmente faça jus ao personagem.

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é crítico de cinema, formado em Produção Audiovisual na ULBRA, membro da SBBC (Sociedade Brasileira de Blogueiros Cinéfilos) e editor do blog Brazilian Movie Guy (www.brazilianmovieguy.blogspot.com.br). Cinema, livros, quadrinhos e séries tomam boa parte da sua rotina.
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