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Crítica

Se fosse um corpo, Dente por Dente exalaria violência pelos poros. O diretor sul-coreano Kim Ki-Duk, conhecido pelo uso da violência em suas obras (Pietà, 2012), segue em um projeto que faz da força não uma simples temática, mas um componente orgânico do seu pensamento cinematográfico.

Em seu novo filme, o título faz referência  à Lei de Talião ("olho por olho, dente por dente") e prepara o espectador para o que verá em tela. De início, temos o assassinato de uma jovem. O motivo da morte por asfixia não será revelada. Conheceremos apenas os rostos de cada um dos envolvidos na quadrilha. O diretor, que recorre com frequência aos planos fechados, fez do close um personagem. Na sequência após a morte, os rostos serão colocados em destaque, tanto para que a fisionomia nos marque, quanto para que possamos extrair dela a motivação do filme. Ou seja, Dente por Dente é um filme sobre a fisionomia da vingança e o seu ciclo interminável.

O roteiro resguarda ao máximo a trama. Quando percebemos que os assassinos da jovem são levados a tortura por um grupo de pessoas, pensamos tratar-se da polícia – em uma crítica substancial quanto a atuação desta – ou de uma quadrilha rival. A evolução nos leva a um movimento inesperado. Os torturadores são pessoas normais, que atingidas pela insegurança e injustiça resolvem agir por conta própria. A vingança, fácil de ser imaginada e difícil de ser concebida, torna-se, então, divergência entre os revoltados.

Qual é o limite da vingança? O que Kim Ki-Duk faz em Dente por Dente é mostrar – ou especular – o risco de responder na mesma moeda. O líder do grupo de torturadores surge como via radical. Para ele, a vingança somente repousa na vingança. Qualquer ato menor não apenas pune superficialmente o culpado como deixa de inibir a repetição do ato. Contudo, a postura esconde que a repetição se dá no instante da vingança, recolocando, por assim dizer, o mal em curso em um movimento interminável.

De forma secundária, mas não menos interessante, Dente por Dente expõe a violência como fruto da sociedade na figura do estudante sul-coreano desempregado, que mesmo com ótima formação e fluente em línguas, encontra o horizonte estreito. Depois das exigências pelas quais passou, não encontrar a recompensa prometida causa uma revolta inevitável. O problema faz de uma situação pontual da Coréia do Sul mais um elemento na antropologia da violência do filme. O longa investiga, ainda, a relação do homem com a culpa, em especial no terceiro ato, quando vemos o líder dos torturadores no topo do monte, angustiado pelos atos cometidos. Se a culpa por um equívoco pode ser demasiada, o que dizer da culpa por um ato que lhe apareceu como necessário.

Em meio a tantas teses, Dente por Dente sente a instabilidade por diversas vezes. Apesar de trazer o tema de forma bastante interessante, o encaminhamento para o desfecho não avança suave, mas com passagens desnecessárias a retardar o desfecho. Caso houvesse apostado no menos – algo que Kim Ki-Duk parece ter dificuldade em realizar – conseguiria ser mais potente usando de pouca força.

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