Crítica
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Sinopse
Apesar da amizade que os une, Ney e Marcos se distanciam porque amam a mesma mulher. Anos mais tarde, depois de retomar contato, descobrem que a apaixonante Bebel está em coma, circunstância que promove o reencontro.
Crítica
Após estrear no cinema – e na literatura – com sua obra autobiográfica Feliz Ano Velho (1987), o escritor e roteirista Marcelo Rubens Paiva ficou anos afastado da tela grande, preferindo se concentrar em sua produção literária e teatral. O jejum só foi rompido mais de duas décadas depois, com a comédia romântica Malu de Bicicleta (2010), também baseada num livro do autor. Deste bem sucedido trabalho ficou a retomada da parceria com o ator Marcelo Serrado, que vinha dos palcos desde 2003, com a peça No Retrovisor, e que se repete agora na adaptação cinematográfica desta, que ganhou o infeliz título Depois de Tudo. Nome genérico demais para uma obra que, pelo contrário, se revela bastante sensível e singular.
Bebel deu entrada no hospital, após uma tentativa de suicídio. O contato de pessoa mais próxima é Marcos, a quem não vê há quase vinte anos. Desconhecendo o fato, é a ele que os enfermeiros recorrem. Sem coragem de ir sozinho ao reencontro da antiga companheira, ele decide procurar um antigo amigo dos dois, Ney. As duas décadas que separam este momento estranho da época em que os três eram inseparáveis foram tão duras quanto necessárias. Agora, ainda que algumas feridas permaneçam abertas, é possível para eles conversar de frente sobre o que aconteceu. Não assim, de imediato, de peito aberto. Será preciso pegar o jeito de novo, lembrar aos poucos como tudo se deu, como acabaram se afastando e o que de tão grave pode ter se metido de forma tão permanente entre eles. Esse processo de olhar para trás e descobrir como seguir em frente será dolorido, mas juntos talvez consigam sair dessa melhores do que estiveram durante todo esse tempo afastados.
Ney (a revelação Rômulo Estrela, de presença hipnotizante) e Marcos (César Cardadeiro, visto ainda criança em filmes como Divã, 2009) são melhores amigos. Eles estão juntos para viverem o melhor dos anos 1980, descobrindo o rock, as drogas, as mulheres. Uma amizade forte o suficiente para não se abalar quando Bebel (a versátil Maria Casadevall), uma garota bela e despojada, se muda para o apartamento ao lado do deles. De vizinha, logo vira namorada de Marcos, ao mesmo tempo em que não deixa passar desapercebido um interesse cada vez maior por Ney. Assim, a pretensa confiança na relação que se estabelece entre eles aos poucos começa a se desmanchar. Um triângulo amoroso vai se formar, meio que por acaso. E, quando se tornar concreto, as consequências serão ~ quase ~ irremediáveis.
Além do desempenho convincente do elenco jovem, é preciso destacar ainda o bom entrosamento de Serrado (Ney, já adulto) e Otávio Müller (Marcos, também quando mais velho). Os dois viviam os mesmo personagens no teatro, e agora desempenham suas funções com tranquilidade e muita segurança. São momentos como o que revelam uma desajeitada curiosidade sobre a vida do outro ou quando decidem irem juntos a uma festa, tantos anos depois, que se percebe melhor a forte química que possuem. Mérito, também, o diretor Johnny Araújo, que após o problemático O Magnata (2007) volta à cena com um trabalho mais maduro, menos ambicioso, porém de resultados mais impressionantes. Os diálogos, construídos com tranquilidade e precisão pelo roteirista e pelos atores, são fundamentais para ajudar o espectador a entrar na história destes dois, mantendo o interesse tanto pelos garotos que tanto tinha a realizar quanto pelos homens que muito deixaram pelo caminho, mas ainda dispostos a um novo passo juntos (ou quase isso).
Araújo e Rubens Paiva são simpáticos com a trama que criam, com os personagens que por ela transitam e conosco, no lado de cá da audiência, que vamos nos envolvendo gradativamente com os desenlaces entre eles. Até o último instante ficamos instigados e curiosos pelo que pode ter acontecido com eles, como podem ter se separado e na torcida para que encontrem um jeito de superar essas mágoas e, assim, retomem do ponto onde tudo foi deixado em suspenso. Algo que, obviamente, não será fácil – afinal, hoje Ney está cego e se tornou uma celebridade como cantor de músicas bregas, enquanto que Marcos é um bancário frustrado, que abandonou seus sonhos em nome de uma vida que ficou pela metade. Assim, com um texto envolvente, intérpretes no domínio dos tipos que defendem e uma direção segura, Depois de Tudo se revela uma das boas surpresas nacionais dessa temporada, exemplo que envolve tanto pelo conjunto quanto pelos méritos individuais.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 8 |
Ailton Monteiro | 6 |
Alysson Oliveira | 4 |
MÉDIA | 6 |
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