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Sinopse

Fast Eddie Felson é um brilhante jogador de sinuca, mas com um comportamento absolutamente destrutivo. Sua desmedida ambição faz com que ele desafie o lendário Minnesota Fats.

Crítica

As primeiras cenas sugerem algo bastante simples. Dupla de vendedores para em um bar no caminho para descansarem um pouco antes de seguirem rumo a uma feira de negócios. Como estão adiantados, decidem jogar uma ou duas partidas de sinuca. Cinco minutos depois, o mais jovem está envolvido em uma aposta justamente com o dono do local, e valendo o dobro de tudo que havia ganho até aquele momento. Logo em seguida, o vemos voltando para o carro com a carteira muito mais recheada do que antes. O que foi visto, portanto, foi um bem executado golpe de vigaristas, do tipo que povoarão toda a ação de Desafio à Corrupção, drama esportivo indicado a 9 Oscars em 1962 e premiado em duas categorias: Fotografia em Preto e Branco – para o belo e refinado trabalho de Eugen Schüfftan – e Direção de Arte em Preto e Branco – superando o inesquecível A Doce Vida (1961), de Federico Fellini, que concorreu na mesma ocasião.

Quando o termo “corrupção” é mencionado em qualquer conversa corriqueira do dia a dia, o mais comum é associá-lo à situações políticas, profissionais ou empresariais. Nada, no entanto, que se relacione com o visto nesta história sobre um jogador compulsivo, porém viciado em perder. ‘Fast’ Eddie Felson talvez seja a criação mais marcante de toda a carreira de Paul Newman, tendo o próprio astro a revisitado mais de vinte anos depois em A Cor do Dinheiro (1986), de Martin Scorsese – trabalho esse que, finalmente, lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator. Mas não teria sido um absurdo se esse prêmio tivesse chegado muito tempo antes, justamente por este desempenho arrebatador de um homem bom demais no jogo para sua própria sorte, cujo único defeito é não saber quando parar – o que, eventualmente, determina sua consequente derrocada.

Aliás, é o elenco de Desafio à Corrupção – o título nacional é estranho, porém não de todo equivocado – que segura essa trama de mais de duas horas de duração. Além de Newman no auge do seu estrelato – confiante, garboso e ousado na medida certa que o personagem exige – temos ainda três talentos superlativos – todos igualmente indicados ao Oscar naquele ano. O mais marcante é George C. Scott, que oferece um viés dramático e aterrorizante ao apostador veterano que terá participação determinante na vida de ‘Fast’ Eddie. Outra presença de destaque é a de Piper Laurie, compondo o par romântico que gera mais motivos de dores de cabeça e perturbações do que de alegrias e prazeres ao protagonista. Sua fala é pesada, cada gesto possui uma intensidade reveladora, e seu final é anunciado mas, ainda assim, surpreendente. Por fim, numa incrível demonstração de talento e popularidade, há Jackie Gleason, um astro da televisão da época que, mesmo com menos de 20 minutos em cena e poucas falas, compõe uma participação hipnótica e eletrizante.

Baseado no romance homônimo, combinado com um conto de autoria do diretor e roteirista Robert Rossen (A Grande Ilusão, 1949), Desafio à Corrupção foi um incrível sucesso de público e de crítica. Responsável por uma febre que levou milhares de espectadores a redescobrirem o bilhar como esporte, teve participação fundamental ainda em resgatar do ostracismo seu realizador, uma das tantas vítimas do macarthismo que perseguiu nos anos 1950 artistas ligados ao comunismo nos Estados Unidos. Porém, mais do que isso, este é um filme sobre humildade e redenção. Somos apresentados a um tipo no domínio de sua excelência que, somente quando aprende a lidar com seus pecados, é que consegue alcançar o seu melhor. Muitas serão as vítimas que ficarão pelo caminho durante esta caminhada, mas poucas passarão por uma experiência tão transformadora quanto essa possível de ser presenciada em ambos os lados da tela. Um clássico que permanece em alta mais de cinquenta anos após o seu lançamento.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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