Crítica
Leitores
Sinopse
Crítica
A história é global, pode ser conferida em qualquer canto. Um jovem casal se apaixona, se descuida e gera uma criança. Quase sempre, os contextos ditarão o futuro do bebê. Em Derrapada, o pano de fundo dessa complexa decisão conta com manobras de skate, política na juventude e outros diversos temas que farão os nascidos depois de 2000 se identificarem. Mas o maior acerto da empreitada está na não-fixação da trama a uma época específica, mas sim numa espécie de “maldição” atemporal. Situação esta que pode ser encarada como uma multifacetada sinfonia, com momentos tensos e agradáveis, ou uma manobra radical que pode, ou não, dar certo.
Samuca (Matheus Costa) é um aspirante a skatista, bastante imaturo e filho de Melina (Nanda Costa), que o concebeu ainda com pouca idade junto a David (Augusto Madeira), um pai descuidado. Melina vive das receitas que faz e preza por uma educação de rédeas moderadas, para que o garoto não absorva tantas responsabilidades e aproveite a juventude que ela não teve. Já Alicia (Heslaine Vieira) é uma garota um tanto mais madura e politizada, embora ainda sem grandes projetos de carreira. Ela é filha dos exigentes Andrea (Jussara Mathias) e Roberto (Luis Miranda), casal negro que, apesar do racismo estrutural brasileiro, ascendeu profissionalmente e lhe concede uma vida confortável. A trajetória desses jovens de 17 anos, se cruza durante a Mobilização Estudantil de 2016. Em meio às manifestações, se apaixonam. É aí que surge a “derrapada” de ambos que, entre uma e outra relação, acabam engravidando.
Com essa conjuntura em mãos, o diretor Pedro Amorim - responsável por comédias (Mato Sem Cachorro, 2013) e dramas (Segunda Chamada, 2021) - comanda um enredo com objetivos claros, sem suavização. Num tom de “embala que o filho é teu”, a produção se desenrola como uma espécie de panfleto, mas arejado e sem melancolia, com um escalonamento de aprendizados. Num primeiro momento, Samuca desperta a antipatia do espectador. Não seria para menos, pois foge da condição para tentar quebrar a tal “condenação” que acomete a sua família há gerações: terem descendentes antes do previsto. É óbvio que nada pode ser feito, uma vez que não existe sobrenaturalidade genuína. Há apenas a mente fértil de um menino pueril. Como de costume, refletindo a realidade problemática da sociedade, é a garota que precisa puxá-lo para fora do fantasioso, apontando o dedo e o indagando se ele será “mais um moleque que deixa a criança para a mãe criar sozinha?”. Os dois aceitam a aventura que se avizinha e, mesmo com amor de todos os lados, a tribulação se estabelece. Aliás, não sairá nunca mais, já que essa é a consequência do descuido.
Essa fraternidade que, ao menos, ameniza o ambiente é encontrada nos coadjuvantes de luxo, que alavancam as atuações ainda novatas de Matheus e Heslaine. Nanda é a mãe zelosa e descontraída, capaz de dar consistência a qualquer cena, equilibrando momentos sisudo e descontraídos. Ela ganha ainda mais contornos quando conhece Marcos (Felipe Rocha), carismático, e contemporâneo, professor dos protagonistas. Miranda, por sua vez, se entrega a um papel que não está tão acostumado. De personalidade mais séria, constrói uma interessante divisão emocional, contrapondo diversas questões familiares.
Ainda que haja caminhos apontados e subdesenvolvidos no roteiro de Izabella Faya, Ana Pacheco e Amorim, como uma segunda gravidez na trama, eles não arrastam Derrapada a ponto de deixá-lo desconfortável. É um vai e vem. E o espectador provavelmente notará isso. Cenários desfavoráveis são mostrados, mas não anulam os animadores. E nessa balança de emoções, é atraente reverenciar as palavras ditas por Samuca já com seu primogênito dando os primeiros passos: “olhando assim, até parece um final feliz, não é mesmo?”. Elas exemplificam bem a jornada profunda na qual o rapaz se meteu. Tão complexa quanto a faixa musical mais imponente do longa: “Inverno”, segmento considerado o mais nebuloso do concerto As Quatro Estações, de Antonio Vivaldi. Ou, por quê não?, do audacioso salto com skate de Bob Burnquist no Grand Canyon.
Últimos artigos deVictor Hugo Furtado (Ver Tudo)
- Sting: Aranha Assassina :: Tudo o que sabemos até o momento sobre o filme - 1 de novembro de 2024
- Segundas Intenções :: Série ganha trailer e data de estreia no streaming - 1 de novembro de 2024
- Pé no Chão :: Começam as filmagens do novo filme com Ingrid Guimarães - 1 de novembro de 2024
Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Victor Hugo Furtado | 7 |
Robledo Milani | 7 |
Alysson Oliveira | 6 |
MÉDIA | 6.7 |
Deixe um comentário