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Sinopse

Aos 17 anos, o skatista Samuca descobre que sua namorada está grávida. Ele sofre o golpe da novidade e teme repetir o caminho tortuoso que sua mãe encarou ao engravidar dele na adolescência.

Crítica

A história é global, pode ser conferida em qualquer canto. Um jovem casal se apaixona, se descuida e gera uma criança. Quase sempre, os contextos ditarão o futuro do bebê. Em Derrapada, o pano de fundo dessa complexa decisão conta com manobras de skate, política na juventude e outros diversos temas que farão os nascidos depois de 2000 se identificarem. Mas o maior acerto da empreitada está na não-fixação da trama a uma época específica, mas sim numa espécie de “maldição” atemporal. Situação esta que pode ser encarada como uma multifacetada sinfonia, com momentos tensos e agradáveis, ou uma manobra radical que pode, ou não, dar certo.

Samuca (Matheus Costa) é um aspirante a skatista, bastante imaturo e filho de Melina (Nanda Costa), que o concebeu ainda com pouca idade junto a David (Augusto Madeira), um pai descuidado. Melina vive das receitas que faz e preza por uma educação de rédeas moderadas, para que o garoto não absorva tantas responsabilidades e aproveite a juventude que ela não teve. Já Alicia (Heslaine Vieira) é uma garota um tanto mais madura e politizada, embora ainda sem grandes projetos de carreira. Ela é filha dos exigentes Andrea (Jussara Mathias) e Roberto (Luis Miranda), casal negro que, apesar do racismo estrutural brasileiro, ascendeu profissionalmente e lhe concede uma vida confortável. A trajetória desses jovens de 17 anos, se cruza durante a Mobilização Estudantil de 2016. Em meio às manifestações, se apaixonam. É aí que surge a “derrapada” de ambos que, entre uma e outra relação, acabam engravidando.

Com essa conjuntura em mãos, o diretor Pedro Amorim - responsável por comédias (Mato Sem Cachorro, 2013) e dramas (Segunda Chamada, 2021) - comanda um enredo com objetivos claros, sem suavização. Num tom de “embala que o filho é teu”, a produção se desenrola como uma espécie de panfleto, mas arejado e sem melancolia, com um escalonamento de aprendizados. Num primeiro momento, Samuca desperta a antipatia do espectador. Não seria para menos, pois foge da condição para tentar quebrar a tal “condenação” que acomete a sua família há gerações: terem descendentes antes do previsto. É óbvio que nada pode ser feito, uma vez que não existe sobrenaturalidade genuína. Há apenas a mente fértil de um menino pueril. Como de costume, refletindo a realidade problemática da sociedade, é a garota que precisa puxá-lo para fora do fantasioso, apontando o dedo e o indagando se ele será “mais um moleque que deixa a criança para a mãe criar sozinha?”. Os dois aceitam a aventura que se avizinha e, mesmo com amor de todos os lados, a tribulação se estabelece. Aliás, não sairá nunca mais, já que essa é a consequência do descuido.

Essa fraternidade que, ao menos, ameniza o ambiente é encontrada nos coadjuvantes de luxo, que alavancam as atuações ainda novatas de Matheus e Heslaine. Nanda é a mãe zelosa e descontraída, capaz de dar consistência a qualquer cena, equilibrando momentos sisudo e descontraídos. Ela ganha ainda mais contornos quando conhece Marcos (Felipe Rocha), carismático, e contemporâneo, professor dos protagonistas. Miranda, por sua vez, se entrega a um papel que não está tão acostumado. De personalidade mais séria, constrói uma interessante divisão emocional, contrapondo diversas questões familiares.

Ainda que haja caminhos apontados e subdesenvolvidos no roteiro de Izabella Faya, Ana Pacheco e Amorim, como uma segunda gravidez na trama, eles não arrastam Derrapada a ponto de deixá-lo desconfortável. É um vai e vem. E o espectador provavelmente notará isso. Cenários desfavoráveis são mostrados, mas não anulam os animadores. E nessa balança de emoções, é atraente reverenciar as palavras ditas por Samuca já com seu primogênito dando os primeiros passos: “olhando assim, até parece um final feliz, não é mesmo?”. Elas exemplificam bem a jornada profunda na qual o rapaz se meteu. Tão complexa quanto a faixa musical mais imponente do longa: “Inverno”, segmento considerado o mais nebuloso do concerto As Quatro Estações, de Antonio Vivaldi. Ou, por quê não?, do audacioso salto com skate de Bob Burnquist no Grand Canyon.

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Fanático por cinema e futebol, é formado em Comunicação Social/Jornalismo pela Universidade Feevale. Atua como editor e crítico do Papo de Cinema. Já colaborou com rádios, TVs e revistas como colunista/comentarista de assuntos relacionados à sétima arte e integrou diversos júris em festivais de cinema. Também é membro da ACCIRS: Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul e idealizador do Podcast Papo de Cinema. CONTATO: [email protected]
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